MC Luanna diz que quer combater mesmice no rap: ‘Pauta dos homens é copia e cola’


Voz de hits como ‘99 Problemas’ e ‘Meio Pá’, cantora surgiu no funk consciente e migrou para o rap em momento que o gênero se expande para as mulheres. MC Luanna diz que quer combater mesmice no rap: ‘Pauta dos homens é copia e cola’
Foi no funk consciente que MC Luanna começou sua carreira musical, em 2020. A cantora baiana queria cantar sobre problemas sociais ao som de batidas do gênero que fossem mais arrastadas. Mas acabou migrando de estilo quando sentiu que ali não teria muito espaço.
“Não tem nenhuma menina que ascendeu cantando funk consciente”, diz a artista, de 30 anos, em entrevista ao g1 (veja o vídeo acima). “Eu queria ser essa pessoa, mas aí eu olhava e pensava: ‘É só homem?’. A única funkeira que estava em ascensão na época era a MC Dricka. Mas ela canta putaria. Não é o que eu queria.”
Suas apostas no funk consciente foram “Kit Rosa” e “Bonde da Hello Kit”, faixas que têm uma energia afropaty e propõem reflexões de temas como racismo e classe social. Ao se desmotivar com o estilo, ela decidiu então ir para o rap. Escolha que a baiana define hoje como certeira.
Primeiro, porque desde 2020 o rap brasileiro passa por uma significativa mudança, com várias mulheres fazendo sucesso — ainda que o gênero continue dominado por homens. Além disso, Luanna diz preferir o mercado rapper ao funkeiro. “O rap te abraça mais. No funk, é muito aquilo de entrar numa produtora, mas não aprender o processo.”
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A cantora MC Luanna
Reprodução
Feats que explodem
O primeiro hit da MC veio em 2022, com “Meio Pá”, parceria com o trapper Veigh. Foi com essa música que ela viu seus números dispararem nas plataformas e, de brinde, ganhou a primeira onda de hate, com fãs do paulista criticando sua participação na faixa.
No ano seguinte, surgiu outro feat de peso, “99 Problemas” — com a Duquesa, artista que é agora um dos principais nomes da cena hip hop. A canção bombou principalmente pela letra, que traz o refrão: “No RJ tem pica/ em SP tem pica/ em BH tem pica/ sempre vai ter pica/ 99 problemas de uma negra bonita/ pica não tá na lista”.
Luanna também gravou os feats “Karma” (com N.I.N.A) e “Poetisas no Topo 3”, cypher feminista com Ajuliacosta, Attlanta, Budah, Mac Júlia, Maru2D, N.I.N.A e Sodomita.
Embora tenha sido a partir desses feats que a MC ficou conhecida, ela confessa que chegou a se incomodar com a possibilidade de não ter o mesmo reconhecimento pelo trabalho solo.
“Já teve uma época que pensei: ‘Ai, eu não quero ser só conhecida por feats. Eu também sou grandiosa solo'”, diz a cantora.
Seu primeiro disco, “44”, foi gravado em 2022. Em outubro do ano passado, ela lançou “Sexto Sentido”, álbum com 16 músicas com letras sobre amor, estereótipos do que é ser rapper, e dilemas da adolescência de Luanna.
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Fora do ‘copia e cola’
“Em ‘Sexto Sentido’, eu atraí mais público masculino [do que o anterior], mas porque é um álbum em que eu não estou odiando tanto os homens [nas letras]”, afirma ela, ao comentar sobre seus fãs.
Shows de cantoras como ela, Duquesa, Ebony e Ajuliacosta, têm plateias majoritariamente femininas. A baiana vê isso com orgulho, mas faz ressalvas. “Falta mais público masculino? Falta. Mas falta uma educação dos próprios rappers. Se eles não mostram que os fãs precisam escutar mulheres, eles não vão escutar, sabe? Chamar só uma mulher para um projeto musical de 7 pessoas?”
“O rap feminino cresceu muito nesse ano. Só que eu sinto que os caras estão sendo obrigados a engolir. Obrigados a nos ver nos espaços, a nos ouvir. O que as meninas estão fazendo é muito diferente. É muito mais atrativo, porque tem mais conteúdo. A pauta dos homens é copia e cola, copia e cola, copia e cola. As pessoas cansaram de ouvir a mesma coisa.”
A crítica de Luanna cutuca a vasta quantidade de canções sobre ostentação, sexo e poder, temáticas frequentes nos hits do estilo. Segundo ela, o problema não é o assunto, mas a fórmula em que é produzido.
A cantora MC Luanna
Divulgação

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