‘Lei do Celular’: como estudantes estão se adaptando à proibição dos aparelhos nas escolas


Para entender o impacto na rotina escolar, o Profissão Repórter acompanhou a rotina dos estudantes em São Paulo, desde o dia em que receberam a notícia da proibição até a primeira semana de fevereiro, quando a lei entrou em vigor Edição de 11/02/2025
O Profissão Repórter desta terça-feira (11) a adaptação dos alunos à lei que proibiu o uso de celulares nas escolas. A medida foi sancionada em dezembro de 2024 pelo governo do estado de São Paulo e, em janeiro, ganhou uma versão nacional, aprovada pelo governo federal.
Para entender o impacto na rotina escolar, a reportagem acompanhou o dia a dia dos estudantes na capital paulista, desde o dia em que receberam a notícia da proibição até a primeira semana de fevereiro, quando a lei entrou em vigor. Saiba mais abaixo.
Antes da proibição
A rotina de estudantes antes da proibição de celulares na escola
O programa começou a reportagem no fim do ano letivo de 2024, em escolas de São Paulo, primeiro estado a proibir o uso de celulares antes da criação da lei federal.
Na escola Yervant Kissajikian, na zona leste de São Paulo, os alunos passavam grande parte do tempo grudados no celular nas salas de aula e no intervalo. Nem mesmo na hora de comer largavam os aparelhos para jogar ou ficar nas redes sociais.
“Eu sou uma pessoa que não consigo ficar longe do meu celular. Em todo lugar que eu vou eu preciso estar com meu celular no bolso, na mão. Durante a aula, eu olho bastante no celular, mexo nas redes sociais também”, conta Gustavo Santana, estudante do primeiro ano do ensino médio.
Alunos passam grande parte do tempo grudados no celular nas salas de aula e no intervalo
Reprodução/TV Globo
A lei veio para acabar com situações como a que enfrentou o professor José Cleto do Nascimento, de geografia, que chegou até a baixar o jogo no celular para conseguir a atenção dos alunos.
“Comecei a jogar com eles e aí eles: ‘ah, o professor está jogando também’. Com isso, eu fui ganhando a atenção deles, e fiz um combinado: ‘olha, a gente vai ter o momento de jogar e tem o momento de prestar atenção na aula'”, explica.
Professor conta que chegou a baixar o jogo no celular para conseguir a atenção dos alunos
Reprodução/TV Globo
Preparação das escolas
Diretor mostra como a escola se preparou para guardar os celulares dos estudantes durante o período das aulas
Para André Fernandes, diretor da escola estadual, a medida terá que ser aplicada de forma gradual.
“Eu acho que implantar a lei de forma abrupta sem fazer a discussão, debate acaba sendo algo ruim pela comunidade. Precisa ser testado de forma, dialogando muito com os estudantes em conjunto com os pais e responsáveis para que eles também possa vir em conjunto com a escola”, afirma.
O diretor mostrou como a escola se preparou para guardar os celulares dos estudantes durante o período das aulas.
“A gente providenciou alguns sacos , vai ficar aqui, a gente vai colocar uma etiqueta de identificação, vai fechar e a gente vai colocar no armário aqui e trancar”, explica André.
Diretor mostra como a escola se preparou para guardar os celulares dos estudantes durante o período das aulas
Reprodução/TV Globo
Primeiros dias sem celular
‘Lei do Celular’: como estudantes estão se adaptando à proibição nas escolas
O Profissão Repórter acompanhou o primeiro dia de aula no ano letivo de 2025 na escola Yervant Kissajikian, após a proibição entrar em vigor. Logo na entrada, alguns alunos contaram que não levaram o celular e outros deixaram o aparelho guardado no bolso ou na mochila.
“A gente fica com receio porque muitos professores falaram que vão pegar, teria que guardar, levar para direção, chamar os pais”, conta Sophia Medeiros, estudante do ensino médio.
Nas salas as aulas começaram um aviso sobre a nova lei. Ainda assim, foi possível ver alguns jovens que ainda resistem à mudança. A orientação neste momento é não punir quem não respeita.
“Ainda tem essa resistência que é o do adolescente , mas cabe a nós continuando orientando, conscientizar e reforçar para ele guardar o celular no armário”, diz o diretor.
Após lei que proibi celulares na escola, alguns jovens que ainda resistem à mudança
Reprodução/TV Globo
Apesar das dificuldades iniciais, os estudantes começaram a se adaptar. Durante o recreio, muitos deixaram os celulares de lado e passaram a interagir de outras formas: jogando cartas, conversando e socializando.
Até Gustavo, que antes dizia não conseguir ficar sem o aparelho, admitiu que a mudança tem sido possível.
“Muda bastante, mas dá para viver sem”, afirma o jovem.
Sem celular, estudantes jogam jogos de cartas no intervalo
Reprodução/TV Globo
Os impactos na educação e na saúde mental
A autora do projeto que foi aprovado por unanimidade, explica que as restrições estão baseadas em vários estudos no Brasil e no mundo que comprovam os efeitos do uso excessivo do celular.
“A gente estava tendo as crianças e os adolescentes perdendo em aprendizado, em saúde mental, em relação entre eles, em desenvolvimento cognitivo e desenvolvimento socioemocional, em todo o tempo deles sendo capturados pelo celular”, diz a deputada estadual/Rede-SP, Marina Helou.
O psiquiatra Cristiano Nabuco coordena um grupo que lida com as da dependência em tecnologia.
“Na hora que eu tenho o sono cortado, eu tenho o hormônio do crescimento que não está sendo liberado da forma correta. Eu não tenho uma consolidação da minha memória, do que eu aprendi. Então, esses usuários perderam grande parte da suas capacidades de concentração, de perseverar. eles são movidos a estímulos rápidos, eles têm uma atenção limitada, e na hora que eles precisam encarar uma faculdade ou um trabalho, eles não conseguem”.
Estado de SP foi o primeiro do Brasl a proibir o uso de celulares antes da criação da lei federal
Reprodução/TV Globo
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