Hoobastank e a relação complicada com ‘The Reason’: ‘Música ficou maior do que a própria banda’


Balada foi uma das mais tocadas de 2004. Vocalista da banda americana diz que fazer sucesso ‘foi uma luta’ e relembra tretas com fãs e gravadora. Série ‘Quando eu hitei’ tem artistas que sumiram. Quando eu hitei: Vocalista do Hoobastank não se empolgou com o sucesso de ‘The Reason’
O Hoobastank já tinha quase 10 anos de carreira na cena do rock alternativo americano quando lançou aquele que seria o maior hit da vida deles. “The Reason” foi uma das canções mais tocadas no mundo em 2004. A música chegou ao segundo lugar da principal parada da revista “Billboard”, em uma época com o pop rock já em baixa.
Muitos casais se empolgaram com essa balada apaixonada de dedilhado insistente, mas o vocalista Doug Robb nem tanto. “Não era uma daquelas músicas que olhamos um para o outro e ficamos tipo: ‘oh meu Deus, essa coisa é incrível’. Estávamos tão alheios ao potencial da música que quando terminamos ninguém a escolheu como single”, relembra Robb ao g1 (veja a entrevista no vídeo acima).
Na série “Quando eu hitei”, artistas do pop relembram como foi o auge e contam como estão agora. São nomes que você talvez não se lembre, mas quando ouve a música pensa “aaaah, isso tocou muito”. Leia mais textos da série e veja vídeos ao final desta reportagem.
O quarteto americano Hoobastank em 1996
Divulgação/Site Oficial
O cantor não é uma pessoa perfeita, errou sua previsão e “The Reason” virou trilha obrigatória de casamentos nos últimos 20 anos. Ela fez o Hoobastank vender mais de 10 milhões de álbuns e tocar em estádios. Mas não por muito tempo.
“Nós tivemos um gostinho de como eu acho que os fãs mais superficiais de pop podem ser… eles amam você por seis meses ou, sei lá, durante o ano em que sua música é grande, mas depois eles se vão. Então, no ano seguinte, voltamos a tocar no mesmo tipo de local de antes. Estávamos acostumados a tocar em teatros menores, lugares assim.”
Douglas Seann Robb é, de fato, um cara bem resignado. Não que ele se sinta incomodado com o sucesso de “The Reason”, mas também não dá para falar que ele curtiu tanto assim. É que o som da banda, no geral, é bem diferente (veja trechos de clipes no vídeo do topo).
Hoobas… o quê?
O Hoobastank foi formado em Agoura Hills, cidade de 20 e poucos mil habitantes, na região montanhosa de Santa Monica, no sul da Califórnia. O nome da banda foi inventado por um amigo deles dos tempos da escola. Não quer dizer nada em especial. “Você faz e fala muitas coisas idiotas no Ensino Médio. Talvez a gente devesse ter mudado o nome para Now is the Time ou alguma coisa assim. Soaria um pouco mais sério.”
Doug Robb, vocalista do Hoobastank no clipe de ‘The Reason’, e em foto recente
Reprodução/YouTube da banda
Eles sequer assinaram o primeiro contrato como Hoobastank. “Acabamos assinando como membros individuais, para poder mudar o nome da banda depois. Mas tivemos um show aqui em Hollywood e algumas das pessoas da gravadora estavam lá. E a plateia estava gritando Hoobastank, todo mundo, como se fosse uma grande banda. E logo após o show, um dos caras do departamento artístico veio até o camarim e disse ‘Vocês têm que manter esse nome. É bom demais. É perfeito demais para vocês’. E o nome ficou.”
Segundo ele, a banda começou tocando “música de festa”, com um som mais engraçadinho. Depois, passou a ser “uma banda mais séria”. “A gente se via como uma banda de rock alternativo, sei lá, de som bem pesado, mas com um lado melódico”, define, um pouco hesitante. O primeiro álbum, batizado com o nome da banda, saiu em 2001, com sonoridade na cola do new metal e letras menos românticas. O som tinha ainda uma pegada funkeada, fazendo lembrar o som do Incubus, com o qual o Hoobastank dividiu palcos.
Uma ‘decisão de negócios’
Essa fase passou longe do sucesso, até que executivos da Island Records ouviram “The Reason”. “Eu me lembro de ir à gravadora e eles nos dizerem que queriam lançar essa música como o segundo single”, lembra ele. “Nós lutamos contra eles. Dissemos: ‘Não, não queremos, porque não é assim que a gente se vê’. Eles disseram: ‘Bem, já existem estações de rádios que estão tocando a música. Então, ou podemos dizer a eles para parar ou podemos surfar nessa onda’.”
Doug Robb, vocalista do Hoobastank
Divulgação/Site Oficial
A escolha do single foi mera “decisão de negócios”. “A música obviamente explodiu, ficou maior do que a própria banda. Mais pessoas conheciam a música do que a banda”, resume.
O Hoobastank mudou totalmente de público: “Tocávamos em pequenas casas para jovens de uns 20 e poucos anos, como a gente se via… e fomos tocar nesses grandes ginásios, arenas cheias dos pais dessas pessoas, basicamente fãs de música pop.”
“Ela era, falando a real, só mais uma música quando a gravamos… estávamos orgulhosos dela, mas não mais do que a música de antes ou a de depois no álbum. Nosso produtor até nos falou: ‘Hey, voltem para o estúdio e continuem gravando, porque não achamos que vocês tenham um single’.” Mas eles tinham, e era “The Reason”. Ela acabou batizando o segundo álbum, lançado em dezembro de 2003.
Robb tem uma visão bem direta sobre ter uma grande gravadora em sua vida. “Eu acho que um artista quando é lançado pensa que tem muito controle da carreira e de como ela vai se desenvolver… então, uma vez que começa, percebe: ‘Que merda! Eu só posso fazer esse tanto, o resto é feito pelo resto das pessoas’.”
Ainda tocando no rádio
Doug Robb, vocalista do Hoobastank, faz uma selfie com camisa do Peru
Divulgação/Facebook da banda
Outro dia, o cantor estava no carro com o filho August, quando o menino começou a cantarolar “Don’t Stop Believin”, do Journey, banda de rock californiana que viveu o auge nos anos 80. O garoto perguntou se a música era lembrada até hoje…
“E eu disse: ‘Sim, você ouve em todo o lugar’. E ele disse: ‘É meio como aquela sua música’. E eu respondi: ‘Eu acho que sim’. É uma canção com mais de 15 anos, que ainda ouço no rádio, nas redes sociais, nas lojas… Eu me sinto muito sortudo, porque pode ser uma daquelas músicas que vão durar várias gerações, sabe? Eu sou super agradecido que fizemos algo que durou tanto tempo”.
“The Reason” foi criada da mesma forma que as outras músicas da banda. “Dan, o guitarrista, aparece com um riff ou um verso ou às vezes uma música completa, sabe? Eu me lembro dele me dando ideias em um CD. E pude ouvi-lo na minha casa e fiquei tipo ‘Oh, isso é muito legal’. Alguns overdubs de guitarra que ele tinha naquela ideia em particular acabaram sendo as melodias ou parte das melodias da música, principalmente do refrão.”
Ele tirou frases como “não sou uma pessoa perfeita”, que abre a música, dos cadernos que ele guardava, cheios de anotações. “Tudo meio que se encaixou. Juntamos as letras e melodias tipo em uma noite, sabe? Foi algo do tipo ‘Oh, aqui vamos nós… Você me deu aquela coisa ontem. Aqui está ela pronta hoje’.”
‘The Reason’ nunca mais
Doug Robb, vocalista do Hoobastank
Divulgação/Facebook do grupo
Depois de “The Reason”, o Hoobastank continuou lançando álbuns e saindo em turnês. A banda nunca mais lançou uma balada pop rock, sempre preferiu um som entre o pós-grunge e o new metal.
“Uma parte do nosso público que estava conosco antes do hit saiu fora: ‘Me esqueci de vocês, caras’. É uma forma meio idiota e meio jovem de se relacionar com a música, mas muita gente é assim, infelizmente.”
Por isso, ele diz que eles se sentiram “como uma banda sem um lar”. “Era como se tivéssemos construído uma credibilidade roqueira e quase a trocamos por essa enorme popularidade. Mas uma vez que isso acaba, você volta para o fundo do poço e nada mais é como era antes, sabe? Então, foi uma luta.”
Ele disse que houve algum sofrimento com essas idas e vindas, mas hoje consegue analisar melhor: “Se você não puder dar um passo para trás e olhar para isso e perceber o que está acontecendo e rir um pouco e se divertir com o que aconteceu, isso vai te deixar louco.”
Dan Estrin, Jesse Charland, Doug Robb e Chris Hesse: a formação atual do Hoobastank
Divulgação
E se pudesse escolher uma música sem ser “The Reason” para representar a banda, qual seria? “Tem uma música do terceiro álbum, ‘Every Man for Himself’, chamada ‘The first of me’, que liricamente eu acho que foi uma música forte para mim.”
A letra tem versos como “Algo que eles podem vender / Coloque em cima de uma prateleira / Mas eu não estou à venda”. “Ela meio que lidou com essa escolha de fugir de ‘The Reason’… E a gravadora falava: ‘Hey, façam outra como essa. Nós gostamos dessa, porque fez muito dinheiro e queremos que vocês façam isso de novo’.”
Nos shows, Robb cantava “The first of me” com o desencanto estampado no rosto. “Já estávamos resistindo muito para não lançar qualquer coisa que soasse ou lembrasse essa música. A gente sempre se negava, não queria se repetir e essa música foi uma boa forma de mostrar o que foi essa luta na nossa carreira.”
É sintomático ele escolher justamente essa música, quase uma anti-“The Reason”. Ela representa a luta do Hoobastank para se desassociar de um hit ficou muito, mas muito maior do que a banda.
Também naquela época, Doug apareceu na lista da revista “People” como um dos 50 solteiros mais cobiçados do mundo. “Olhando algumas fotos me arrependo das minhas escolhas de estilo, alguns penteados e algumas roupas que eu usei.”
Doug Robb, do Hoobastank, em dois momentos com a família
Divulgação/Instagram do cantor
Mas os tempos de galã já eram. Desde 2008, ele é casado com a também cantora Christiana Lund. Hoje, o casal tem um filho e uma filha. “É mais normal para mim ser pai de família do que ser uma estrela do rock”, diz, rindo timidamente.
“Para a maioria das pessoas, eu ser um cantor famoso era muito estranho… ‘Como assim o Doug cantando? Isso não parece natural’. Mas ser pai tem sido totalmente normal para mim. Foi como calçar um velho e confortável par de sapatos”, compara.
“Eu faço tudo com essas crianças. Vivo cozinhando e limpando. Faço tudo o que precisa ser feito. Sou o treinador de softball, beisebol e futebol da escola. Estou lá o tempo todo. Às vezes, é exaustivo, mas eles não são crianças por tanto tempo e eu sei quando eles não me querem mais por perto. E posso dizer que eles acham legal, sabe? Eles não querem admitir isso na minha frente, porque eles não querem me elogiar de jeito nenhum.”
VÍDEOS: QUANDO EU HITEI
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