Bandido diz que atirou em caminhoneiro durante roubo e é repreendido pelo comparsa: ‘Ficar dando tiro, pô!’; ouça


Núcleo de extorsão da quadrilha ameaçava os donos dos celulares roubados via mensagens no WhatsApp e SMS, segundo a Operação Omiros, da Polícia Civil do RJ. Grupo agia na Central do Brasil, no Calçadão de Bangu e no Centro de Duque de Caxias. Bandido diz que atirou em caminhoneiro durante roubo e é repreendido pelo comparsa
Um integrante da quadrilha especializada em roubo de celulares no Rio confessa, em áudios interceptados pela Polícia Civil, que atirou contra um caminhoneiro durante uma tentativa de roubo. Mais de 30 pessoas da mesma organização criminosa foram presas nesta terça.
“Dei um tirão nele, ele não quis parar”, confessa o homem na gravação.
O comparsa o repreende e responde: “Deu tiro sem necessidade, mano. Ficar dando tiro, pô”.
Em resposta, o criminoso se justifica: “Pulei na porta do caminhão, eu abri a porta do caminhão para não cair”.
Segundo a polícia, foram dois anos de investigações que levaram às prisões.
O grupo, segundo as investigações, agia na Central do Brasil, no Calçadão de Bangu e no Centro de Duque de Caxias.
Quadrilha especializada em roubos
A Polícia Civil desencadeou uma operação contra uma quadrilha especializada em roubo de celulares no Rio que ameaçava as vítimas para conseguir as senhas e acessar os dados dos aparelhos.
Para intimidá-las, os criminosos enviavam mensagens com fotos de armas e informações pessoais dos donos dos celulares.
Em uma das mensagens obtidas pela polícia, um dos suspeitos escreveu: “Tenho seus dados e endereço. Meu interesse é a conta iCloud. Tenho nada a perder, desgraça! Tem 10 minutos.”
Como era a extorsão
Após o roubo dos celulares, entrava em ação o núcleo de extorsão da organização criminosa, que utilizava diferentes métodos para coagir as vítimas.
Ameaças diretas via WhatsApp e SMS: fotos de armas de fogo e exposição de dados pessoais das vítimas, incluindo endereços e nomes de familiares, eram enviados para gerar pânico.
Uso de informações adquiridas na “dark web”: criminosos acessavam bases de dados clandestinas para personalizar as ameaças e aumentar sua eficácia.
Golpes de “phishing”: mensagens falsas induziam vítimas a inserir credenciais em sites fraudulentos, permitindo que os criminosos desbloqueassem os celulares e acessassem aplicativos bancários.
Pressão psicológica e chantagem financeira: algumas vítimas eram obrigadas a fazer transferências bancárias para evitar que suas informações fossem vazadas ou repassadas a facções criminosas.
Se a vítima não fornecia as senhas, o celular era desmontado e vendido como peças para assistências técnicas clandestinas. O dinheiro arrecadado era lavado por meio de laranjas e movimentado em contas bancárias fictícias.
Ligações interceptadas revelam organização do crime
Ao longo de dois anos de investigação, a polícia interceptou chamadas telefônicas que mostram como a quadrilha planejava os assaltos. Em um dos grampos, dois suspeitos, identificados como Richard e Magno, combinam os locais dos roubos:
A polícia também descobriu que os criminosos ostentavam nas redes sociais carros de luxo, joias e festas bancadas com o dinheiro do crime. Na casa de um dos suspeitos, foram encontrados celulares roubados, relógios e cordões de ouro.
Em uma conversa, Richard e Magno falam sobre transferir dinheiro roubado via aplicativo bancário:
— R$ 100 mil na conta do cara.
— Eu te passo a minha agora. Tenho cartão, tenho tudo.
Em outra gravação, eles reclamam do resultado dos roubos.
— Só cacareco.
— Nenhuma maçã? (celular da Apple)
— Nenhuma.
Os criminosos também faziam acordos com traficantes do Comando Vermelho para que os assaltos acontecessem em determinadas áreas sem interferência. Em troca, parte do dinheiro arrecadado era repassada às facções. “Essa parceria fortalecia ainda mais o crime organizado no estado”, disse o delegado.
Criminosos ostentavam luxo, festas e joias nas redes
A polícia também descobriu que os criminosos ostentavam nas redes sociais carros de luxo, joias e festas bancadas com o dinheiro do crime. Na casa de um dos suspeitos, foram encontrados celulares roubados, relógios e cordões de ouro.
O nome da operação, Omiros, significa “refém” em grego, uma referência à forma como as vítimas eram pressionadas a colaborar com os criminosos.
A Justiça expediu 43 mandados de prisão contra suspeitos, muitos deles com histórico de crimes como roubo, estelionato e tráfico de drogas. Durante as ações, algumas equipes foram recebidas a tiros. Mais de 30 pessoas foram presas.
Alguns dos presos na Operação Omiros
Reprodução/TV Globo
Adicionar aos favoritos o Link permanente.