Decisão pela paralisação foi tomada após fracasso das negociações com estúdios e plataformas de streamings. Programas como os ‘late-night’ serão interrompidos imediatamente. Placa de Hollywood, nos Estados Unidos
Globo Repórter/ Reprodução
Milhares de roteiristas de televisão e cinema de Hollywood entram em greve a partir desta terça-feira (2), anunciou o sindicato da categoria. A decisão foi tomada após o fracasso das negociações com os principais estúdios e plataformas para um aumento de salários.
A mobilização terá como consequência a interrupção imediata de programas de sucesso, como os “late-night shows”. A previsão é que as séries de TV e filmes que deveriam estrear esse ano também sofram atrasos.
“Não conseguimos chegar a um acordo com os estúdios e as emissoras”, indicou o poderoso sindicato dos roteiristas, o Writers Guild of America (WGA), em comunicado. Segundo a organização, as respostas às reivindicações foram “totalmente insuficientes, levando em conta a crise existencial à qual os roteiristas enfrentam”.
Na segunda-feira (1°), os principais estúdios e plataformas de streaming, entre elas, a Disney e a Netflix, representados pela Aliança dos Produtores de Cinema e de Televisão (AMPTP, sigla em inglês), também anunciaram que as negociações com a WGA terminaram sem acordo.
Membros do sindicato dos roteiristas dos EUA protestam em frente aos estúdios Fox, em novembro de 2007
REUTERS/Chris Pizzello/File Photo
O último grande movimento social em Hollywood data de 2007-2008, quando uma greve dos roteiristas paralisou o setor audiovisual americano. O conflito, que durou 100 dias, custou milhares de dólares ao setor.
Reivindicações: aumento de salários e garantias
Os roteiristas exigem um aumento de seus salários, garantias mínimas para beneficiar de um emprego estável e o recebimento maior de lucros gerados pela transmissão das produções por streaming. No entanto, os estúdios alegam que é necessário reduzir os gastos devido às pressões econômicas.
Os participantes da mobilização afirmam que enfrentam dificuldades com as remunerações estagnadas diante da inflação, enquanto os empregadores acumulam lucros e aumentam as remunerações de seus dirigentes. Os roteiristas também reclamam que nunca foram tão numerosos a ter um salário fixo estabelecido pelos sindicatos, enquanto canais de TV empregam menos pessoas para escrever séries cada vez mais curtas. A WGA diz temer que os estúdios gerem uma economia de pequenos empregos e que o trabalho dos profissionais do setor se torne “uma profissão freelancer”.
Um dos principais pontos de desacordo, segundo a AMPTP seria o pedido do WGA da contratação de um número determinado de roteiristas “durante um período determinado, sejam eles necessários ou não”. Outra questão que gera polêmica é o salário dos profissionais que trabalham em séries emitidas por streaming, que permanecem disponíveis durante anos em plataformas como a Netflix.
Streaming colocou fim aos “direitos residuais”
Há várias décadas, os roteiristas recebem “direitos residuais” pela reutilização de suas obras, uma porcentagem da receita obtida pelos estúdios para o filme ou programa, ou uma taxa fixa cada vez que um episódio é reproduzido. Mas com o streaming, os roteiristas simplesmente obtêm um pagamento anual fixo, inclusive se seu trabalho tiver um grande sucesso como “Bridgerton” ou “Stranger Things”, visto por milhões de espectadores em todo o mundo.
O WGA pede a reavaliação destes valores, hoje “baixos demais em vista do maciço reaproveitamento internacional” destes programas. No entanto, a AMPTP afirma que os pagamentos de “direitos residuais” aos roteiristas atingiram um recorde de US$ 494 milhões em 2021 (cerca de R$ 2,78 bilhões em valores da época), contra US$ 333 milhões dez anos antes (cerca de R$ 620 milhões em valores da época). Também rejeita as insinuações de que os estúdios alegam falsas dificuldades econômicas para reforçar sua posição nas negociações.
Após os gastos elevados dos últimos anos, quando plataformas de streaming concorrentes tentavam a todo custo aumentar seus assinantes, os estúdios agora estão sob intensa pressão dos investidores para cortar gastos e obter lucros.
Com o movimento, a indústria teme um efeito dominó. Vários sindicatos de Hollywood expressaram solidariedade aos roteiristas, como o SAG-AFTRA dos atores e o DGA (diretores).
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