Cida Moreira dá voz às sensíveis ‘esquisitices’ de Sérgio Sampaio em show no Rio de Janeiro


Cida Moreira apresenta no Clube Manouche o show ‘Boleros e outras delícias’ após quatro anos sem cantar no Rio de Janeiro (RJ)
Mauro Ferreira / g1
Resenha de show
Título: Boleros e outras delícias
Artista: Cida Moreira
Local: Clube Manouche (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 3 de agosto de 2023
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ Dama da vanguarda paulistana de presença bissexta em palcos cariocas, Cida Moreira voltou após quatro anos ao Clube Manouche – cabaré favorito da artista no Rio de Janeiro (RJ) – para fazer na cidade o show Boleros e outras delícias, estreado em 2019 em São Paulo (SP).
No show apresentado ao público carioca em 3 e 4 de agosto, a cantora dá voz a músicas do compositor Sérgio Sampaio (13 de abril de 1947 – 15 de maio de 1994) sob a direção musical de Ivan Gomes (baixo) e Lê Coelho (guitarra e violão).
Os músicos são os arquitetos do tributo a Sampaio, artista amaldiçoado pela indústria fonográfica por ter sido fiel à própria aguçada sensibilidade, exposta em letras escritas à flor da pele, como exemplificam os versos tensos de Tem que acontecer (1976).
Caracterizado em cena por Cida Moreira como “rapaz esquisito”, Sampaio foi gauche na vida. Como Cida também sempre transitou pelas margens do mercado da música, o encontro entre a intérprete e o compositor frutificou no palco.
Em cena, a cantora se apresentou modestamente como “a crooner da banda”. Só que, a rigor, o seleto público do show tinha sido atraído ao Manouche justamente pelo canto dessa dama também indomável e, por isso mesmo, intérprete capaz de traduzir com precisão os sentimentos de canções como Só para o seu coração (1982), A luz e a semente (1976) e Leros e leros e boleros (1973), esta cantada na abertura do show e reprisada no bis.
Levemente mordaz ao avisar ao público que “agora é a hora dos hits” antes de cantar músicas como Que loucura (1976) e Eu quero botar meu bloco na rua (1972), marcha apresentada entre a melancolia e a euforia inevitável do refrão, a cantora arrancou risos da plateia ao caracterizar o DJ Zé Pedro como “pessoa opiniática” por ele ter condicionado a gravação do álbum Sérgio Sampaio – Poeta do riso e da dor (2023) – lançado em 2 de junho pela gravadora Joia Moderna com a gravação do show em estúdio – à inclusão no repertório de Quatro paredes (1973), música amplificada há 50 anos na voz de Maria Bethânia no show Drama – 3º ato (1973).
A despeito de certa linearidade no tom do show, Cida Moreira seduziu o público carioca do Manouche ao expor as dores, a sensibilidade e as esquisitices de Sérgio Sampaio.

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