Em despedida a Zé Celso, atrizes e atores fazem rito com músicas e danças no Teatro Oficina


Artistas da televisão se misturam aos do teatro, do cinema e a crianças, e cantam hinos de peças do dramaturgo, que morreu nesta quinta-feira (6). ‘Sambando nesse carnaval, com a minha arte que é imortal’, verso de um samba-enredo, é repetido por todos. Atores e atrizes cantam e dançam em velório do fundador do Teatro Oficina, Zé Celso
Pessoas pulavam cantando músicas de “Bacantes”, peça que simboliza o Teatro Oficina. Uma música é emendada na outra, com apoio de uma banda. Aplausos. É o começo do rito de despedida do diretor, dramaturgo e ator Zé Celso Martinez, que não será curto: “As peças duravam horas, a despedida também“, dizem os presentes.
Muitas gerações compareceram à homenagem. Artistas conhecidos da televisão se misturam aos do teatro, do cinema e a crianças. Os versos “sambando nesse carnaval com a minha arte, que é imortal”, do samba-enredo “Quatro Séculos de Paixão – História do Teatro Brasileiro”, da Vila Isabel, foram entoados por todos.
Integrantes do Teatro Oficina homenageiam fundador, Zé Celso em velório
Em fila, também cantaram a marchinha carnavalesca “Mamãe eu Quero”. E, de repente, surgiu o som de tambores. O rito teve muitas performances e diversidade, tudo com um toque do dramaturgo.
Integrantes do Teatro Oficina se abraçam em velório do fundador, Zé Celso
Claudia Castelo Branco/ g1
Sob coroas, artistas fizeram saudações a Oxum, a orixá do amor e das águas doces, em frente a uma fonte de água decorada com coroas.
Atores e atrizes do Teatro Oficina homenageiam Zé Celso com música e dança em velório
O ator Reinaldo Renzo acompanha a performance da arquibancada superior do Oficina e se diz triste. “Não podia ser diferente. Não esperava menos que isso. E vai esquentar.”
Despedida de Zé Celso, no Teatro Oficina
Claudia Castelo Branco/ g1
Velório de Zé Celso é marcado por pessoas fantasiadas, música e dança
Claudia Castelo Branco/ g1
Elvis da Paulista também marcou presença na despedida. Se diz fanático pelo dramaturgo e conta que assistiu a “Bacantes”.
Despedida dos amigos
A atriz Leona Cavalli, que começou sua carreira no Teatro Oficina, com “Hamlet”, se lembra do casamento de Zé Celso com Marcelo Drummond, no Oficina. Ela teve que sair mais cedo da cerimônia. “Zé me olhou e disse: ‘Até sempre´.”
Zé e Leona
Arquivo pessoal
“Pessoalmente meu amor e gratidão são eternos, com ele fiz muitos outros espetáculos; o ultimo no ano passado, ‘Fausto’. Foi com ele que comecei e, acima de tudo, foi ele quem me mostrou a força do Teatro Sagrado, que trago comigo para sempre. Como eu, muitos começaram e aprenderam com ele e com sua paixão arrebatadora pela arte e pela vida.”
A também atriz Bete Coelho disse ao g1 que “tudo que possamos falar sobre o Zé Celso não é o suficiente para mensurar a obra e a vida deste xamã do teatro brasileiro”. Bete descreve o diretor como alguém insubstituível. “A dor é grande, mas o legado que ele deixa é maior e cabe a nós, artistas, levarmos adiante essa escola antropofágica e coletiva que transborda paixão e conhecimento.”
“A gente perdeu hoje o maior de todos os nossos diretores. O mais inventivo, o mais criativo, o mais resistente, o mais alegre, o mais irreverente. O Zé”, lamentou a encenadora Mika Lins.
Mika Lins no papel de Cleide Yaconis
Lenise Pinheiro
Mika destaca a “conexão com o tempo” como uma das grandes qualidades do diretor. “Com aqui e agora, com o que surgia de música, com as evoluções tecnológicas. Era um profundo conhecedor de teatro, um encenador criativíssimo e um homem que dirigia atores como ninguém.”
Sua passagem pelo Teatro Oficina aconteceu em 1999 na peça “Cacilda”. Experiência que mudou sua vida.
“A minha vida profissional, teatral, ela é antes e depois do teatro Oficina. Lá eu fiz uma conexão mais profunda e talvez mais verdadeira com o teatro.”
Leona na sua estreia como Ofélia em Hamlet
Lenise Pinheiro
Com 86 anos de idade e ainda conectado com o seu tempo, Zé é apontado pelos amigos como genial, profundamente exigente, incansável e estudioso. Nada do que ele colocasse em cena, durante 34 horas de espetáculo, era sem uma referência, sem uma importância.
“Um homem que viveu para o teatro, não fez concessões pessoais, teve uma vida difícil. Dura. O Zé transcendeu. Ele se transformou em espetáculo. Deixa um vazio assim porque não existe diretor mais conectado com o seu tempo, incansável”, diz Mika.
“O Zé foi e continuará sendo um sol em revolução constante de amor e liberdade. Sua paixão pelo teatro era avassaladora, e irradiava pra todos, no palco ou onde quer que estivesse; talvez por isso seja uma das pessoas mais importantes da historia do teatro no mundo”, disse a atriz Leona Cavalli.
Seu legado é imenso: o Teatro Oficina, que ele construiu com arquitetura de Lina Bo Bardi foi eleito um dos 10 melhores do mundo pelo jornal “ The Guardian “.

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