Morta hoje no Rio de Janeiro, aos 88 anos, a artista carioca se impôs com a voz sem impostações e sem vibratos, se fazendo ouvir com timbre suave que alcançou o auge nas décadas de 1960 e 1970. ♪ OBITUÁRIO – Adelina Doris Monteiro (21 de outubro de 1934 – 24 de julho de 2023) nunca precisou elevar a voz para se impor como cantora. Ao contrário. A carioca Doris Monteiro – como era conhecida a cantora que morreu na madrugada de hoje, aos 88 anos, de causas naturais, na casa em que vivia na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ) – imprimiu o nome na história da música brasileira pelo canto cheio de charme e bossa. Um canto sem vibratos e sem impostações, mas com suingue que ficaria mais explicitado a partir dos anos 1960.
Revelada em 1949 em Papel carbono (programa da então hegemônica Rádio Nacional) e projetada nos anos 1950, década dos arroubos vocais das cantoras da era do rádio, Doris tinha tom de voz acariciante que se fez ouvir em disco a partir de 1951, ano do primeiro sucesso, Se você se importasse (Peter Pan) ao qual se seguiu, quatro anos depois, outro hit radiofônico, Dó ré mi (Fernando César, 1955).
Essa fase inicial da discografia da cantora totalizou 21 discos de 78 rotações editados pelas gravadoras Todamérica (de 1951 a 1954), Continental (de 1954 a 1957) e Columbia (de 1957 a 1960).
Contudo, o melhor estava por vir. Beneficiada pela revolução da bossa nova, gênero que abriu os ouvidos do Brasil para intérpretes de vozes menos potentes e nem por isso menos expressivas, Doris Monteiro começou a fazer discos mais modernos na gravadora Philips, na qual permaneceu de 1961 a 1965, legando álbuns como Gostoso é sambar (1963).
Mas o auge artístico da cantora veio com os 13 álbuns editados entre 1966 e 1978 por outra gravadora, a Odeon. Esses discos são o suprassumo da obra fonográfica da artista.
Nos anos 1950, Doris Monteiro seguira pelas trilhas abertas na década anterior pelos cantores Dick Farney (1921 – 1987) e Lúcio Alves (1927 – 1993) – com quem a cantora gravaria em 1978 o álbum que encerrou a áurea passagem pela gravadora Odeon – enquanto abria caminho para o canto cool de cantoras como Sylvia Telles (1935 – 1966) e Nara Leão (1942 – 1989), musas da bossa nova.
A partir da década de 1960, com os caminhos já abertos, o canto charmoso de Doris Monteiro brilhou em álbuns como Simplesmente (1966), Mudando de conversa (1969), Doris (1971) – título especialmente importante na discografia da artista – e Agora (1976). Essa fase áurea inclui quatro álbuns gravados por Doris com Miltinho (1928 – 2014), cantor também cheio de charme vocal.
A partir da década de 1980, com Doris alijada do mercado fonográfico, a discografia da cantora minguou. Desde então, a cantora lançou somente discos esporádicos, como uma antologia do samba-canção dividida em 1992 com Tito Madi (1929 – 2018) e como o recente As divas do sambalanço (2020), álbum com o registro do show apresentado por Doris com Claudette Soares e Eliana Pittman ao longo de 2019 com produção de Thiago Marques Luiz.
Doris Monteiro parte sem ter tido tempo de realizar o projeto de gravar álbum com músicas de Marcos Valle, compositor presente na discografia da artista desde os anos 1960. Mas deixa discografia que eterniza o canto suave da intérprete, um fio de voz que permanecerá como símbolo de modernidade atemporal na música brasileira.
Doris Monteiro (1934 – 2023) em estúdio, em foto postada pela artista em 2021
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Doris Monteiro se eterniza pelo canto cheio de charme, balanço e bossa
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