♫ ANÁLISE
♪ Geraldo Azevedo simboliza a face e a voz mais zen da nação musical nordestina. Sem a eletricidade de colegas como o conterrâneo Alceu Valença e o paraibano Zé Ramalho, o cantor, compositor e violonista pernambucano vive em voltagem mais baixa que realça a doçura romântica do autor e intérprete de Caravana (1975), parceria com Alceu que deu projeção a Geraldo há 50 anos.
Na época em que o Brasil foi atrás de Caravana, atraído pela música amplificada na trilha sonora da novela Gabriela (1975), o artista tinha 30 anos e talvez não imaginasse que, passadas cinco décadas, o povo do Brasil ainda seguiria a caravana do mais novo octogenário da música brasileira.
Nascido em 11 de janeiro de 1945, às margens do rio São Francisco, em Jatobá, na zona rural de Petrolina (PE), Geraldo Azevedo de Amorim chega hoje aos 80 anos no embalo de obra expressiva.
O estado de espírito do aniversariante do dia parece ter sido traduzido pelo título da recente canção Estou em paz, apresentada pelo cantor em novembro, em single produzido por Robertinho de Recife. Parceria de Geraldo com Sérgio Peres, Estou em paz se juntou a um cancioneiro de sabor tropical.
Nesse cancioneiro melodioso, a poesia sensível dos versos – escritos por poetas letristas como Fausto Nilo e José Carlos Capinan – se harmoniza com o romantismo atemporal da obra de Geraldo sem anular a eventual vivacidade dos temas de caráter mais forrozeiro.
Sem falar que o cancioneiro autoral de Geraldo Azevedo também vem temperado com a latinidade caribenha que banha parte da música da nação nordestina.
Da vertente mais romântica, Dia branco (Geraldo Azevedo e Renato Rocha, 1979) atravessa gerações como a trilha sonora preferida dos casais rumo ao altar. Mas como esquecer da nostalgia onírica de Você se lembra (Geraldo Azevedo, Pippo Spera e Fausto Nilo, 1996), uma das grandes canções de Geraldinho, como o artista por vezes é chamado carinhosamente pelos colegas?
A chama romântica continua no ar a cada vez que se ouve uma canção como Chorando e cantando (Geraldo Azevedo e Fausto Nilo, 1986). Já Moça bonita (Geraldo Azevedo e José Carlos Capinam, 1981) exala brejeirice que cheira a botão de laranjeira, como diz o verso de Capinan.
Político ao anunciar o exílio da Canção da despedida (Geraldo Azevedo e Geraldo Vandré, 1983), música que se afina com a trilha da vida de artista que foi perseguido e inclusive torturado pela ditadura, o compositor de Bicho de sete cabeças (Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e Renato Rocha, 1979) tem assinatura própria na música brasileira.
Quando Geraldo Azevedo se junta com os elétricos parceiros Alceu Valença e Zé Ramalho, o resultado pode ser tão viajante quanto Táxi lunar (1977). Mas, em essência, a viagem de Geraldo Azevedo é feita ao redor do coração. Parceiro das delícias do amor, o artista parece viajar pelo mundo da lua de mel quando cria canções que ecoam há décadas na trilha sonora romântica do Brasil.
Logomarca comemorativa dos 80 anos de Geraldo Azevedo
Reprodução
Voz mais zen da nação nordestina, Geraldo Azevedo chega aos 80 anos com obra romântica de sabor tropical
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