Alta cúpula: Qual era o papel de cada indiciado no plano de golpe em 2022, segundo a PF

No relatório de investigação da PF (Polícia Federal) sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022, estão listados os núcleos de atuação do grupo que planejava impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, os investigadores apontam que o grupo também tinha como objetivo operacionalizar medidas para desacreditar o processo eleitoral e abolição do Estado Democrático de Direito, para manutenção e permanência de Jair Bolsonaro no poder.

Golpe de Estado planejava manter Bolsonaro no poder após 2022, aponta investigação da Polícia Federal - Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil/ Reprodução/ ND

Golpe de Estado planejava manter Bolsonaro no poder após 2022, aponta investigação da Polícia Federal – Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil/ Reprodução/ ND

Nesta terça-feira (26), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes retirou o sigilo do relatório do inquérito e enviou o documento à PGR (Procuradoria-Geral da República), que poderá arquivar o caso, apresentar denúncia ou pedir mais investigações.

Plano de golpe de Estado tinha seis núcleos

Segundo a investigação da PF, a organização golpista havia criado uma estrutura de atuação ordenada, com a individualização da conduta de cada integrante.

Conforme a PF, o tenente-coronel Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, era o principal articulador do plano, atuando em várias frentes e coordenando o chamado “Gabinete do Ódio”. Além disso, o ex-presidente Jair Bolsonaro tinha pleno conhecimento e participava das ações.

“O militar fazia parte tanto da produção, divulgação e amplificação de notícias falsas quanto da lisura das eleições presidenciais de 2022 para estimular seguidores a permanecerem na frente de quartéis e instalações, das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para o Golpe de Estado”, diz a corporação.

Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid era o principal articulador do plano, aponta investigação - Foto: Lula Marques/Agência Brasil/Reprodução/ND

Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid era o principal articulador do plano, aponta investigação – Foto: Lula Marques/Agência Brasil/Reprodução/ND

Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral

Os investigadores concluíram que este núcleo era o responsável por criar, desenvolver e disseminar a narrativa da existência de vulnerabilidade e fraude no sistema eletrônico de votação do país, que teria como artífices ministros do STF e do TSE, alegações que jamais foram comprovadas. O objetivo seria incitar a população a não aceitar uma eventual derrota de Bolsonaro nas urnas em 2022.

“Por mais inverossímil que possa parecer, os investigados sabiam que a narrativa falsa de fraude eleitoral, sendo disseminada por muito tempo, por vários canais, especialmente na internet (aplicativos de mensagens, redes sociais, vídeos, entrevistas etc.), em grande volume seria extremamente eficiente em seu público-alvo. […] A repetição maçante das informações, mesmo que falsas, leva à familiaridade, e a familiaridade leva à aceitação por parte dos receptores”, analisa a PF.

Neste núcleo, faziam parte:

  • Anderson Gustavo Torres — Delegado da Polícia Federal e ex-ministro da Justiça
  • Angelo Martins Denicoli — Major do Exército;
  • Carlos Cesar Moretzsohn Rocha — engenheiro que ajudou a desenvolver as urnas eletrônicas para o TSE;
  • Fernando Cerimedo — Ex-marqueteiro de Javier Milei;
  • Guilherme Marques de Almeida — Tenente-Coronel do Exército;
  • Hélio Ferreira Lima — Tenente-Coronel do Exército;
  • Mauro Cesar Barbosa Cid — Tenente-Coronel do Exército;
  • Sergio Ricardo Cavaliere De Medeiros — Tenente-Coronel do Exército;
  • Tércio Arnaud Tomaz — ex-assessor especial durante o governo Bolsonaro;
Ex-marqueteiro do presidente argentino Javier Milei está envolvido nos planos de golpe de Estado no Brasil - Foto: Infobae/Reprodução/ND

Ex-marqueteiro do presidente argentino Javier Milei está envolvido nos planos de golpe de Estado no Brasil – Foto: Infobae/Reprodução/ND

Núcleo de Incitação a Militares

Este núcleo que atuava para eleger alvos para amplificação de ataques pessoais contra militares em posição de comando que resistiam às investigadas golpistas, em especial o General Marco Antônio Freire Gomes e Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos Almeida Baptista Junior, que negaram participar do esquema do golpe de Estado.

“Os ataques eram realizados a partir da difusão em múltiplos canais e por influenciadores em posição de autoridade perante a ‘audiência militar’”, aponta a PF.

Nele, estão envolvidos:

  • Ailton Gonçalves Moraes Barros — Ex-Major do Exército;
  • Bernardo Romão Corrêa Netto — Coronel do Exército;
  • Hélio Ferreira Lima — Tenente-Coronel do Exército;
  • Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho — Neto de João Figueiredo, ex-presidente da ditadura no Brasil;
  • Walter Souza Braga Netto — General do Exército e ex-ministro da Casa Civil;
Ex-ministro da Casa Civil General Braga Netto fazia parte da cooptação de militares ao golpe de Estado, diz PF - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Ex-ministro da Casa Civil General Braga Netto fazia parte da cooptação de militares ao golpe de Estado, diz PF – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Núcleo Jurídico

O núcleo atuava no assessoramento e elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas do grupo investigado. Após a consumação do golpe, seria assinado um decreto presidencial determinando a permanência de Bolsonaro no poder.

“Em outra linha de atuação relacionada a confecção do ‘ato jurídico’ que concretizaria o Golpe de Estado, integrantes do denominado núcleo jurídico da Organização Criminosa, reuniram-se com o então presidente da República Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto para a elaboração do decreto presidencial”, consta no relatório.

Faziam parte do núcleo:

  • Amauri Feres Saad — advogado e ex-sócio do escritório Siqueira Castro;
  • Anderson Gustavo Torres — Delegado da Polícia Federal e ex-ministro da Justiça;
  • Filipe Garcia Martins — Ex-assessor de Jair Bolsonaro;
  • José Eduardo de Oliveira e Silva — Padre e influencer;
  • Mauro Cesar Barbosa Cid — Tenente-Coronel do Exército;
Ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres ajudava na elaboração de minutas e decretos para o golpe de Estado, conclui a investigação - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/ND

Ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres ajudava na elaboração de minutas e decretos para o golpe de Estado, conclui a investigação – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/ND

Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas

O quarto núcleo, de apoio às ações, mostra que a partir da coordenação e interlocução com Mauro Cid, outros envolvidos atuavam em reuniões de planejamento e execução de medidas no sentido de manter as manifestações em frente aos quartéis militares, incluindo a mobilização, logística e financiamento de militares das forças especiais em Brasília.

Os integrantes apontados no núcleo são:

  • Bernardo Romão Corrêa Netto — Coronel do Exército;
  • Cleverson Ney Magalhães — Coronel do Exército;
  • Hélio Ferreira Lima — Tenente-Coronel do Exército;
  • Rafael Martins de Oliveira — Tenente-Coronel do Exército;
  • Ronald Ferreira de Araújo Junior — Tenente-Coronel do Exército;
  • Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros — Tenente-Coronel do Exército;
Tenente-coronel Rafael Martins chegou a usar dados de terceiros para esconder sua identidade e participação nos planos de golpe de Estado, diz o relatório - Foto: Reprodução/ND

Tenente-coronel Rafael Martins chegou a usar dados de terceiros para esconder sua identidade e participação nos planos de golpe de Estado, diz o relatório – Foto: Reprodução/ND

Núcleo de Inteligência Paralela

Outra parte atuava na coleta de dados e informações que pudessem auxiliar a tomada de decisões do então presidente Jair Bolsonaro na consumação do golpe de Estado. Nesta, consta a atuação do general Augusto Heleno, de Mauro Cid, do tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira e de um agente da PF, Wladimir Matos Soares, que repassava informações sensíveis ao grupo golpista. Uma das ações do grupo foi uma tentativa de prisão e eventual assassinato de Moraes, Lula e Alckmin.

  • Alexandre Rodrigues Ramagem — Delegado da Polícia Federal;
  • Augusto Heleno Ribeiro Pereira — General do Exército;
  • Marcelo Costa Câmara — Coronel do Exército;
  • Mauro Cesar Barbosa Cid — Tenente-Coronel do Exército;
  • Wladimir Matos Soares — Agente da Polícia Federal.
Relatório da PF aponta que o agente federal Wladimir Matos Soares repassava informações sensíveis aos articuladores do golpe de Estado - Foto: Redes sociais/Reprodução/ND

Relatório da PF aponta que o agente federal Wladimir Matos Soares repassava informações sensíveis aos articuladores do golpe de Estado – Foto: Redes sociais/Reprodução/ND

Núcleo de Operacional para cumprimento de medidas coercitivas

No sexto núcleo, alguns indiciados usavam da alta patente militar que detinham para influenciar e incitar apoio aos demais núcleos de atuação por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas para consumação do Golpe de Estado.

Faziam parte:

  • Almir Garnier Santos — Almirante da Marinha;
  • Estevam Cals Theophilo Gaspar De Oliveira — General do Exército;
  • Laércio Vergílio — Coronel do Exército;
  • Mario Fernandes — General do Exército;
  • Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira — General do Exército
  • Walter Souza Braga Netto — General do Exército e ex-ministro da Casa Civil.
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