Espetáculo com obra do grupo Los Hermanos demole ‘casa pré-fabricada’ dos musicais biográficos


Em cartaz no Rio de Janeiro até 7 de maio, a encenação de Michel Melamed oscila entre a exuberância, o deboche e a falta de senso ao ‘ressignificar’ as canções do quarteto carioca. Cena do espetáculo ‘Los Hermanos – Musical pré-fabricado’, em cartaz no Rio de Janeiro, sob direção de Michel Melamed
André Mantelli / Divulgação
Resenha de musical de teatro
Título: Los Hermanos – Musical pré-fabricado
Dramaturgia e direção artística: Michel Melamed
Direção musical: Felipe Pacheco Ventura e Pedro Coelho
Elenco: Ariane Souza, Estrela Blanco, Felipe Adetokunbo, Leandro Melo, Matheus Macena, Mattilla, Paula Fagundes e Yasmin Gomlevsky
Cotação: ★ ★ ★
♪ Espetáculo em cartaz de quinta-feira a domingo no Teatro Casa Grande, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), até 7 de maio.
♪ Você já imaginou ouvir a canção De onde vem a calma (Marcelo Camelo, 2003) em culto evangélico? Ou pensou que Casa pré-fabricada (Marcelo Camelo) e Morena (Marcelo Camelo, 2005) poderiam ser a trilha fúnebre de velório e enterro?
O diretor Michel Melamed vislumbrou as músicas do grupo carioca Los Hermanos nas referidas situações e as pôs em cena nesses contextos em Los Hermanos – Musical pré-fabricado, espetáculo em cartaz de quinta-feira a domingo no Teatro Casa Grande, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), até 7 de maio.
Musical que despertará amor e/ou ódio na plateia, assim como o quarteto ora em recesso por tempo indeterminado, o espetáculo de Melamed tem o mérito de demolir a “casa pré-fabricada” dos musicais de teatro.
Fugindo da linha biográfica e do caráter sentimental e/ou saudosista desse gênero de teatro que mobiliza plateias numerosas, Melamed inseriu – ou ressignificou, para usar termo da moda – as músicas dos Los Hermanos em série de quadros cênicos independentes.
Cena do espetáculo ‘Los Hermanos – Musical pré-fabricado’ em que parte do elenco canta ‘De onde vem a calma’ em culto evangélico
André Mantelli / Divulgação
A divisão do espetáculo em dois atos é o único resquício da fórmula do gênero. Dentro dessa estrutura singular, o musical oscila entra a exuberância cênica, a ironia travestida de deboche – em especial com a mídia na abordagem do grupo – e a enfadonha falta de nexo.
Quando o elenco gira em torno de um quadrado ao som de Samba a dois (Marcelo Camelo, 2003), por exemplo, o efeito cênico é inebriante. A associação (real) de Conversa de botas batidas (Marcelo Camelo, 2003) com o casal de amantes mortos em incêndio é quadro que emociona sem resvalar para o sentimentalismo. O número é tão atraente quanto o embate feminino ao som de A outra (Marcelo Camelo, 2003) e Veja bem, meu bem (Marcelo Camelo, 2001).
Se Sentimental (Rodrigo Amarante, 2001) é a trilha de take de cinema no momento da filmagem, Anna Júlia (Marcelo Camelo, 1999) aparece em vários ritmos – em visão do alcance da música mais popular do grupo – enquanto O vento (Rodrigo Amarante, 2005) bate forte em cena como música de fim de show, com camisas girando e os atores simulando o fumo de maconha.
Do ponto de vista sonoro, o musical se sustenta com a competência da banda. Os músicos jamais oscilam como as propostas cênicas de Michel Melamed, ora interessantes, ora sem o mínimo senso ou poder de sedução.
Contudo, o musical pré-fabricado com a obra dos Los Hermanos merece crédito de quem já detecta o esgotamento das fórmulas dos espetáculos biográficos e se sente estimulado a ver um musical que arrisca mexer no time que ganha as plateias mais conservadoras.
Cena do espetáculo ‘Los Hermanos – Musical pré-fabricado’, em cartaz no Teatro Casa Grande, de quinta-feira a domingo, até 7 de maio
André Mantelli / Divulgação

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