Carlos Lyra, ‘formidável compositor’, chega aos 90 anos já além da bossa nova


“Grande melodista, desenhista, harmonista, rei do ritmo, da síncope, do desenho, do desenho, da ginga, do balanço, da dança, da lyra. Lyrista e lyricista, romântico de derramada ternura, nunca piegas, lacrimoso ou açucarado. Formidável compositor”.
♪ As elogiosas palavras acima foram escritas por ninguém menos do que Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994) para falar de Carlos Lyra, o realmente formidável compositor carioca que chega hoje aos 90 anos. Cantor, compositor e violonista nascido em 11 de maio de 1933, Lyra nem precisaria do aval de Jobim, autor do texto que apresentou o artista em songbook editado em 1993 com partituras do cancioneiro do colega.
Basta ouvir três das mais famosas parcerias do compositor com o poeta Vinicius de Moraes (1913 – 1980) – Marcha da quarta-feira de cinzas (1963), Minha namorada (1964) e Primavera (1964) – para ficar evidente que Carlos Lyra sempre soube os caminhos das melodias desde que fez a primeira composição, Quando chegares, em 1954.
Revelado em disco na voz de Sylvia Telles (1935 – 1966), cantora que gravou Menino em 1956, Lyra é – ao lado do octogenário Roberto Menescal – um dos últimos compositores remanescentes do movimento rotulado como Bossa Nova. A bossa que ele tornou engajada já no alvorecer dos anos 1960 após ter tido o aval inicial de João Gilberto (1931 – 2019), cantor que gravou Maria ninguém e Lobo bobo – standard da parceria de Lyra com Ronaldo Bôscoli (1928 – 1994) – no álbum Chega de saudade (1959).
No mesmo ano de 1959 em que foi avalizado pelo criterioso João, Lyra lançou o primeiro álbum, sintomaticamente intitulado Bossa nova. Mas já no ano seguinte a ideologia social e política do artista começou a saltar aos ouvidos. Em 1960, o compositor já criou a trilha sonora da peça A mais valia vai acabar, seu Edgar (1960), texto do também engajado dramaturgo e diretor paulistano Oduvaldo Vianna Filho (1936 – 1974), o Vianinha.
Sem se intimidar com o referencial passado como compositor associado à bossa nova, autor de joias inoxidáveis como o samba Influência do jazz (1962), Carlos Lyra renovou o repertório autoral em álbuns posteriores como Eu & elas… (1972) e Herói do medo (1975).
A partir dos anos 1980, por questão mercadológica, o artista aderiu aos periódicos revivals do cancioneiro da bossa nova em discos e shows, mas também abriu parcerias com nomes como Joyce Moreno e lançou eventuais álbuns de músicas inéditas como Carioca de algema (1994) e o estupendo Além da bossa (2019).
Aos 90 anos, celebrado por grandes estrelas da MPB no ainda inédito álbum coletivo Afeto, Carlos Lyra já está realmente além da bossa nova.

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