Com atuação brutal de Demi Moore, ‘A Substância’ expõe o lado grotesco do culto à imagem; g1 já viu


Filme foi indicado a cinco Oscars e é estrelado pela veterana de Hollywood, favorita na categoria de Melhor Atriz.
Demi Moore em ‘A Substância’
Divulgação
“A Substância”, da francesa Coralie Fargeat, foi indicado a cinco categorias no Oscar: melhor filme, melhor atriz, diretora, roteiro original, e melhor cabelo e maquiagem. O filme estreou no Brasil em setembro, já está disponível na plataforma Mubi, e é um dos poucos representantes de horror na história da premiação.
O longa explora o gênero “body horror”, modalidade de filmes que usa cenas explícitas, grotescas e corporais para afligir os espectadores. Destemido em sua abordagem e quase surrealista na execução, “A Substância” fala sobre pressão estética de um jeito diferente. E apesar de não ser perfeito, acerta justamente ao focar na imagem, com uma atuação visceral de Demi Moore.
Demi Moore é favorita na categoria de Melhor Atriz
Por que ‘A Substância’ foi um dos filmes mais comentados de 2024
Quem tem mais chances: Fernanda ou Demi?
Demi Moore em seu auge
“A Substância” conta a história de Elisabeth (Demi Moore), uma atriz que já foi muito famosa e bem-sucedida. Aos 50 anos, ela é apresentadora de um programa de ginástica, e recebe a notícia de que será trocada por uma atriz mais jovem.
Com isso, Elisabeth entra em crise. Mas tudo muda quando ela descobre a Substância, uma espécie de droga que promete torná-la “a melhor versão de si mesma”, mais jovem e mais bonita.
Eventualmente, ela cede à tentação e dá vida a Sue (Margaret Qualley), um alterego que “nasce” de Elisabeth. Mas Sue não existe sem sacrifícios, e a coexistência das duas se torna mais uma questão na vida da veterana.
Cena de ‘A Substância’
Divulgação
Qualley (“Era Uma Vez em Hollywood”, “Pobres Criaturas”) é um ponto forte em cena: como Sue, ela é sexy, angelical, e tem aquele egocentrismo insaciável da juventude. A atriz convence no fascínio dos outros – e dela mesma – pela personagem, criando uma dinâmica feroz com Elisabeth.
Mas o maior acerto do filme é Demi Moore. A escolha da atriz – de beleza praticamente unânime – chega a ser bizarra, porque é quase inacreditável que alguém como ela passe por esse tipo de pressão estética. Mas como a própria Demi já relatou, nem ela, um dos maiores sex symbols dos anos 90, escapou de odiar a própria imagem.
No livro de memórias dela, intitulado “Inside Out”, a atriz reflete sobre como foi objetificada e teve muitos problemas com o próprio corpo ao longo da carreira. Ela chegou a entregar uma cópia de seu livro pra diretora de “A Substância”. E assim, conseguiu o papel.
Cena de ‘A Substância’
Divulgação
A atuação de Moore faz “A Substância” ser brutal e, não à toa, rendeu à atriz o Globo de Ouro, primeiro prêmio de sua carreira. Demi se permite ficar feia e está totalmente à mercê do papel, disposta a deixar a câmera a escrutinar. Ela sofre, se machuca, se despe, se desmonta e deixa corpo e alma em tela. É o extremo oposto da sutil e contida atuação de Fernanda Torres, que concorre com Demi na categoria de Melhor Atriz.
Exagero visual
“A Substância” trata sobre temas que rendem muito aprofundamento, como beleza, sociedade, feminismo e mais. Mas o filme não se demora tanto na discussão – em vez disso, esmiuça o mesmo argumento até expor o seu absurdo. Com muitos tons cômicos, “A Substância” é mais uma sátira que uma reflexão sóbria.
Em tempos de Ozempic e procedimentos estéticos cada dia mais comuns, Fargeat explora uma tese que, hoje, já é notícia velha: o fato de que o corpo pode se tornar descartável em nome de um padrão de beleza – geralmente reforçado ou imposto por homens.
Cena do filme ‘A Substância’
Reprodução
A história mostra personagens masculinos que beiram o ridículo. Afinal, esse padrão é desigual e afeta muito mais as mulheres. Mas há uma escolha contínua de Elisabeth ao longo do filme e mostra que, em algum momento, ela também aceitou ser vista como um objeto.
Este é um filme que fala sobre imagem e não poupa o espectador de nenhum visual. São vários close-ups de sangue, corpo e comida, todos igualmente nojentos. O tratamento visceral – literalmente – do tema valoriza o argumento de Fargeat, mostrando que por trás do ideal de beleza, não falta feiúra.
Final divide opiniões
Quem assistiu ao filme no cinema sabe que o final arrancou reações de todos os tipos. Há relatos de pessoas que saíram das salas, especialmente ao chegar na terceira parte do filme – para lá de grotesca.
O susto é válido. No início de “A Substância”, a história progride gradativamente, com uma narrativa que, a princípio, não parece tão descolada da realidade. Já nas últimas cenas, o filme se torna uma overdose visual, sonora e narrativa. Isso pode prejudicar a mensagem inicial.
“A Substância” não é um filme perfeito, muito menos polido – mas justamente pela bagunça, é uma novidade bem-vinda para o cinema e para as premiações. Enquanto muitos filmes seguem o roteiro típico do que é considerado “bom cinema”, este se preocupa somente em impressionar. E nisso, “A Substância” é absolutamente bem-sucedido: é inesquecível, rende discussões e abre caminhos para a estranheza.
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