
Maicol alega que admitiu o homicídio porque os policiais o pressionaram dizendo que iriam prender também seus familiares. Gravação foi feita por advogados de Maicol Santos dois dias após confissão em vídeo na delegacia de Cajamar. Defesa analisa usar áudio para pedir anulação do interrogatório já que não participou dele. Pasta da Segurança alega que depoimento de suspeito foi legal. Maicol Santos confessou ter matado Vitoria Sousa. Defesa dele quer pedir anulação do interrogatório por dizer que cliente foi coagido a confessar
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Maicol Santos, que está preso e foi filmado pela Polícia Civil confessando ter assassinado Vitória Sousa com facadas, é ouvido em áudio produzido por sua defesa, dois dias após o interrogatório. Neste áudio, ele acusa um delegado de tê-lo coagido a confessar o crime em Cajamar, na Grande São Paulo.
A equipe de reportagem teve acesso a cerca de 2 minutos da nova gravação realizada por seus advogados, que analisam a possibilidade de usar o áudio para pedir à Justiça a anulação da confissão, já que também não participou dela. O tempo total do áudio é de aproximadamente dez minutos.
A Comissão de Direitos e Prerrogativas da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil) informou que esteve na delegacia de Cajamar depois de ser acionada pelos advogados do caso, que relataram dificuldades de acesso ao preso e aos autos do inquérito policial.
“A OAB SP esclarece que o papel cumprido pela Comissão foi exclusivamente para garantir o respeito às prerrogativas dos advogados, reforçando seu compromisso na defesa dos direitos dos advogados e advogadas em sempre atender seu cliente. Quaisquer informações adicionais sobre o caso não competem à Comissão”, afirmou a instituição.
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou, por meio de nota, que o depoimento de Maicol foi legal (veja nota abaixo). A polícia gravou a confissão do suspeito em vídeo na presença de uma advogada chamada pelos policiais.
Quando confessou o crime, ele falou que matou a vítima porque ela queria contar a esposa dele que os dois haviam tido um caso no passado. Disse ainda que agiu sozinho.
Mas no áudio feito por sua defesa, Maicol alega que admitiu o homicídio porque os policiais o pressionaram dizendo que iriam prender também seus familiares. Veja abaixo trechos do que ele falou:
“Por volta de 10h [22h], eles me chamaram lá em cima, na sala lá em cima e falaram que ia, que o delegado ia me f*… de qualquer jeito. De qualquer jeito ele ia me f*. Aí pegou, falou que ia colocar a minha mãe, falou que ia… colocasse minha mãe.. o… a, na cena do crime. Falou que ia colocar minha esposa, ia colocar minha família toda, se eu não ajudasse, se eu não cooperasse, ele ia colocar minha família toda. Aí eu peguei e inventei uma história e falei que fui eu para eles me livrar, livrar minha família”, diz Maicol na gravação.
Segundo o advogado Flávio Ubirajara, além dele, os advogados Arthur Novaes e Vitor Aurélio, que fazem a defesa de Maicol, e mais três outros membros de prerrogativas da Ordem dos Advogados (OAB).
Na conversa gravada com os advogados, Maicol diz não saber o nome do delegado que o coagiu a confessar o homicídio de Vitória. “Só quis livrar a minha família porque eles falaram…”
De acordo com a defesa, a gravação da conversa com Maicol foi feita momentos antes de ele ser transferido da cadeia da delegacia de Cajamar para uma unidade prisional em Guarulhos, também na região metropolitana. “Maicol alega sofrer pressão para confessar esse fato”, disse Ubirajara.
Perguntado se o seu cliente deu outra versão para o crime ou se alegou não ter matado Vitória, o advogado respondeu que cabe à polícia responder essa questão. “Não compete a defesa dizer que é o cliente é culpado ou inocente”.
Por meio de nota, a defesa alega que o cliente foi coagido a confessar o crime. Segundo ela Maicol sofreu “coação psicológica”.
Perícia psiquiátrica
Vitoria Sousa, de 17 anos, desapareceu após sair de shopping e pegar ônibus para casa em Cajamar. Grande São Paulo. Polícia analisa câmera de segurança que a gravou pela última vez e faz buscas para tentar localizá-la
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Os advogados de Maicol informaram ainda que entraram com um pedido na Justiça contra a decisão da polícia de querer fazer uma perícia psiquiátrica no preso. Ainda não há uma decisão judicial a esse respeito.
No comunicado à imprensa, a defesa informou que “questiona, veementemente, a conduta adotada pelo delegado responsável pelo caso, que, sem ordem judicial, agendou a realização de uma perícia psiquiátrica”. Não há confirmação se a análise psiquiátrica foi feita.
De acordo com os advogados do suspeito, a medida desrespeita a lei e sua realização é “ilegal e arbitrária”. No entendimento deles, a decisão de se realizar uma perícia psiquiátrica em Maicol tem o objetivo de validar a “suposta confissão” que seu cliente deu aos policiais.
Por meio de nota, a pasta da Segurança informou que a investigação policial seguiu o que determina a lei e que também irá realizar a reprodução simulada do caso Vitória:
“A Polícia Civil solicitou ao IML [Instituto Médico Legal] a reconstituição do crime para esclarecer todas as circunstâncias em que ele ocorreu. O principal suspeito segue preso temporariamente após confessar a autoria do homicídio e as investigações prosseguem pela Delegacia de Cajamar para a conclusão do inquérito policial. A Polícia Civil ressalta que todos os procedimentos adotados no caso, inclusive o depoimento do suspeito, obedeceram estritamente o Código de Processo Penal.”
Vídeos mostram confissão
Caso Vitória: os vídeos da confissão do principal suspeito de matar a jovem
Nesta semana, a polícia chegou a divulgar à imprensa trechos de vídeos do interrogatório no qual Maicol confessou ter matado Vitória. Pelas imagens não é possível informar se o suspeito foi coagido a confessar. O Fantástico teve acesso a mais gravações da confissão (veja vídeo acima).
A vítima tinha 17 anos e foi morta na madrugada de 27 de fevereiro, depois de deixar o trabalho num shopping e voltar de ônibus para casa. Câmeras de segurança gravaram o momento em que ela entra no coletivo (veja vídeo abaixo). Seu corpo foi encontrado nu em 5 de março numa área de mata. Tinha cortes no rosto, pescoço e tórax.
Segundo a polícia, Maicol assassinou Vitória porque, de acordo com o suspeito, ela ameaçava contar à esposa dele que os dois haviam tido um relacionamento há cerca de um ano.
De acordo com a investigação, como o operador de empilhadeira não queria que a mulher soubesse de sua infidelidade, foi ao encontro da adolescente para conversar. E deu carona para ela em seu carro assim que a garota desceu no ponto a caminho de casa. No trajeto, os dois discutiram e ele alegou que Vitória o agrediu e por isso a esfaqueou.
“Comecei a conversar com ela, que não era pra ela falar com a minha esposa, Nisso, ela se alterou e começou a brigar”, disse Maicol no vídeo. “Começou a me agredir. E foi a hora que eu reagi. Sempre andei com uma faca no carro. Aí, no momento da exaltação, eu acabei desferindo um golpes no pescoço dela. Foram só dois golpes”.
Preso diz que agiu sozinho
Polícia faz buscas por jovem que desapareceu após ser seguida em Cajamar, na Grande SP
Maicol disse ainda na confissão que agiu sozinho. E que ficou desesperado e, após ficar com ela na casa dele, decidiu enterrá-la na mata. Ambos moravam próximos num bairro na zona rural de Cajamar.
A perícia não identificou sinais de violência no automóvel de Maicol, que foi apreendido. Dentro dele foram encontrados uma mancha, que seria de sangue, e um fio de cabelo. Os materiais passarão por exames para saber se são de Vitória.
Outros pontos que divergem da confissão de Maicol com o que a perícia encontrou se refere ao número de facadas em Vitória. Ele disse ter dado dois golpes e a vítima morreu com três ferimentos. E também ao fato de que apesar de o suspeito ter admitido que enterrou Vitória, o corpo dela foi encontrado numa cova rasa, sem estar coberto por terra. Ela não sofreu violência sexual.
Ainda a respeito da confissão que o suspeito deu, sua defesa alega que ela foi dada sem a presença de seus advogados. A polícia rebateu essa afirmação, informando que, pela lei, se um suspeito quer confessar um crime, quem o defende não pode impedir isso.
E para que o interrogatório dele fosse dado, a própria delegacia chamou uma advogada da OAB em Cajamar para acompanhar a sua confissão.
“A suposta confissão de Maicol, que, por si só, já está cercada de graves irregularidades. A ausência de advogados constituídos no ato, e a realização de oitiva durante o período de repouso noturno”, informa nota do escritório dos advogados do suspeito.
Especialistas ouvidos pelo g1 explicaram que a confissão extrajudicial — na delegacia, por exemplo — pode até ser feita sem a presença de um advogado constituído. No entanto, para que seja válida, ela deve acontecer de forma espontânea e voluntária, sem coação ou induzimento de terceiros.
Família suspeita de mais envolvidos
Caso Vitória: investigações indicam que jovem assassinada pode ter sido vítima de um stalker
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Familiares e amigos de Vitória ouvidos pela equipe de reportagem acreditam que Maicol tem participação no assassinato da adolescente. Mas acham que ele teve a ajuda de outras pessoas.
A vítima chegou a trocar mensagens e áudios por WhatsApp com uma amiga, contando que estava com medo. Alegou que dois rapazes num ponto a olhavam de maneira estranha e depois homens num carro a assediaram.
Neste domingo (23) parentes e quem a conhecia fizeram um ato em Cajamar para pedir “justiça” em relação ao caso.
Para a polícia, no entanto, o caso está esclarecido, com o único autor identificado e a motivação do crime conhecida. Segundo a investigação, Maicol se comportava como um ‘stalker’ (alguém que persegue e monitora a vítima obsessivamente).
“À noite, ele quis confessar o crime. Nesse impasse, os advogados dele foram embora”, afirmou o delegado Luiz Carlos do Carmo, diretor da Polícia Civil na Grande SP.