Desequilíbrio causado pela introdução de novas espécies no local pode explicar o maior número de piranhas no Broa, em Itirapina. Prefeitura anunciou série de medidas. Piranhas atacam moradores e turista na represa do Broa, em Itirapina, interior de São Paulo
Fabio Rodrigues/g1 e Nilson Porcel/EPTV
Sete ataques de piranhas no período de 15 dias assustaram moradores e turistas na represa do Broa, em Itirapina, no interior de São Paulo. O acesso de banhistas está proibido e a prefeitura anunciou uma série de medidas.
O local nunca havia registrado casos e uma das hipóteses, segundo especialistas ouvidos pela EPTV e pelo g1, é o desequilíbrio causado pela introdução de novas espécies de peixes no local, como o tucunaré.
Além disso, as piranhas estão em época de reprodução e podem estar protegendo seus ninhos. Veja abaixo algumas explicações.
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Turista é o 7º atacado por piranha na represa do Broa; local está interditado
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Por que as piranhas atacam?
O biólogo Fernando Magnani explicou o motivo dos ataques de piranhas
Paulinho Chiari/EPTV/arquivo
O biólogo Fernando Magnani explicou que as piranhas estão há tempos na represa e são da espécie pirambebas ou piranhas-brancas, diferentes das vermelhas que habitam o Pantanal.
“Vi as mordidas em uma imagem e não pareceu ataque para alimentação, parece mais mordida de advertência, de época de reprodução. Estes peixes defendem território e têm algum cuidado parental. Pode ter sido um aviso do tipo: ‘sai para lá’”, explicou.
De acordo com o professor de hidrobiologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Alberto Carvalho Peret, a espécie não tem perfil agressivo.
“Elas não são tão agressivas quanto as piranhas do Nordeste e se apresentam em cardumes pequenos de de 3 a 20 . O comportamento delas é pegar filés de animais maiores, eles tiram pequenos pedaços e não atacam massivamente. Mordem e fogem, são mais mansas. Até o barulho de pessoas balançando a água, que simulam movimentos de peixes, atraem as piranhas”, comentou.
Alberto Carvalho Peret é professor de hidrobiologia da UFSCar
EPTV
O pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Vidal Haddad Junior explica que as piranhas vivem em cardumes, mas não adotam nenhuma estratégia coletiva para caçar.
A formação de grupos é uma estratégia de defesa, já que se movem agrupadas para se protegerem dos predadores. As piranhas são famosas por devorar carne de pequenos insetos até mamíferos muito maiores que elas, mas também se alimentam de sementes e outros materiais, vegetais que são encontrados no fundo do rio.
As piranhas costumam atacar nas aguapés ao longo das margens do rio, onde se reproduzem. Os machos defendem seus ninhos contra possíveis ameaças, o que pode resultar em incidentes com banhistas.
Desequilíbrio com a introdução de espécies
Tucunaré é típico da bacia amazônica e foi introduzido na represa do Broa em Itirapina
Márcio de Campos/TG/arquivo
Segundo Magnani, uma hipótese para o maior número de piranhas no local é um desequilíbrio causado pela introdução de novas espécies no local, como o tucunaré, que é típico da bacia amazônica.
Ele explica que o tucunaré é um predador de peixes menores como o lambari, nativo do local e que preda insetos e ovos de outros peixes, como as piranhas.
“E com isso você tem uma uma sobrevivência maior de alguns peixes que protegem as proles, como a piranha, o tucunaré, a tilápia, em detrimento do lambari que se tornou presa de todos os predadores que foram introduzidos na no local”, ressaltou Magnani.
“Todos sofrem alteração devido a uma pequena introdução de novas espécies que estabelecem novos sistemas de relação no ambiente. Evidentemente que essa aglomeração de piranhas não existia antes, eram raras nas coletas e agora se tornam intensas. Os pescadores pescam pirambebas de 300g a 400g”, disse o pesquisador Haddad Junior.
Novo ataque no sábado
Ataque de piranhas deixa seis pessoas feridas na Represa do Broa em Itirapina
Diogo Nolasco/EPTV
O sétimo ataque de piranhas em 15 dias foi registrado neste sábado (8). Desta vez, a vítima foi um turista que veio de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Ele sofreu ferimentos no dedo mindinho do pé esquerdo.
A represa do Broa é um importante ponto turístico da região e atrai centenas de pessoas. O acesso de banhistas está proibido no local desde 27 de janeiro, logo depois do fim de semana em que os primeiros ataques aconteceram. A Prefeitura publicou um decreto com a proibição.
O ataque mais recente foi sofrido pelo gesseiro Izaías dos Santos. Ele disse ter “ouvido rumores” sobre as piranhas.
“Só que sou de Campo Grande, sempre tomei banho onde tem piranhas e nunca aconteceu ataque. Achei meio duvidoso, aí vim e constatei. Senti uma beliscada no dedo. Saí e vi que tinha arrancado um pedaço. Aí sabia que era piranha”, afirmou.
O turista não deixou claro por qual razão decidiu se arriscar no local mesmo com a proibição de acesso. Depois de ter sido atacado, mostrou preocupação com os mais novos. “Eu falei para o pessoal: ‘pegaram meu dedo aqui’. A gente avisa porque é perigoso. Adulto ainda vai, mas crianças… É bom evitar.”
Izaías não foi o único a descumprir o decreto. Outras pessoas frequentaram o local durante o dia.
Novas medidas
Banhistas não têm respeitado decreto que proíbe acesso à Represa do Broa, em Itirapina
Nilson Porcel/EPTV
Antes do novo ataque, a Prefeitura de Itirapina anunciou, na manhã deste sábado (8), uma série de medidas que pretende implantar para evitar novos casos na represa do Broa.
Entre elas está a contratação de uma empresa para monitorar o local, uma nova lei e até um campeonato de pesca de piranhas.
Segundo a prefeitura, por ser um problema inédito no município, foram chamados especialistas e órgãos ambientais para a solicitação de orientações, como a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a gestão da Área de Proteção Ambiental (APA) Cuesta Corumbataí, o Comitê de Bacias Hidrográficas, a Agência de Águas do Estado de São Paulo (SP Águas) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Em reunião feita na terça-feira (4) entre representantes da prefeitura, associação de moradores e um biólogo especialista foram definidas três frentes de atuação:
Contratação de uma empresa especializada em realizar o monitoramento da ictiofauna (conjunto de espécies de peixes que habitam uma região biogeográfica) na represa, com o objetivo de levantar informações sobre as frequências de espécies que caracterizam o ecossistema. Com isso, será possível estimar os períodos e locais de maior risco das piranhas e referenciar as decisões da prefeitura.
A criação de uma lei municipal específica para a regulamentação da pesca no município, sobretudo da proibição da soltura de espécies invasoras.
A realização de um campeonato de pesca de piranhas organizado pela associação de moradores, seguindo as regulamentações ambientais pertinentes ao período da piracema.
Não foram divulgadas datas da implantação das medidas ou envio da lei para aprovação da Câmara. No dia 31 de janeiro, um novo decreto foi publicado reforçando a proibição que abrange toda a extensão da área de banho e inclui pontos de entrada frequentemente utilizados por banhistas.
Entre as medidas novas adotadas, estavam a instalação de placas de sinalização alertando sobre os riscos, monitoramento técnico contínuo da área e comunicação com órgãos competentes para garantir a segurança dos usuários.
Embora o acesso à água esteja proibido, será permitida a entrada de embarcações, desde que os ocupantes não tenham contato direto com a água.
A prefeitura informou que as atividades náuticas, como motos aquáticas e esqui aquático, estão suspensas durante este período. A liberação da área para banho dependerá de uma avaliação técnica ambiental e do cumprimento das exigências estabelecidas pelos órgãos responsáveis.
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