Grande cantor, compositor e arranjador, o filho de Dorival Caymmi evoca na obra e na voz grave um universo rural povoado por matas, rios, terras e os mares desbravados pelo pai. ♪ ANÁLISE – Nascido em 26 de agosto de 1943, Dorival Tostes Caymmi – Dori, na dinastia Caymmi – herdou mais do que o nome do pai. Dono de humor corrosivo, o filho do meio de Dorival Caymmi (1914 – 2008) traz na voz grave todo um universo que, mais do que o mar que banha o cancioneiro paterno, carrega a terra do Brasil rural.
Defensor ferrenho das tradições musicais brasileiras, Dori Caymmi chega hoje aos 80 anos – celebrados no palco, em show na casa Soberano, em Itaipava (RJ) – como símbolo dessa tradição e com extrema fidelidade ao nacionalismo que brada com orgulho entre frases ácidas que demolem qualquer artista de estética musical mais contemporânea.
Refratário à qualquer modernidade musical, o cantor, compositor e violonista carioca expõe na discografia – iniciada há 51 anos com a edição do álbum Dori Caymmi (1972) – a coerência com a tese que propaga em entrevistas e em conversas com amigos.
Na teoria e na prática, Dori compreende a música brasileira dentro de um universo que parte do mar do pai Dorival, desagua na bossa nova e vai até a MPB.
Compositor projetado na era dos festivais em parceria com Nelson Motta, com quem compôs Saveiros (1966) e uma série de outras canções, Dori emergiu juntamente com a MPB, sendo da mesma geração do igualmente tradicionalista Edu Lobo, genial compositor que também faz 80 anos neste mês de agosto de 2023, precisamente na terça-feira, 29 de agosto.
Nos últimos tempos e discos, o parceiro mais frequente de Dori Caymmi é o poeta e compositor carioca Paulo César Pinheiro. Letrista de poesia imagética, Pinheiro faz versos que se afinam com a música de Dori por gravitarem geralmente em torno do chamado Brasil profundo, ambientado em universo rural cortado por matas, ventos, rios e mares que correm no próprio tempo, longe das urgências urbanas.
Geradora de músicas como Desenredo (1976) e Velho piano (1982), essa parceria afinada é o mote de álbuns recentes de Dori como Mundo de dentro (2009), Poesia musicada (2011), Setenta anos (2014), Voz de mágoa (2017) e Sonetos sentimentais para violão e orquestra (2022), sem falar em Canto sedutor (2022), álbum dividido por Dori com Mônica Salmaso, excepcional cantora que também transita por universo tradicionalista.
Além de cantar, compor e tocar violão muito bem, Dori Caymmi também se impôs como arranjador. Basta ouvir as cordas orquestradas pelo artista para o disco de 2020 em que a irmã mais velha, Nana Caymmi, dá voz a músicas da parceria fundamental de Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994) com Vinicius de Moraes (1913 – 1980) para perceber a maestria de Dori na função de diretor musical e arranjador.
Compositor que contribuiu para o êxito da trilha sonora da versão mais famosa da novela Gabriela (Globo, 1975), para a qual fez as músicas Alegre menina (a partir de versos de Jorge Amado) e Porto, Dori Caymmi é um expoente da MPB avesso aos holofotes.
Dono de luz própria, o artista pavimentou carreira sólida que reverencia o cancioneiro do pai Dorival ao mesmo tempo em que abriu a própria estrada por onde Dori Caymmi ainda segue com segurança ao chegar hoje aos 80 anos.
Dori Caymmi chega aos 80 anos como referência de tradição na música brasileira
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