Três pessoas morreram e duas seguem hospitalizadas após comer bolo no Litoral Norte do RS. Exames apontaram presença de arsênio, substância extremamente tóxica, no sangue de sobreviventes e de uma das vítimas. Exames identificam arsênio no sangue de pessoas que comeram bolo
Três pessoas morreram e duas estão hospitalizadas após comer um bolo em Torres, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Os resultados das primeiras análises laboratoriais, coletadas pelo Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, indicaram presença de arsênio no sangue de uma das vítimas e dos dois sobreviventes. A substância é extremamente tóxica e pode levar à morte.
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As pessoas que morreram foram identificadas como Neuza Denize Silva dos Anjos, Tatiana Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva. A mulher que fez o bolo e um menino de 10 anos seguem internados e estão “clinicamente estáveis”, conforme boletim médico divulgado na manhã desta sexta-feira (27). Os nomes deles não foram divulgados oficialmente. Entenda abaixo quem é quem no caso.
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Bolo que teria causado envenenamento ou intoxicação
Divulgação/Polícia Civil
Quem é quem
Arte mostra quem são as pessoas que comeram bolo em Torres
Reprodução/ RBS TV
De acordo com a Polícia Civil, sete pessoas da mesma família estavam reunidas em uma casa, durante um café da tarde, quando começaram a passar mal. Apenas uma das pessoas não teria comido o bolo. As pessoas que comeram o bolo são três irmãs, além do marido de uma delas e da filha e do neto de outra. A sétima pessoa é o marido da outra irmã – ele não comeu o bolo.
Vítimas
Maida Berenice Flores da Silva
Identificada como “irmã 2”, tinha 58 anos. Maida estava entre as duas primeiras pessoas que tiveram a morte confirmada, entre a noite de segunda-feira (23) e a madrugada de terça, logo após ser internada no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes de Torres.
De acordo com o boletim médico, a causa da morte foi parada cardiorrespiratória. Ela foi sepultada na tarde desta quarta-feira (25), em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Segundo Denise Teixeira Gomes, amiga de Maida, ela era “uma pessoa jovem, alegre. Eles viajavam muito, felizes, eram pessoas solidárias”.
Neuza Denize Silva dos Anjos
Identificada como “irmã 3”, tinha 65 anos e é mãe de Tatiana dos Anjos, que também morreu, e avó do menino de 10 anos que segue internado. Ela foi a terceira pessoa a morrer, na noite de terça-feira (24), depois de passar um dia internada no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes de Torres.
De acordo com o boletim médico, a causa da morte foi “choque pós intoxicação alimentar”. Ela foi sepultada nesta quinta-feira (26) em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Exames laboratoriais apontaram a presença de arsênio no sangue de Neuza e das duas pessoas hospitalizadas.
Tatiana Denize Silva dos Anjos
Filha de Neuza, tinha 43 anos. Ela estava entre as duas primeiras pessoas que tiveram a morte confirmada, entre a noite de segunda-feira (23) e a madrugada de terça, logo após ser internada no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes de Torres.
De acordo com o boletim médico, a causa da morte foi parada cardiorrespiratória. Ela foi sepultada na tarde de quarta-feira (25), em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Fachada de cemitério onde estão mulheres que morreram após comer bolo
Carolina Aguaidas/RBS TV
Hospitalizados
Mulher que fez o bolo
Identificada como “irmã 1”, não teve o nome divulgado oficialmente. Ela segue internada no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes de Torres.
De acordo com o boletim médico divulgado na manhã desta sexta-feira (27), a mulher teve melhora no estado de saúde e está “clinicamente estável”. Segundo a investigação da Polícia Civil, ela foi a única pessoa da casa a comer duas fatias.
Exames laboratoriais apontaram a presença de arsênio no sangue da mulher, do menino hospitalizado e de Neuza, que morreu. A maior concentração do veneno foi encontrada no sangue da mulher que fez o bolo. A polícia apura as hipóteses de envenenamento ou intoxicação alimentar.
Menino de 10 anos
Também segue hospitalizado um menino de 10 anos, que também não teve a identidade divulgada oficialmente. Ele é filho de Tatiana e neto de Neuza. De acordo com o boletim médico divulgado na manhã desta sexta-feira (27), ele teve melhora no estado de saúde e está “clinicamente estável”. Exames laboratoriais apontaram a presença de arsênio no sangue dele.
Hospital Nossa Sra. dos Navegantes, em Torres, no RS
Reprodução/ RBS TV
Recebeu alta
Marido de Maida
Não comeu o bolo
Marido de Neuza
O que é arsênio
Arsênio é encontrado em sangue de sobreviventes que comeram bolo em Torres
Conforme André Valle de Bairros, professor de Toxicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o arsênio é o elemento químico, enquanto arsênico é denominado para o composto trióxido de arsênio.
“O arsênico trata-se da forma mais tóxica. A partir de 100 mg é possível a morte de um indivíduo adulto. Geralmente, o arsênico está na forma de pó e não tem cheiro ou gosto. Apesar de ter sido usado como raticida, esta droga pode ser empregada para fins de tratamento oncológico em pacientes com leucemia promielocítica aguda e é comercializada como Trisenox”, explica o especialista.
Bairros assinala que arsênico é proibido de ser comercializado no Brasil como raticida e o uso como agente quimioterápico é restrito.
“O arsênio é um elemento de alta toxicidade conhecida pela humanidade e sempre houve um certo temor. Há locais no globo terrestre ricos em arsênio, e isso contamina fontes de água. Mas é algo que precisa ser muito investigado. Há literatura científica, e de fato, há essa contaminação em leite, carne e frutas, porém, o fato de estar expostos a concentrações maiores de arsênio não significa necessariamente uma intoxicação”, acrescenta.
O caso
De acordo com a Polícia Civil, na última segunda-feira (23) sete pessoas da mesma família estavam reunidas em uma casa, durante um café da tarde, quando começaram a passar mal. Apenas uma delas não teria comido o bolo. A mulher que preparou o alimento, em Arroio do Sal e levou para Torres, também foi hospitalizada.
A investigação encaminhou os corpos das três vítimas para necropsia no Instituto-Geral de Perícias (IGP), órgão responsável por atestar a causa da morte. Resultados devem ser divulgados na próxima semana.
Conforme o delegado, o ex-marido da mulher que fez o bolo morreu em setembro por intoxicação alimentar. A morte não foi investigada pela polícia, por ter sido considerada natural. Agora, a polícia instaurou inquérito sobre o caso e pediu exumação do corpo.
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