Gênero tem ganhado fôlego na plataforma, conquistando novos fãs para bandas e sucessos antigos. Nesta semana, g1 faz série especial com novos rumos da música para 2025. Qual gênero musical domina o TikTok? No Brasil, muitas vezes é o funk, o sertanejo ou o piseiro; no mundo, frequentemente é o pop. Mas um estilo improvável tem aparecido nas paradas virais nos últimos anos: o rock.
Em 2024, o TikTok teve sucessos como:
“Maps”, do Yeah Yeah Yeahs (2003)
“Sweater Weather”, do The Neighborhood (2013)
“Come And Get Your Love”, do Redbone (1974)
“Back to Black”, do AC/DC (1980)
O fenômeno é especialmente curioso quando se considera que o TikTok tem muitos usuários jovens – que, quando essas músicas foram lançadas, ainda eram bebês, crianças ou sequer tinham nascido.
Então, como o rock tem entrado para o radar dos mais novos? Entenda o fenômeno do “rocktok”:
Nesta semana, o g1 faz uma série especial com os novos rumos do pop para 2025. Fandoms com mais limites, hits mais longos, anti-influenciadores e rock de TikTok estão entre as tendências que ganham força.
Jovens criam e interagem com conteúdo de rock no TikTok
Reprodução/TikTok
O lugar onde o rock não morreu
Muitos jovens usam o TikTok para interagir com conteúdos de séries, filmes e celebridades. Lá, são comuns os “edits”, vídeos com compilados de cenas, com trilha sonora divertida, melancólica ou dramática.
Então, várias canções se popularizam na plataforma porque servem bem tanto para os “edits”, quanto para vídeos pessoais. É o caso de “Sweater Weather”, hit do The Neighborhood, ou “I Wanna Be Yours”, do Arctic Monkeys (ambas de 2013) – faixas que dão uma “aura” sexy, romântica, ou “dark” aos vídeos.
Esse apelo como trilha é fundamental para o sucesso no TikTok. Ao falar sobre virais de bandas alternativas como Bring Me The Horizon, a “Billboard” americana escreveu que o grupo tinha músicas “emocionais, dramáticas, intensas. E jovens adoram drama; drama rende um bom vídeo”.
Vídeo sobre ‘Sweater Weather’, do The Neighborhood
Reprodução/TikTok
Comentários em vídeo sobre ‘Sweater Weather’, hit de 2013 do The Neighborhood
Reprodução/TikTok
Por ser uma rede orientada por vídeos e imagens, usuários do TikTok interagem muito com conteúdos que representam seu estilo, sua personalidade e gostos. Fotos de cabelo colorido, tênis Converse All-Star e cenas de filmes juvenis se mesclam com músicas de rock, promovendo mais uma “estética” jovem alternativa do que propriamente uma sonoridade.
Mas isso também faz parte da relação dos novos fãs com o rock. Afinal, é um gênero intimamente relacionado com a moda e as imagens.
As velhas bandas da nova geração
Uma das bandas mais usadas nos “edits” é a britânica Arctic Monkeys. O grupo é um dos maiores expoentes do indie rock dos anos 2000 e 2010. Com o TikTok, emplacou músicas antigas de volta nas paradas. De repente, a banda passou a ganhar fãs mais novos que boa parte de seus discos.
Alex Turner, dos Arctic Monkeys, no Primavera Sound 2022 em SP
Fábio Tito/g1
A goianiense Ana Júlia Lima, de 16 anos, é uma dessas fãs. Quando a banda britânica lançou “AM”, seu álbum mais popular, em 2013, Ana estava perto dos 5 anos. Ela conta ao g1 que gosta de Beatles, Metallica, Black Sabbath, Abba, Gorillaz, Led Zeppelin (que se popularizaram antes de ela nascer) e que usa o TikTok para ficar “mais conectada” com esses grupos.
Esse desencontro entre a idade dos fãs de Arctic Monkeys e do grupo é um fenômeno comum: é como os fãs de Beatles que nasceram nos anos 70, ou ouvintes do Nirvana nascidos nos anos 90. Décadas depois das primeiras gerações de fãs, os novos são conquistados não só pelas músicas, como pela nostalgia da época em que elas foram lançadas.
A internet ajuda muito nesse processo, compilando referências estéticas e romantizadas de diferentes épocas – e para o bem do Arctic Monkeys, a cultura pop dos anos 2000 está em alta.
Mas no TikTok, tudo está em alta. Em um dos vídeos republicados por Ana Júlia, o texto diz “queria ter vivido os anos 60”, enquanto a trilha sonora é uma música do Bob Dylan.
Nina Fernandes, de 14 anos, também adora Arctic Monkeys. Ela diz que a plataforma não a apresentou a banda, mas ajudou a manter o carinho por ela. A jovem, fã de k-pop, descobriu bandas como Pierce the Veil, The Smiths, Weezer, Blur, Cigarettes After Sex e Slowdive graças ao TikTok.
Pelo som, pelo humor ou pela estética?
Apesar de muitos jovens se identificarem com algumas bandas, nem sempre esse é o motivo de um hit no TikTok. Em muitos casos, é o humor que catapulta uma faixa antiga ao sucesso viral.
Um exemplo memorável é a faixa “Dreams”, do Fleetwood Mac: antes uma canção sobre coração partido, hoje é lembrada como a trilha sonora divertida de um skatista tomando suco.
Vídeo com ‘Dreams’, do Fleetwood Mac, trouxe música de volta às paradas em 2020
Reprodução/TikTok
Às vezes, esse humor acaba esvaziando ou alterando o significado de uma letra. É o caso de “Just a Girl”, do No Doubt, que voltou às paradas após uma “trend” no TikTok. O sucesso deu um novo gás ao No Doubt, banda que que deu uma pausa em 2015 e retornou aos palcos em 2024 como uma das principais atrações do festival Coachella, nos EUA.
Em “Just a Girl”, a compositora Gwen Stefani se queixa de uma sociedade machista; nos vídeos com a música no TikTok, muitas mulheres reforçam justamente essa ideia de ser “apenas uma garota”, fazendo atividades estereotipicamente femininas.
“Maps”, do Yeah Yeah Yeahs, também não saiu ilesa. A música atingiu o topo das paradas de músicas virais da Billboard em outubro de 2024, 21 anos após seu lançamento. Com uma dancinha irônica que conquistou vários usuários, a “trend” pouco se relaciona com a letra melancólica da faixa.
“[Quando eles lançaram essa música], não estavam preparados para a geração Z”, brincou um fã de Yeah Yeah Yeahs no TikTok.
Apesar disso, a banda comemorou o sucesso e entendeu que, na verdade, o humor “nonsense” é uma parte importante do apelo. Na plataforma de vídeos curtos, usuários nem sempre querem novas músicas profundas para se comover – geralmente, buscam humor ou entretenimento rápido. E afinal, rir também é uma forma de se identificar.
De toda forma, a tendência mostra que ainda há espaço para que o rock não pare no tempo, e até rejuvenesça. Não à toa, artistas da nova geração como Olivia Rodrigo e Billie Eilish vêm construindo sua carreira em diálogo com o estilo – porque o rock sempre foi, e segue sendo, um gênero a cara da juventude.
RockTok: como o TikTok trouxe sucessos do rock para gerações mais novas
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