No Dia da Visibilidade Lésbica, relembre cantoras pioneiras que aderiram à causa na música e na vida


Leci Brandão, compositora do hino gay ‘Ombro amigo’ (1978), está entre as artistas pioneiras na militância do movimento LGBTQIAPN+
Marcos Hermes / Divulgação
“A gente já é marginalizado pela sociedade. Então a gente se une, se junta e dá as mãos. E um ama o outro sem medo e sem preconceito. Quero que as pessoas enxerguem meu lado homossexual como uma coisa séria, que haja respeito”.
♪ MEMÓRIA – A frase acima foi dita por Leci Brandão há 45 anos em entrevista ao jornal Lampião da Esquina e ficou eternizada em novembro de 1978 com a edição da sexta edição dessa marcante publicação direcionada ao público homossexual.
No Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, celebrado em 29 de agosto, cabe lembrar cantoras e compositoras que se anteciparam às pautas correntes do movimento LGBTQIAPN+ e aderiram pioneiramente à causa na música e na vida.
Cantora e compositora carioca, autora da música Ombro amigo (1978), hino de consolo dos gays ainda não assumidos, Leci Brandão sempre militou e, na medida do permitido pela censura, se posicionou no repertório de álbuns como Questão de gosto (1976) e Coisas do meu pessoal (1977).
Antes de Leci, houve a assumida Linda Rodrigues (1919 – 1997) – cantora hoje pouco conhecida, mas atuante nos anos 1940 e 1950 – e houve Dora Lopes (1922 – 1983), autora de músicas como Pintura manchada (Dora Lopes e Zairo Marinoso, 1963).
Impossível ignorar também Aylce Chaves (1919 – 1993) – compositora do samba-canção Lama (Paulo Marques e Aylce Chaves, 1952), lançado por Linda Rodrigues – e Valeniza Zagni da Silva (1944 – 1978), cantora e compositora paulistana conhecida como Tuca e autora de Girl (Tuca e Prioli, 1974).
Logo depois de Leci, veio Angela Ro Ro, cujo antológico primeiro álbum, lançado em 1979, continha a canção autoral Tola foi você. Na época, Ro Ro foi a cantora e compositora que mais se expôs e pagou alto preço por ter sido “a que tudo sentiu, disse e fez” – para citar verso de Não há cabeça (1979) – em tempo em que grandes estrelas da MPB, como Gal Costa (1945 – 2022), preferiam a discrição.
Angela Ro Ro, compositora da canção ‘Tola foi você’ (1979), é artista que muito contribuiu para a visibildade lésbica
Murilo Alvesso
Mais tarde, cantoras e compositoras como a paulistana Vange Leonel (1963 – 2014) e a gaúcha Laura Finocchiaro carregaram sozinhas a bandeira do ativismo lésbico, ocupando uma posição atualmente recorrente no comportamento da militante Zélia Duncan.
Com o movimento LGBTQIAPN+ cada vez mais fortalecido na defesa da homoafetividade em todas as esferas da sociedade, artistas como Ana Carolina, Marina Lima, Mart’nália, Isabella Taviani, Leila Pinheiro, Maria Gadú, Marcia Castro e Sandra de Sá – parceira de Fafy Siqueira na música Bandeira (1980) – começaram a dizer publicamente os nomes dos amores.
Lésbicas ou bissexuais, essas artistas nunca estiveram dentro de armários nos círculos sociais que frequentavam, como deixaram claro nas músicas que compuseram e/ou gravaram. Mas, na esfera pública, tudo era dito e subentendido somente nas letras das canções.
Por isso mesmo, no Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, cabe um aplauso especial para as ativistas pioneiras como Dora Lopes, Leci Brandão e Angela Ro Ro.

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