Autor de cancioneiro solar, criado com referências que vão da música clássica ao rock progressivo, artista paulistano é mais do que um hitmaker com dom para fazer música para as paradas. Guilherme Arantes, nascido em 28 de julho de 1953, faz hoje 70 anos com 30 álbuns lançados entre 1974 e 2021
Ilustração de Gil Tokio para a capa do álbum ‘Cores & flores’ (2017), de Guilherme Arantes
♪ ANÁLISE – Nascido em 28 de julho de 1953, em maternidade do bairro paulistano de Bela Vista, ao meio-dia e quinze minutos de uma terça-feira, Guilherme Arantes chega hoje aos 70 anos entronizado no posto de um dos maiores compositores da geração que começou a aparecer na segunda metade da década de 1970, quando a MPB ainda dava as cartas no mercado, mas que já fazia uma música que, no Brasil daquela época, podia ser classificada de pop.
Aos olhos e ouvidos do público, o cantor, compositor e músico paulistano – hábil no toque do piano e dos teclados – veio ao mundo em 1976, ano em que a balada Meu mundo e nada mais, música do primeiro álbum do artista, foi amplificada em escala nacional na trilha sonora da novela Anjo mau (TV Globo).
Djavan, gênio temporão da MPB, despontara no ano anterior. Arantes, que debutara como músico profissional na banda de Jorge Mautner após formar bandas adolescentes como a Polissonante no fim dos anos 1960, teve atuação relevante ao longo da década de 1970, tendo formado em 1973 o Moto Perpétuo, grupo de rock progressivo, antes de sair em carreira solo em 1975.
Contudo, curiosamente, Arantes está mais identificado no imaginário musical nacional com a geração pop que irrompeu na década de 1980 do que com a turma musical dos anos 1970, ainda que, a rigor, nunca tenha pertencido de fato a uma tribo ou turma específica.
Compositor referencial quando assunto é música pop no Brasil, Arantes pode ser caracterizado como hitmaker, rótulo que considera redutor, com razão, porque Arantes é muito mais do que um fazedor de hits, ainda que esse rótulo seja condizente com o status do artista, que, se quiser, faz show de duas ou mesmo três horas com roteiro pautado somente por músicas de sucesso.
Em linha geral, Guilherme Arantes construiu obra situada entre o rock progressivo, o synth pop e as canções apaixonadas para piano, alinhando no cancioneiro sonoridades e referências que vão da música clássica ao som celta embutido na obra do cantor e compositor irlandês Gilbert O’ Sullivan – este, sim, mais influente para Arantes do que Elton John, a quem o artista foi frequentemente comparado ao ficar conhecido em 1976.
A magnitude do cancioneiro do compositor o põe em pé de igualdade com Lulu Santos, outro nobre do pop nacional que consolidou o reinado ao longo da década de 1980. Esse cancioneiro é solar, geralmente feliz. Sem deixar de dar voz às crises existenciais e às dores de amores, Arantes explicitou na música que viver e amar é um lance legal.
De 1974 até 2021, o artista lançou 30 álbuns se contabilizado o único disco do grupo Moto Perpétuo, editado em 1974. É obra sólida, que rendeu músicas enraizadas na memória coletiva de quem viveu os anos 1970, 1980 e 1990.
Basta citar músicas do alto quilate de Cuide-se bem (1976), Amanhã (1977), Êxtase (1979), Aprendendo a jogar (1980), Deixa chover (1981), Planeta água (1981), O melhor vai começar (1982), Lance legal (1982), Lindo balão azul (1982), Brincar de viver (Guilherme Arantes e Jon Lucien, 1983), Pedacinhos (Bye bye so long) (1983), Cheia de charme (1985), Coisas do Brasil (Guilherme Arantes e Nelson Motta, 1986), Loucas horas (1986), Um dia, um adeus (1987), Muito diferente (1989) e Sob o efeito de um olhar (1991) para que fique clara a importância de Guilherme Arantes.
Essas músicas são as que mais fizeram sucesso em lista que inclui, claro, a seminal Meu mundo e nada mais, porta de entrada do cantor no coração do Brasil. Outras músicas, menos conhecidas, estão nos discos do artista, prontas para serem (re)descobertas a qualquer momento.
De todo modo, aos 70 anos, Guilherme Arantes recusa o berço esplêndido para dormir sobre os louros do passado. Na cabeça criativa desse artista a partir de hoje septuagenário, avesso às leis do mercado e com planos de voltar a fazer show no Brasil em outubro, o melhor ainda pode começar.
♪ Eis os 30 álbuns que compõem a discografia de Guilherme Arantes:
Com o grupo Moto Perpétuo:
1. Moto Perpétuo (1974)
Em carreira solo:
2. Guilherme Arantes (1976)
3. Ronda noturna (1977)
4. A cara e a coragem (1978)
5. Guilherme Arantes (1979)
6. Coração paulista (1980)
7. Guilherme Arantes (1982)
8. Ligação (1983)
9. Despertar (1985)
10. Calor (1986)
11. Guilherme Arantes (1987)
12. Romances modernos (1988)
13. Pão (1990)
14. Meu mundo e tudo mais (1991)
15. Crescente (1992)
16. Castelos (1993)
17. Clássicos (1994)
18. Outras cores (1996)
19. Maioridade (1997)
20. Guilherme Arantes (1999)
21. Guilherme Arantes ao vivo (2000)
22. New classical piano solos (2000)
23. Guilherme Arantes ao vivo (2001)
24. Aprendiz (2003)
25. Intimidade (2007)
26. Lótus (2007)
27. Condição humana (2013)
28. Flores & cores (2017)
29. Uma viajante alma paulistana (2018)
30. A desordem dos templários (2021)
Guilherme Arantes chega aos 70 anos como um dos grandes compositores da geração pop
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