Inquérito apura mortes de familiares em Torres, no Litoral Norte do estado gaúcho. Duas pessoas seguem hospitalizadas. Exames identificam arsênio no sangue de pessoas que comeram bolo
A Polícia Civil informou que já ouviu, até este sábado (28), cerca de 15 pessoas no inquérito que apura mortes de três mulheres da mesma família após comerem um bolo em Torres, no Litoral Norte do RS. Duas pessoas seguem hospitalizadas. Exames apontam a presença de arsênio no sangue de vítimas. Veja detalhes abaixo.
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A mulher que fez o bolo é uma das sobreviventes. Ela está hospitalizada e deve ser ouvida pela polícia quando estiver em melhores condições.
Além dela, uma criança de 10 anos segue internada. Ambos estão clinicamente estáveis, conforme boletim médico divulgado neste sábado, e não tiveram os nomes oficialmente divulgados. Exames laboratoriais apontaram a presença de arsênio, substância extremamente tóxica, no sangue dos dois e de uma das vítimas.
As vítimas são Neuza Denize Silva dos Anjos, Tatiana Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva. Entenda o parentesco no esquema abaixo:
Arte mostra quem são as pessoas que comeram bolo em Torres
Reprodução/ RBS TV
Investigações
Na sexta-feira (27), policiais foram às casas de familiares em Canoas, Arroio do Sal e Torres para coletar mais elementos para a investigação.
Conforme a polícia, a família tinha boa relação e até o momento não é cogitado que haveria disputa por eventual herança.
Os laudos periciais no bolo, que têm previsão de ficarem prontos na próxima semana, poderão apontar se houve contaminação cruzada de alimentos e o que havia no bolo.
Análises apontam arsênio
Os resultados das primeiras análises laboratoriais, coletadas pelo Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, indicaram presença de arsênio no sangue de uma das vítimas e dos dois sobreviventes que comeram o bolo. A substância é extremamente tóxica e pode levar à morte. (Saiba mais abaixo) A informação foi confirmada à RBS TV pelo delegado Marcos Vinícius Veloso, que conduz as investigações.
Foram analisados o sangue da mulher que preparou o bolo, do sobrinho-neto dela – uma criança de 10 anos – e de Neuza Denize Silva dos Anjos, que morreu.
Tia e sobrinho permanecem hospitalizados e estão “clinicamente estáveis”, conforme boletim médico divulgado na manhã desta sexta-feira (27)
“O próprio hospital levou o material para o Centro de Informação Toxicológica. Nesse centro, foi constatado arsênio no sangue de duas vítimas que sobreviveram, que estão no hospital ainda, e de uma mulher que morreu, a dona Neuza”, explicou o delegado.
Os nomes da mulher internada e do sobrinho-neto dela não foram oficialmente divulgados.
Entenda quem é quem no caso do bolo em Torres
Além de Neuza, outra duas pessoas morreram com intervalo de algumas horas. Tatiana Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva tiveram parada cardiorrespiratória, segundo o hospital. Neuza Denize Silva dos Anjos teve como causa da morte divulgada “choque pós intoxicação alimentar”.
Segundo o delegado Marcos Vinícius Veloso, que conduz as investigações, a mulher que fez o bolo foi a única pessoa da casa a comer duas fatias. A maior concentração do veneno foi encontrada no sangue dela. A polícia apura as hipóteses de envenenamento ou intoxicação alimentar.
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Bolo que teria causado envenenamento ou intoxicação
Divulgação/Polícia Civil
O que é arsênio
Conforme André Valle de Bairros, professor de Toxicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o arsênio é o elemento químico, enquanto arsênico é denominado para o composto trióxido de arsênio.
“O arsênico trata-se da forma mais tóxica. A partir de 100 mg é possível a morte de um indivíduo adulto. Geralmente, o arsênico está na forma de pó e não tem cheiro ou gosto. Apesar de ter sido usado como raticida, esta droga pode ser empregada para fins de tratamento oncológico em pacientes com leucemia promielocítica aguda e é comercializada como Trisenox”, explica o especialista.
Bairros assinala que arsênico é proibido de ser comercializado no Brasil como raticida e o uso como agente quimioterápico é restrito.
“O arsênio é um elemento de alta toxicidade conhecida pela humanidade e sempre houve um certo temor. Há locais no globo terrestre ricos em arsênio, e isso contamina fontes de água. Mas é algo que precisa ser muito investigado. Há literatura científica, e de fato, há essa contaminação em leite, carne e frutas, porém, o fato de estar expostos a concentrações maiores de arsênio não significa necessariamente uma intoxicação”, acrescenta.
O caso
De acordo com a Polícia Civil, na última segunda-feira (23) sete pessoas da mesma família estavam reunidas em uma casa, durante um café da tarde, quando começaram a passar mal. Apenas uma delas não teria comido o bolo. A mulher que preparou o alimento, em Arroio do Sal e levou para Torres, também foi hospitalizada.
A investigação encaminhou os corpos das três vítimas para necropsia no Instituto-Geral de Perícias (IGP), órgão responsável por atestar a causa da morte. Resultados devem ser divulgados na próxima semana.
Conforme o delegado, o ex-marido da mulher que fez o bolo morreu em setembro por intoxicação alimentar. A morte não foi investigada pela polícia, por ter sido considerada natural. Agora, a polícia instaurou inquérito sobre o caso e pediu exumação do corpo.
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