Exposição é uma das maiores do mundo, feita ininterruptamente há 50 anos. Laerte foi primeira vencedora da mostra; veja depoimentos e fotos. Ziraldo, autor de O Menino Maluquinho, durante atividade do 3º Salão Internacional de Humor de Piracicaba em 1976
CEDHU/ Acervo Prefeitura de Piracicaba
Um pedido de registro do Salão Internacional de Humor de Piracicaba (SP) como patrimônio histórico e cultural imaterial da cidade está sob análise do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) do município. Inaugurada em 1974, em meio à ditadura militar do Brasil, a mostra competitiva celebra 50 anos de existência.
Se aceita, a solicitação será encaminhada para a sanção no Executivo, pelo prefeito Luciano Almeida (sem partido), de acordo com informações da Secretaria Municipal da Ação Cultural (Semac) à imprensa nesta segunda-feira (15).
Imagens antigas de Glauco, Millôr Fernandes, os irmãos Caruso e Ziraldo, além de depoimentos de outros ícones do humor gráfico, como Laerte Coutinho e Zélio Alves Pinto, integram pedido de registro de Salão Internacional como patrimônio de Piracicaba.
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O DPH é um órgão ligado ao Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural (Codepac) do município. Para comprovar que se trata de um patrimônio da cidade, o Centro Nacional de Humor Gráfico de Piracicaba (Cedhu), organizou um vasto inventário com uma série de documentos do acervo do Salão Internacional. Confira parte do material selecionado abaixo.
A cartunista Laerte Coutinho foi a primeira vencedora do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, na edição de 1974, que inaugura a exposição, em meio à ditadura militar brasileira. Naquela época, a mostra competitiva não era dividida em categorias como charge, cartum, escultura, quadrinhos, etc.
Chico e Paulo Caruso foram nomes frequentes nas edições do Salão Internacional de Humor de Piracicaba
CEDHU/Acervo Prefeitura de Piracicaba
A seleção de materiais organizada para compor a justificativa do pedido inclui fotos antigas, algumas das primeiras edições na década de 1970, algumas em preto e branco, catálogos oficiais de edições históricas da mostra, reportagens da imprensa local e internacional, além de depoimentos de artistas que integraram e ainda fazem parte do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Leia alguns dele abaixo.
Este é um momento emblemático para o pedido, lembra Kadeshi, porque o Salão celebra 50 anos de existência em 2023.
“Tornar o Salão Internacional de Humor de Piracicaba um patrimônio cultural imaterial do município, assim como ocorreu com a Festa do Divino e o sotaque e o dialeto piracicabanos, ambos em 2016, reforça a importância do evento para a cidade e também perante o mundo”, afirma o diretor do Cedhu, Junior Kadeshi.
Júri de Seleção do 5º Salão Internacional de Humor de Piracicaba em 1978
CEDHU/ Acervo Prefeitura de Piracicaba
O secretário de Governo e da Secretaria Municipal da Ação Cultural (Semac), Carlos Beltrame, lembra que todos os registros anexados pelo Cedhu – entregues ao Codepac – para comprovar a importância do Salão de Humor têm um elemento em comum, que é o berço de seu nascimento, a cidade de Piracicaba.
“A cidade é o pano de fundo e cenário principal na história do Salão de Humor: foi aqui que nasceu a ideia do evento, foi aqui – e é aqui – o ponto de encontro de grandes representares do humor gráfico, além do Engenho Central, um patrimônio do município, que abriga a mostra principal, paralelas e o Salãozinho de Humor”.
Millor Fernandes durante evento do Salão Internacional de Humor de Piracicaba
CEDHU/ Acervo Prefeitura de Piracicaba
Confira os depoimentos de artistas renomados sobre o Salão Internacional de Humor de Piracicaba
Zélio Alves Pinto, artista plástico, cartunista e um dos fundadores do Salão de Humor de Piracicaba
“Tinha pouco mais de 30 anos quando um dia, pela manhã, fui surpreendido em meu estúdio de desenhista, em São Paulo, por um grupo entusiasmado de professores e estudantes piracicabanos. Tinham lido em uma matéria, que publiquei na Folha de S. Paulo, sobre o Salão de Humor de Luca, na Itália, e tiveram a ideia de repetir a experiência em Piracicaba. A proposta me surpreendeu, mas o entusiasmo do grupo era tão grande que eu, como colaborador do jornal de humor O Pasquim, topei. Então vieram me buscar para colaborar na empreitada. Semanas depois inauguramos o 1º Salão de Humor de Piracicaba no espaço de um banco, no Centro da cidade, na época com cerca de 70 mil habitantes. Foi um sucesso inesperado. Veio gente de toda a região, amigos de redação da Folha. Gol também do Pasquim, que deu uma página do sucesso retumbante”.
Laerte Coutinho, cartunista, primeira premiada no evento, em 1974
“O Salão de Humor de Piracicaba faz parte essencial do movimento brasileiro que se opôs à ditadura e foi criado num momento dramático, em que o governo usava e abusava de casuísmos, censura, violência e manipulação. O fato de se manter durante todos esses anos é prova da profunda identificação com que o público reconhece a sua importância.”
Laerte e Glauco em sessão de autógrafo durante Salão Internacional de Humor de Piracicaba
CEDHU/Acervo Piracicaba
Alcy Linares, cartunista
“Piracicaba é, há anos, palavra pronunciada em dezenas de idiomas pelo mundo afora. Devido ao Salão Internacional de Humor de Piracicaba que, com 50 anos de atuação, conquistou enorme prestígio e vai deixando importante legado cultural.”
Elena Ospina, cartunista da Colômbia
“O Salão Internacional de Humor de Piracicaba é um dos mais emblemáticos do Brasil com a participação de milhares de artistas do mundo todo.”
Synnöve Hilkner, artista gráfica, escultura e cartunista da Finlândia radicada no Brasil
“Participo do Salão há uma década e já fui premiada, homenageada e já integrei o júri. O que considero mais importante é o acervo criado nesses 50 anos, algo único no mundo e que não tem preço. Grandes artistas contam boa parte da história do país e do mundo, com criatividade. É mais do que necessário que o Salão Internacional de Humor de Piracicaba seja reconhecido como Patrimônio Imaterial.”
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