Sindicato com 160 mil membros pode entrar em grave ao fim desta quarta-feira (12) caso negociação com estúdios não seja bem-sucedida. Eles se juntariam aos roteiristas, parados desde maio. Meredith Stiehm, presidente do Sindicato dos Roteiristas, e Fran Drescher, presidente do Sindicato dos Atores, protestam durante greve dos roteiristas em maio de 2023, em Los Angeles
Chris Pizzello/AP Photo
Os atores de Hollywood entram no último dia de negociações entre seu sindicato e os estúdios com a possibilidade de entrar em greve o verão americano, uma temporada importante para a indústria com as estreias de filmes de grande sucesso.
Com 160 mil membros, o Sindicato dos Atores (SAG-AFTRA, na sigla em inglês) disse em comunicado na noite de terça-feira (11) que “não confia que os empresários tenham intenção de negociar um acordo”. Em junho, a organização já votou e aprovou a realização de uma greve em caso de necessidade.
Se as partes não chegarem a um acordo antes do prazo, os atores se unirão aos roteiristas, que estão paralisados desde o começo de maio.
“Eles (os estúdios) sabem o que nossos membros precisam e quando trouxerem isto à mesa, nós os ouviremos, mas é importante que saibam que o tempo está se esgotando”, acrescentou o sindicato.
O SAG prorrogou seu contrato coletivo, em um acordo com os estúdios, até meia-noite desta quarta-feira em Los Angeles (04h00 de quinta, no horário de Brasília).
As negociações se concentram em melhores salários e outros benefícios, além de definir o uso da inteligência artificial na produção de filmes e programas de televisão, para garantir que suas imagens digitais não sejam recriadas sem autorização.
Uma greve dupla, algo que não se vê em Hollywood há mais de 60 anos, poderia paralisar quase toda a produção cinematográfica e televisiva nos Estados Unidos.
Em um momento em que a indústria tenta ainda se recuperar dos anos difíceis da pandemia, a paralisação pode impedir que as estrelas promovam alguns dos lançamentos de verão altamente aguardados, como “Oppenheimer”, de Christopher Nolan, que tem sua pré-estreia nos Estados Unidos programada para a próxima segunda-feira (17).
A Comic-Con San Diego, grande evento da cultura pop que acontece nos Estados Unidos a partir do dia 20, também pode ficar sem estrelas, enquanto o evento com tapete vermelho marcado para o fim de semana na Disneylândia para lançar o novo filme “Mansão Mal-Assombrada” pode ser reduzido a um “ato privado com os fãs”.
A preocupação em Hollywood é tanta que poderosos executivos de agências procuraram os líderes do sindicato para ajudar nas negociações.
Expectativa
O sindicato disse na terça-feira que concordou com o “pedido de última hora” dos estúdios para levar mediadores federais para desenrolar as negociações.
Mas ele expressou ceticismo sobre a disposição dos estúdios de chegar a um acordo.
O sindicato afirmou em seu comunicado que os estúdios “abusaram de nossa confiança e prejudicaram o respeito que temos por eles neste processo”.
“As empresas tiveram tempo mais do que suficiente para chegar a um acordo.”
Embora a greve dos roteiristas tenha reduzido drasticamente o número de filmes e séries em produção, uma greve dos atores poderia bloqueá-los quase por completo.
Alguns reality shows, talk shows e animações poderiam continuar, mas as séries e outros programas que deveriam retornar à televisão em 2023 enfrentarão atrasos. E se as greves prosseguirem, grandes produções do cinema também entrarão em hiato.
Até mesmo o Emmy, programado para 18 de setembro, pode ser adiado para novembro ou para 2024. Uma greve de atores implicaria um boicote à cerimônia por parte das estrelas.
A cerimônia virtual para anunciar as indicações deste ano começou tocando diretamente no assunto.
“Esperamos que as negociações em andamento do sindicato cheguem a uma solução rápida e equitativa”, disse Frank Scherma, chefe da Academia de Televisão, responsável pela premiação.
Demandas contratuais
Em caso de fracasso nas negociações, esta será a primeira vez que atores e roteiristas de Hollywood entrarão em greve simultaneamente desde 1960, quando Ronald Reagan, ator e futuro presidente dos Estados Unidos, liderou uma ação que obrigou os estúdios a aceitarem concessões.
Os atores também pedem os “residuais”, pagamentos feitos toda vez que um filme ou programa que eles estrelaram é exibido em uma emissora ou na TV a cabo – uma renda particularmente útil quando os artistas estão entre vários projetos.
Hoje, porém, plataformas como Netflix e Disney+ não divulgam os dados de audiência de seus programas e oferecem um valor fixo para tudo que está disponível em seus catálogos, sem considerar a popularidade de uma produção.
Para dificultar ainda mais o cenário, há a questão da inteligência artificial. Atores e roteiristas querem garantias de que seu futuro uso será regulamentado, mas os estúdios até agora se recusaram a ceder.
Hollywood entra em contagem regressiva para possível greve de atores
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