Carlos Gonzaga foi uma voz brasileira dos românticos hits estrangeiros da era inicial do rock


Morre aos 99 anos, na Itália, o cantor mineiro que, em 1958, consagrou o rock-balada ‘Diana’ no Brasil. ♪ OBITUÁRIO – Quando o rock’n’roll começou a ganhar o mundo, impulsionado pelos Estados Unidos a partir de 1954 nas vozes de pioneiros como Bill Haley (1925 – 1981) e Elvis Presley (1935 – 1977), o Brasil ainda vivia a era melodramática do samba-canção dos anos 1950.
Atenta aos sinais de que uma cultura pop começava a ganhar forma e a seduzir a juventude em escala planetária, executivos da indústria fonográfica brasileira começaram a encomendar versões em português de rock-baladas e hits do doo wop que estouravam nos EUA, seduzindo um público jovem com romantismo derramado, mas não tão dramático.
Foi nessa seara que Carlos Gonzaga (10 de fevereiro de 1924 – 25 de agosto de 2023) – cantor mineiro nascido José Gonzaga Ferreira na interiorana cidade de Paraisópolis (MG) e morto ontem, aos 99 anos, de causas ignoradas, em Velletri, Lácio, província de Roma, Itália –encontrou a fama ao dar voz a várias dessas versões, geralmente escritas por Fred Jorge (1928 – 1994).
A mais famosa delas, Diana, foi lançada em single de 78 rotações em 1958 e eternizou a voz do cantor que iniciara carreira fonográfica em 1955 após ter dado os primeiros passos profissionais em rádio da cidade natal.
Diana tinha sido composta e gravada em 1957 pelo cantor canadense Paul Anka, de cujo repertório Carlos Gonzaga também rebobinou, em português, várias outras versões, casos de Você é meu destino / You are my destiny (1958) e O diário / The diary (1959).
O sucesso de Diana redirecionou a discografia de Carlos Gonzaga, que trocou o repertório sentimental do início da carreira por baladas e rock-baladas de teor mais pop – pelo menos do que podia ser rotulado como pop na música brasileira da década de 1950.
Nos anos 1960, precisamente entre 1962 e 1963, Gonzaga apostou no twist, gênero da pré-história do rock. Curiosamente, com a explosão da Jovem Guarda a partir de 1965, Carlos Gonzaga começou a perder espaço no mercado – talvez por sempre ter sido mais um cantor de alma romântica do que propriamente um roqueiro rebelde, embora Gonzaga seja justamente apontado como um dos pioneiros do gênero no Brasil por ter dado voz a canções que se conectaram com a juventude dos anos 1950.
Contratado pela RCA-Victor, gravadora pela qual editou a parte mais expressiva da discografia, Carlos Gonzaga deixa álbuns como Quisera te dizer (1958), Meu coração canta (1959), The best-seller (1960), És tudo para mim (1961), O cantor “hit-parade” (1962), Carlos Gonzaga canta (1962) e Para a juventude (1963), todos dominados por versões de hits estrangeiros, matéria-prima desse romântico cantor mineiro que se fez ouvir em escala nacional antes de o rock se consolidar no Brasil.

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