Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos passaram a investir em outras indústrias, como tecnologia, e não modernizaram a mineração na Pensilvânia – que já foi um dos lugares mais ricos do país. Taxação aço e alumínio: economistas dizem se medida de Trump pode revitalizar setor dos EUA que tem perdido projeção
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Nas últimas 24 horas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atraiu as atenções e a revolta de chefes de Estado mundo afora com a decisão de taxar as importações de aço e de alumínio. Desde o anúncio das tarifas, economistas passaram a analisar as possíveis consequências dessa medida, e mesmo se ela vai, de fato, atingir o objetivo dela: revitalizar um setor da economia americana que, há anos, tem perdido projeção no mercado global.
Um dia antes das eleições americanas de novembro de 2024, o Jornal Nacional visitou o estado da Pensilvânia. Dá para ver como já foi um dos lugares mais ricos dos Estados Unidos. Dali saíam o carvão que alimentava locomotivas, o ferro e o aço que faziam armas para a Segunda Guerra Mundial. Abasteciam toda a indústria e fizeram os Estados Unidos ultrapassarem o Reino Unido como maior economia do mundo.
Hoje, o cenário é muito diferente. Muitos rios estão mortos com a contaminação de uma indústria que entrou em declínio profundo. Por que isso aconteceu? O Japão foi devastado na Segunda Guerra Mundial. Depois da bomba atômica, quando começou a se reerguer, o país investiu em maquinário novo para mineração. Mesma coisa com a Alemanha. Isso fez com que pudessem extrair ferro para fazer aço a custos mais baixos. Do outro lado, os Estados Unidos passaram a investir em outras indústrias, como tecnologia, e não modernizaram a mineração na Pensilvânia.
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Mas a pá de cal de verdade veio com o crescimento de um país que a essa altura você já sabe qual é. A China investiu dinheiro estatal em mineradoras e hoje produz mais da metade de todo o aço do mundo – mais do que os 20 países que vêm depois juntos! Estados Unidos são o quinto. Brasil, o nono. A produção top de linha de aço chinês alimentou um boom da construção civil por lá. Mas é tanto aço que barateou o metal no mundo todo. Os Estados Unidos impuseram várias barreiras ao aço chinês. Mesmo assim, o impacto da baixa dos preços foi fortemente sentido nos Estados Unidos.
Por exemplo, todo americano já ouviu falar na US Steel. No começo do século passado, era a empresa com o maior valor de mercado no planeta. Mas, com o declínio da mineração americana, aceitou ser vendida para uma empresa japonesa. O ex-presidente Joe Biden barrou a negociação nos últimos dias do mandato, ele disse que a indústria do aço era uma prioridade de segurança nacional e que uma empresa como essa não podia passar para mão de estrangeiros. No fundo, Biden sabia que isso feriria o americano na alma – seria passar recibo do declínio acelerado dos Estados Unidos.
Com as novas tarifas de 25 no aço e no alumínio, Donald Trump quer proteger e aumentar a produção interna; quer que as empresas americanas comprem mais aço americano. O professor de economia da Escola de Minas do Colorado Ian Lange explica que o preço do aço nos Estados Unidos deve aumentar, e que Donald Trump quer que o preço aumente para fazer com que as mineradoras ganhem mais dinheiro e tenham mais margem de manobra, com capital extra para buscar mais clientes e depois pegar empréstimos para investir em máquinas mais modernas, aumentar e baratear a extração.
Ele explica que os Estados Unidos têm no solo ferro o suficiente para produzir aço e bauxita para o alumínio também, mas que isso não importa. O que importa é que seja economicamente viável fazer essa extração, porque não adianta gastar mais dinheiro para fazer o aço do que para comprá-lo no mercado internacional.
A pressão do setor é grande sobre Donald Trump. Mineradoras financiaram a campanha dele e o ajudaram a vencer as eleições, principalmente na Pensilvânia. Mas o plano de Trump pode sair pela culatra. Com aço e alumínio mais caros, várias indústrias podem ser afetadas, encarecendo o custo de vida e aumentando a inflação. Exatamente o contrário do que Trump prometeu.
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