Jornal ‘Le Monde’ publicou capa com protesto assinado por mais de 100 atores e atrizes. 94% das queixas de violência sexual foram arquivadas em 2022 sem processo penal. Capa do jornal francês ‘Le Monde’ tem manifesto de atores e atrizes contra agressões sexuais, em campanha antes do Festival de Cannes
Reprodução/Le Monde
O 77º Festival de Cinema de Cannes começa nesta terça-feira (14) com o tema da violência sexual muito presente, sete anos após a queda do produtor americano Harvey Weinstein e cinco meses depois da atriz francesa Judith Godrèche ter denunciado por estupro dois diretores do cinema local – Benoît Jacquot e Jacques Doillon –, quando ela ainda era adolescente.
Paralelamente, o jornal “Le Monde” publica um manifesto assinado inicialmente por 100 atores e atrizes, como Isabelle Adjani, Emmanuelle Béart, Florent Pommier e Juliette Binoche, que denunciam o fato de 94% das queixas de violência sexual terem sido arquivadas em 2022 sem abertura de processo penal, ou seja, a maioria dos autores desse tipo de crime permanecem impunes.
O texto publicado no “Le Monde” vem acompanhado de uma fotografia histórica em preto e branco e de um vídeo no qual os assinantes dão seus depoimentos. Ao lado de cada assinatura #metoo aparece o setor de atividade da vítima: no cinema, na mídia, na política, nos hospitais, na igreja, em instituições e também a tag do movimento #metoo.
A iniciativa de reunir personalidades famosas em uma fotografia, para mostrar que tiveram a coragem de denunciar seus agressores publicamente e não pretendem mais se calar até que a Justiça se manifeste, partiu da atriz Anna Mouglalis.
Ela conta ter ficado chocada com os dados de um relatório publicado pelo Instituto de Políticas Públicas, que aponta que entre 2016 e 2022 aumentou de 86% para 94% o número de denúncias de estupro arquivadas sem processo penal. Para implementar este projeto, Anna Mouglalis contatou outras duas ativistas: Anne-Cécile Mailfert, presidente da Fundação das Mulheres, e Muriel Réus, vice-presidente da associação #metoomedia.
O objetivo do manifesto, que permanece aberto para assinaturas, é exigir dos legisladores franceses uma “lei abrangente” para lidar com a questão da violência sexual e de gênero. A Fundação das Mulheres elaborou 80 propostas que poderiam ser incluídas nesta legislação, entre elas uma certa flexibilidade para ampliar o tempo de prescrição em favor da vítima, assistência jurídica assim que o boletim de ocorrência for registrado em uma delegacia e proibição de examinar o passado sexual das vítimas, algo que frequentemente é usado contra elas.
Em entrevista à revista “Elle”, em maio, o presidente Emmanuel Macron reafirmou a sua intenção de alterar a definição legal do estupro, integrando a noção de consentimento numa nova lei a ser apresentada ao Parlamento até o final do ano.
#MeToo francês: Festival de Cannes começa com manifesto de famosos vítimas de agressão sexual
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