Salão Internacional de Humor chega aos 50 sem temer a inteligência artificial: ‘nunca substituirá o senso crítico’


Organização se voltou à análise de histórico profissional e ‘portfólio’ do artista como um dos critérios de pré-seleção e certificação de autoria, explica o diretor do evento, Júnior Kadeshi. Obra vencedora do prêmio Adilson Maluf no 50º Salão Internacional de Humor de Piracicaba
Lucas Leibholz
Com meio século de existência, o Salão Internacional de Humor de Piracicaba (SP) testemunhou, com as evoluções tecnológicas, as diferentes formas de criar por meio da arte digital. Na 50ª edição, prevendo a possibilidade de receber trabalhos feitos por inteligência artificial (I.A), a organização se voltou à análise do histórico profissional e “portfólio” do artista como um dos critérios de “pré-seleção” e certificação de autoria, conforme explica o diretor do evento, Júnior Kadeshi.
“A tendência será essa mesmo, mas o senso crítico nunca será substituído. Isso está no DNA dos participantes do Salão”, afirma Kadeshi.
Diretor do Salão de Humor de Piracicaba, Junior Kadeshi, com original de Paulo Caruso exposto na última edição
Helen Sacconi/ EPTV
Zélio Alves Pinto, o padrinho do Salão, é autor do cartaz da primeira de lançamento do evento, em 1974 e também da atual, na 50ª exposição. A frente do seu tempo, ele deixa claro que nunca temeu o futuro.
“Sempre fui a favor das tecnologias como ferramentas para o artista, nunca como substituição dele. E continuarei sendo”, disse Zélio em entrevista ao g1.
Zélio Alves Pinto e o cartunista mirim Gustavo Benjamin Paffaro conversam sobre desenho
Claudia Assencio/g1
Se o evento ainda não tem uma categoria específica para envio de trabalhos feitos por inteligência artificial, também não haveria condições de checar como determinada obra teria sido produzida. O Salão buscou, então, pesquisar sobre quem era o artista proponente, a sua trajetória e tipo de arte visual gráfica que costuma desenvolver.
Um mudança de percepção no sentido inverso ao digital, constatada pela organização neste neste ano, percebeu o retorno do envio de obras originais, como era comum e foi a única forma de participar da mostra competitiva nos primeiros anos.
Zélio Alves Pinto durante visita à exposição do 50º Salão Internacional de Humor de Piracicaba
Claudia Assencio de Campos/g1
“Nesta edição, fizemos pesquisas sobre o currículo dos artistas, por exemplo”, contou. “O interessante é que percebemos, de alguma forma, a preferência pelo envio das obras originais”, observa Júnior Kadeshi.
Max Porto, Rui Miranda, Claudia Kfouri e visitantes conversam sobre esculturas
Claudia Assencio/g1
Tecnologia como aliada
Max Porto, escultor e artista gráfico experiente, também reforça que a tecnologia sempre será bem-vinda quando considerada uma “aliada” da produção artística.
“Sempre vi a tecnologia como uma aliada. Eu acho tudo isso interessantíssimo. A computação nos oferece uma série de recursos e de ferramentas que facilitam muito a nossa vida”, afirma.
“Por exemplo, no photoshop, eu posso desenhar um braço, depois posso copiar, espelhar, duplicar e ganho um tempo. No papel, eu teria que desenhar de novo. Profissionalmente, isso é maravilhoso. Às vezes, temos prazos curtos para poder entregar um trabalho”, acrescenta.
Membro do Júri de Seleção, Max Porto analisa obras selecionadas para o 50º Salão Internacional de Humor de Piracicaba
Claudia Assencio/g1
Senso crítico: só o ser humano pode ter
Max Porto compara o medo relacionado à inteligência artificial ao temor inicial que se viu com a chegada das impressoras.
“Foi o mesmo temor que muitos pintores de tela, em acrílico ou em óleo sentiram quando surgiram as impressoras de tinta, por exemplo. A energia do pincel na tela, a calibragem, a força não se substitui”, pondera.
A inteligência artificial, segundo Max Parto, vem para ajudar em algumas questões, mas a máquina e o algoritmo nunca vão superar a genialidade humana.
“A máquina nunca vai substituir o senso crítico, especialmente no humor gráfico. A máquina nunca vai ser capaz de ter senso de humor, nunca será capaz de rir de si mesma. Ela é muito pragmática. O que fazemos neste evento [Salão] é celebrar essa a habilidade do ser humano de se emocionar, de rir e de olhar de forma diferente para a realidade”, argumenta.
Caricaturista e escultor Max Porto integra júri de seleção do Salão Internacional de Humor de Piracicaba
Divulgação/Prefeitura de Piracicaba
Interação: analógico e digital
Veterano do Salão Internacional de Humor de Piracicaba (SP), Lucas Leibholz participa do evento há mais de duas décadas. Na caricatura, enviada à mostra competitiva da 50ª edição, o artista apostou na interatividade ao representar Morpheus do filme Matrix, pelo ator Laurence Fishburne, na famosa cena em que oferece as pílulas azul ou vermelha ao protagonista da trama. No desenho multimídia, o público também pode escolher entre uma das duas a partir de QR codes.
“O plano já era fazer algo diferente até porque o Salão é um espaço em que cabem experimentações. Durante o processo de criação, acabam surgindo ideias. Neste ano, usei o QR code nas pílulas azul e vermelha da icônica cena de Matrix com a intenção de forçar um pouco o espectador a decidir e interagir com a obra como se também estivesse no mesmo episódio”, explicou em entrevista ao g1.
Com a caricatura, Lucas foi o vencedor do Prêmio Adilson Maluf, inédito e exclusivo para um artista de Piracicaba. Os premiados foram anunciados na cerimônia de abertura do Salão Internacional de Humor no dia 26 de agosto no palco externo do Teatro Erotídes de Campos, no Engenho Central.
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“Estou muito feliz em receber esse prêmio representando os artistas locais. Para mim, é uma super honra poder representar os artistas de Piracicaba porque a cidade tem uma história linda a cultura e as artes gráficas, tem uma vocação maravilhosa para isso. Eu me sinto parte disso recebendo esse prêmio e quero fazer parte da continuidade desta tradição”, celebrou.
Realidade virtual
Ao colocar os QR codes nas pílulas, a arte de Lucas leva o público a ilustrações panorâmicas, no qual uma abre dentro da Matrix e a outra abre dentro na nave da personagem Morpheus.
“Deu bastante trabalho e foco para poder terminar essa missão e resultou numa premiação na estimada edição de 50 anos desse tradicional salão de humor”, celebrou em suas redes sociais, plataformas que permitem que o visitante vá além da interação com a obra analógica como espectador e viva a experiência da realidade virtual.
Com a sua arte digital, Lucas faz com que o espectador interaja com seu trabalho de maneira que não seria possível fazer no analógico, no espaço do Salão, por exemplo.
Lucas Leibholz e sua obra, uma caricatura do ator Laurence Fishburne, multimídia e interativa, do filme Matrix.
Claudia Assencio/g1
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Cinquentão
O Salão Internacional de Humor de Piracicaba (SP) completa meio século de exposições ininterruptas neste ano. Além de Brasil, este ano há obras de artistas da Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Bélgica, China, Chipre Espanha, Estados Unidos, França, Índia, Irã, México, Polônia, Romênia, Tailândia, Uzbekistão, Venezuela, entre outros.
O 50º Salão de Humor, que passou a ser Patrimônio Cultural Imaterial este ano, permanecerá aberto à visitação gratuita até 28 de outubro, sempre às quintas e sextas-feiras, das 9h às 17h, e aos sábados, domingos e feriados, das 12h às 20h.
Além da mostra principal, também acontecem 10 mostras paralelas, a Caminhada do Humor, e o 21º Salãozinho de Humor, entre outras atividades.
Diretor do 50º Salão Internacional de Humor de Piracicaba Junior Kadeshi
Claudia Assencio/g1
Salão em números
Os números do 50º Salão de Humor são expressivos e superam a edição de 2022. Na mostra deste ano serão:
175 artistas, de 30 países
318 trabalhos expostos no total entras as categorias cartum, charge, caricatura, quadrinhos, escultura, temáticos (Meia Idade e Saúde)
62 caricaturas
75 cartuns
50 charges
41 temáticos de saúde
29 temáticos (50 anos: A Crise da Meia Idade)
44 tiras e 17 esculturas
Túnel do Tempo
Entre as novidades para os 50 anos do Salão está o novo e moderno layout da montagem, para tornar a visitação ainda mais dinâmica.
“O novo layout vai surpreender o público. As obras, separadas por categorias e muito bem sinalizadas, estão dispostas de forma a tornar a visitação lúdica, agradável e divertida. No mesmo Armazém da mostra principal, montamos as mostras paralelas, que também ganharam layout novo”, conta Júnior Kadeshi, diretor do Salão.
No Armazém 14, o visitante passará por um túnel do tempo, que conta a história, década por década, dos 50 anos do Salão de Humor.
Em seguida, entrará na mostra principal e depois terá acesso às paralelas. Uma delas – Fatos e Fotos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba – conta com centenas de fotos que mostram desde os criadores do Salão, em 1974, artistas premiados, jurados, até pessoas que fazem o Salão acontecer, nos bastidores.
O Armazém 14 abrigará a mostra 50 anos de Humor, com diferentes temas.
Obra vencedora do Prêmio Saúde Unimed no 50º Salão Internacional de Humor de Piracicaba
Victor Solis
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