Candidata a hit do próximo carnaval, música junta humor e sexo com vários trechos de canções do pagodão baiano. Alerta: esta reportagem contém letras de conteúdo explícito. Os artistas que devem bombar em 2025
“Resenha do Arrocha” tem uma letra que “desagrada ao Deus cristão”, acredita J. Eskine, o cantor da música. Mesmo assim, ele atribui o enorme sucesso da canção a uma vontade divina.
“Solta a carta, caralho, tigrinho filha da puta / Pra eu pegar o meu dinheiro e comer umas quatro puta / É vuk-vuk, vuk, vuk na onda maluca”, canta o músico no comecinho da faixa, após pedir para não ser levado a sério.
Nesta semana, o g1 faz uma série especial de apostas musicais para 2025. Do rap ao forró, conheça artistas que devem se destacar.
O cantor J.Eskine, de ‘Resenha do Arrocha’
Divulgação
Um dos principais hits deste verão, “Resenha do Arrocha” tem vários trechos nessa pegada. Mesclando bastante humor e sexo, há versos como “ela roça no pau”, “te boto na cama te soco a banana”, “ela quer pegar na minha espada” e “deixa eu ver se tá lisinha”.
“É algo que não agrada ao Senhor, mas também é algo que Deus fez para mudar a história da minha família, que é muito humilde”, diz o artista ao g1. “Essa música mudou tudo na minha carreira. A minha vida mudou também e, logicamente, eu tinha que mudar a vida da minha família. Minha mãe não está mais morando na casa onde a gente cresceu.”
Aos 25 anos, Eskine é a mais nova revelação da música brasileira, e sua popularidade deve crescer em 2025. O sucesso veio justamente graças a “Resenha do Arrocha”, lançada em 29 de novembro do ano passado.
Muita gente não sabe, mas o hit é um medley — une trechos de outras músicas que já existiam antes de seu lançamento. A canção nasceu a partir das faixas:
“Bloco dos amigos”, do cantor DDL 071
“Ela faz dsgc no pau do ladrão”, do Papo de Cria
“Passinho do Romano”, do MC Crash
“Bloquinho do Naipe”, do Oh Gerente
“Bloquinho dos amigos”, do Bergui071
“Pau nas Canjhangas”, da Banda do Truta
“Joga pro Coroa”, do Oh Playba
“Bloquinho conexão RJ x BA”, de Deene
“Bloquinho 3.0 do PR”, do PR Black
“Modinha”, do Novo Assunto
A maioria das músicas pertence ao pagodão baiano. A única exceção é “Sarrada no ar”, funk paulistano que bombou em 2017. Visionário, J. Eskine pegou o grude lírico das canções — sucessos na Bahia — e o jogou num som dançante de arrocha. A faixa ficou bem chiclete.
Jogo do Tigrinho invade hits do funk ao arrocha
Safadeza light
“Lancei ‘Resenha do Arrocha’ para chamar a atenção para o EP”, diz o cantor em referência a “Gângster também ama”, disco que já estava prontinho quando o hit bombou, mas que só foi lançado no mês seguinte.
Depois do lançamento do EP, Eskine gravou “Resenha do Arrocha 2.0”. Composta por ele, a letra segue o mesmo estilo do hit: “Me chamou na casa dela/ área de perigo/ ela tava louca/ doida pra foder comigo/ no quarto dela/ nós dois envolvido/ eu botando nela/ e lá fora, troca de tiro”.
Mas mesmo disposto a surfar na onda que lhe deu sucesso, o baiano cogita gravar versões light das músicas desbocadas. A ideia veio quando ele foi convidado para se apresentar na Rádio Salvador FM e precisou improvisar outra letra para “Resenha do Arrocha” — tinha que ser mais leve. Então, “pau” virou “vrau”. “Xereca” virou “boneca”. “Te soco a banana” veio acompanhado por “te faço uma vitamina”. E por aí vai.
J. Esquine no clipe de ‘Resenha do Arrocha’
Reprodução
“Foi tudo no freestyle. Dei muita risada na hora, porque eu ficava pensando nas palavras que ia usar. Não tinha me preparado”, diz Eskine, que neste mês se apresentou ao lado de Anitta, na capital baiana.
Ainda que seu maior hit sugira o contrário, o cantor é meio tímido. Ao recitar os versos da música na entrevista, ele cortou todas as palavras explícitas e riu da letra.
Trapper no arrocha
Nascido em Salvador, Eskine engatou na carreira musical dentro do rap, com foco no trap romântico. Sua primeira gravação foi “Faixada”, em 2020, ao lado de Shook e B.I.G Carter. No mesmo ano, lançou “Minha Saída”, sua primeira faixa solo.
Desde então, ele vinha se dividindo entre ser trapper no estúdio e cantor de MPB em transporte público.
O cantor J.Eskine, de ‘Resenha do Arrocha’
Thiago Chuck
“Entrava nos ônibus, e tinha muito preconceito. Ou de um motorista, ou de um passageiro”, conta ele. “Sempre fui um pouco frio com essas questões porque acontecia muito. Mas teve um dia que o motorista prendeu meu braço na porta e não queria abrir. Dizia que só abriria se visse uma viatura da polícia. Até que os passageiros começaram a reclamar, e ele acabou abrindo.” O caso foi filmado, postado nas redes e ganhou repercussão na cidade.
Mas o maior lucro do artista vinha mesmo de suas apresentações em balsas, no trajeto de Salvador a Itaparica. Ele já tinha até se acostumado com a rotina, mas aí veio “Resenha do Arrocha” — agora com mais de 47,5 milhões de plays no Spotify.
A música é o segundo arrocha de Eskine. Antes dela, teve “Naquela Noite”, que assim como o EP “Gângster também ama”, traz um arrocha mais arrastado e de versos melosos — cheios de romantismo.
“Eu sempre gostei de falar de amor. Gosto de criar histórias amorosas quando componho”, afirma o músico que agora, no entanto, está mais associado a uma estética de safadeza e humor.
“A galera implora por mais arrocha desse jeito. Meus próximos lançamentos vão ser trabalhados nisso para, depois, ir mudando aos poucos.”
Por enquanto, vai ser só vuk vuk vuk na onda maluca.
J. Eskine, de ‘Resenha do Arrocha’, bombou cantando safadeza, mas prefere letras românticas
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