Moeda-meme de Trump acumulava uma valorização de mais de 450% nesta terça-feira desde seu lançamento. Primeira-dama Melania Trump também tem sua memecoin. Donald Trump dança acompanhado da esposa Melania Trump e do filho Barron Trump
Carlos Barria/Reuters
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e sua primeira-dama, Melania Trump, criaram duas “memecoins” que estão movimentando o mercado de criptomoedas nos últimos dias.
Lançada na última sexta-feira (17), por exemplo, a criptomoeda de Trump, batizada de $Trump, chegou a valorizar mais de 680% na última segunda (20), atingindo mais de US$ 10 bilhões (R$ 60,5 bilhões) de valor de mercado.
Segundo o CoinMarketCap, que reúne dados do mercado de criptomoedas, a moeda de Trump valia US$ 53,86 (R$ 325,84) ao meio-dia – na sexta-feira, ela foi lançada por aproximadamente US$ 8 (R$ 48,40).
A criptomoeda de Melania Trump, por sua vez, lançada no domingo (19), chegou a apresentar uma valorização de mais de 25% na mesma hora, passando de cerca de US$ 7 (R$ 42,35) para US$ 9,12 (R$ 55,17).
Após o discurso de posse do novo presidente dos EUA, no entanto, a criptomoeda de Trump desacelerou sua valorização. Na manhã de terça-feira (21), a memecoin já acumulava uma valorização de em torno de 450% desde sua criação, cotada a US$ 37,89 (R$ 229,23). Já o ativo de Melania passou a registrar uma desvalorização perto de 46%, cotada a US$ 4,34 (R$ 26,26).
As memecoins – também conhecidas como moedas-meme –, são criptomoedas normalmente inspiradas em memes, personagens ou tendências da internet. Como não há regulamentação desse mercado, qualquer um pode criar e ter sua memecoin. (entenda mais abaixo)
Segundo a Coinbase, essas criptomoedas são normalmente apoiadas por comunidades online e têm a intenção de serem leves e divertidas. Apesar desse caso de valorização, as memecoins são ainda mais arriscadas que as criptomoedas tradicionais.
Segundo Fábio Plein, diretor regional da Coinbase para as Américas, as memecoins funcionam de maneira semelhante às criptomoedas tradicionais e dependem da tecnologia blockchain, que é um tipo de banco de dados usado para rastrear ativos virtuais e que mantém um registro de todas as transações realizadas nas redes.
Plein afirma que “a maioria das memecoins são meramente instrumentos de negociação, ao contrário do Ethereum e de outras moedas utilitárias vinculadas a recursos específicos da blockchain”.
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Por que Trump e Melania criaram uma criptomoeda?
O mercado de criptoativos se caracteriza, principalmente, por ser descentralizado — ou seja, não depende de governos ou de bancos centrais para a emissão de moedas.
Na prática, isso significa que qualquer pessoa que tenha conhecimento em programação pode criar um ativo digital, incluindo o presidente dos Estados Unidos e sua primeira-dama, se fosse o caso.
Segundo o analista-chefe da Coinext, Taiamã Demaman, a evolução das blockchains e do ecossistema cripto proliferaram, nos últimos meses, uma porção de ferramentas que permitem que qualquer usuário com mínima noção de ferramentas digitais, seja capaz de criar uma criptomoeda e lançá-la em poucos minutos.
“Essas ferramentas foram responsáveis por milhares de memecoins nos últimos meses. Apesar de ser fácil criá-las, no entanto, o maior desafio é conseguir ter impacto no lançamento e na criação das comunidades”, diz o analista.
No caso de Trump e Melania, no entanto, o desenvolvimento das duas criptomoedas ficou a cargo da plataforma blockchain Solana.
O site oficial de ambas as criptomoedas indica que esses ativos têm a intenção de “funcionar como uma expressão de apoio e engajamento aos valores incorporados” pelos símbolos $Trump e Melania. Eles não pretendem ser, nem se tratam de uma oportunidade de investimento, contrato de investimento ou título de qualquer tipo.
Segundo Plein, da Coinbase, entre as etapas principais na criação de uma criptomoeda estão:
A definição de seu propósito: qual problema ela resolverá? como agregará valor aos usuários?;
A escolha da plataforma blockchain;
A determinação da projeção da criptomoeda, ou seja, a decisão sobre o fornecimento total das moedas, o método de distribuição e o mecanismo de consenso (protocolo que garante que os participantes concordem com o estado do sistema);
A garantia de que a criptomoeda esteja em conformidade com todas as leis e regulamentos relevantes
O que o mercado espera para essas criptomoedas?
Segundo os especialistas consultados pelo g1, o mercado cripto é influenciado por uma gama variada de fatores políticos, macroeconômicos, regulatórios e tecnológicos – e a movimentação das memecoins de Trump e Melania no dia da posse do presidente norte-americano é um bom exemplo disso.
“A posse de Trump foi um impulso para o mercado cripto como um todo, e as memecoins, por serem muito voláteis, tendem a se beneficiar dos movimentos principais do Bitcoin com muito mais intensidade, como de fato aconteceu após a eleição”, diz Demaman.
O analista reforça, ainda, a sinalização mais positiva para o segmento após a entrada oficial de Elon Musk, homem mais rico do mundo e dono do X e da SpaceX, no governo norte-americano.
“O bilionário sempre foi um entusiasta das memecoins, sobretudo da Dogecoin, cujo nome do seu departamento no governo norte-americano remete propositalmente, o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE)”, completa o analista da Coinext.
Durante sua campanha, Trump se mostrou favorável ao segmento (entenda mais abaixo), e a leitura é que sua vitória nas eleições presidenciais norte-americanas pode ser um grande passo para o setor.
“Essa foi também uma vitória da inovação e um sinal para a necessidade de regras mais claras para ativos digitais nos EUA”, diz Plein, reiterando que os próximos anos serão críticos para a legislação do setor.
“Esperamos que os candidatos eleitos de fato se posicionem a favor de uma atualização para o mercado americano, o que tende a influenciar também outros mercados globais, como o Brasil”, completa o executivo.
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Bitcoin em ascensão
As memecoins de Trump e Melania não foram as únicas a sentirem os efeitos da eleição do republicano nos Estados Unidos. O bitcoin, criptomoeda mais famosa do mundo, surfou a onda otimista e superou a cotação de US$ 100 mil pela primeira vez na história.
A moeda digital estava na casa dos US$ 104 mil no início da tarde desta segunda-feira (20), segundo a plataforma CoinMarketCap.
Antes crítico dos criptomoedas, Trump mudou de tom durante sua campanha, financiada em parte por grupos do setor. Passou, então, a prometer fazer dos Estados Unidos “a capital mundial do bitcoin e das criptomoedas”.
Para especialistas, o ativo digital deve seguir em alta — ao menos neste primeiro ano de governo. José Cassiolato, sócio da RGW Investimentos, explica que o bitcoin era considerado um ativo muito exposto às taxas de juros. E que, agora, o cenário mudou.
Segundo ele, a criptomoeda tendia a ficar mais atrativa quando investimentos tradicionais rendiam menos. Ou seja, quando os juros nos EUA estavam baixos, a procura pelo bitcoin aumentava, fortalecendo a moeda digital.
“Quando os juros foram a zero, ele se valorizou muito. Em 2023, quando as taxas norte-americanas subiram a 5%, ele se desvalorizou”, lembra. “Agora, esse paradigma foi quebrado. Os juros estão historicamente altos e, mesmo assim, o bitcoin está supervalorizado.”
Um dos pontos que explicam a mudança é a agenda regulatória da moeda representada por Trump. Segundo Cassiolato, o novo presidente faz ficar para trás a imagem de que o Estado é contra o ativo digital, ou de que ele representaria uma ameaça para o próprio dólar.
O especialista reforça que, agora, o bitcoin tende a atuar contra o “colapso do sistema”, e não mais se beneficiar dele. “O universo de finanças descentralizadas vive uma época de ouro. Deverá ter uma agenda regulatória muito positiva e irá crescer de forma significativa ao longo da gestão de Trump.”
Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, ressalta que também é preciso entender se o republicano irá, de fato, utilizar o bitcoin para compor as reservas norte-americanas, como afirmou em campanha.
“Isso, sem sombra de dúvidas, acarretaria em uma demanda maior pelo criptoativo. Consequentemente, o preço subiria cada vez mais.”
“Além disso, outras economias podem seguir o mesmo caminho. Afinal, os EUA são referência global. O movimento também poderia contribuir para uma alta ainda mais elevada do bitcoin”, conclui.