Gilberto Gil escora família na obra sólida do patriarca em show afetuoso marcado pela aclamação de Preta Gil


Turnê ‘Nós, a gente’ estreia no Brasil, no Rio de Janeiro, em apresentação festiva que reitera a pluralidade da música do compositor, mote de roteiro que junta três gerações do clã do artista. Gilberto Gil na estreia carioca do show ‘Nós, a gente’
Alessandra Lima / Divulgação Natura
Resenha de show
Título: Nós, a gente
Artista: Gilberto Gil com a família (Bela Gil, Bem Gil, Bento, Dom, Flor Gil, Fran, Gabriel, João Gil, José Gil, Lucas, Mariá Pinkusfeld, Nara Gil, Nino, Pedro, Preta Gil, Sereno e Sol de Maria)
Local: Qualistage (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 16 de junho de 2023
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ Bastou a imagem de Preta Gil aparecer no telão – como integrante do quarteto vocal feminino formado com a sobrinha Flor Gil, a cunhada Mariá Pinkusfeld e a irmã Nara Gil – para o público da casa Qualistage aplaudir com entusiasmo a cantora. Na luta contra um câncer no intestino, Preta aproveitou brecha no tratamento para, liberada pelos médicos, dividir o palco com a família na estreia do Brasil do show Nós, a gente na noite de ontem, 16 de junho, na cidade do Rio de Janeiro (RJ).
Momentos depois, ao ser apresentada formalmente por Gil, Preta Gil recebeu ovação que a levou às lágrimas. O afeto dirigido pelo público e pela família a Preta marcou noite feliz, pautada pela comunhão familiar dessa turnê que passou pela Europa antes de chegar ao Brasil.
A rigor, o show deveria se chamar Gil e sua gente, pois o patriarca – um dos gigantes da MPB surgida na era dos festivais – escora a família na obra sólida que vem construindo desde 1962, ano das primeiras gravações em disco, feitas ainda na Salvador (BA) natal.
Houve o momento solo de Preta Gil com Sinais de fogo (2003) – confirmada como uma das grandes músicas da parceria de Ana Carolina com Antonio Villeroy – e com Vá se benzer (Leonardo Reis, Deco Simões, Emerson Taquari e Sergio Rocha, 2017). Esse número foi o veículo para Preta saudar a madrinha Gal Costa (1945 – 2022), com quem gravou a música no álbum Todas as cores (2017), e para a cantora se afirmar em cena com frase (“Eu sou preta, eu sou gorda, eu sou bissexual. Eu estou me tratando de um câncer. Eu estou solteira. E eu sou filha do imortal Gilberto Gil”) que provocou imediata empatia no público.
Houve o momento do estourado trio juvenil Gilsons em que Fran, João e José cantaram o hit Várias queixas (Germano Meneghel, Narcisinho e Afro Jhow, 2012). Houve os solos de Flor Gil – cantora adolescente com a voz ainda em processo de maturação – no samba Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) e, mais tarde, em Era nova (1977), canção menos conhecida do avô.
E houve a inserção de tributo a Rita Lee (1947 – 2023) com o belo canto de Ovelha negra (1975) pelo quarteto feminino após Gil dar o devido peso roqueiro a De leve (Get back) (John Lennon e Paul McCartney, 1970, em versão em português de Gilberto Gil, 1977).
Gilberto Gil (ao violão) canta ‘Metáfora’ com o neto Bento (ao tamborim)
Babi Furtado / Divulgação Qualistage
Contudo, o alicerce do roteiro de 24 músicas foi o plural cancioneiro do patriarca, compositor que partiu de Luiz Gonzaga (1912 – 1989), se maravilhou com João Gilberto (1931 – 2019) – devidamente tributado na dobradinha com o neto Bento em O pato (Jayme Silva e Neuza Teixeira, 1960) e Metáfora (Gilberto Gil, 1982), com avô e neto alternando-se no tamborim e no violão minimalistas – e vislumbrou a manhã tropicalista, se espraiando com liberdade pelo funk e pelo reggae na criação e refazenda de obra pautada pela negritude.
“Ancestralidade é a conversa lá de casa”, ressaltou após cantar Baba Alapalá (Gilberto Gil, 1977), tributo ao orixá Xangô no toque da deusa música africana. Senhor de si e da obra monumental, Gil comandou a família em show festivo que teve um ou outro número mais intimista, sobretudo o sensível solo de Fran em Deixar você (1982).
Uma ou outra música pouco badalada do compositor, caso do ijexá Serafim (1991), entrou no roteiro ao lado de infalíveis hits autorais como Palco (1980), Andar com fé (1982) – número adornado com a dança de Bela Gil, única filha do patriarca que não canta – e, já no bis, o samba Aquele abraço (1969) e o estilizado ijexá Toda menina baiana (1979).
Em clima de congraçamento familiar entre três gerações, corroborado pelas imagens expostas no telão e pela cumplicidade com que a filha mais velha Nara Gil caiu no suingue do samba Amor até o fim (1966) diante do pai, a gente de Gil se acarinhou em cena sob direção musical de Bem Gil, exibiu com orgulho os netos graciosos ainda crianças – com Sereno já mostrando os dotes infantis no manuseio da guitarra – e celebrou a união ao som do cancioneiro do patriarca, firme aos (quase) 81 anos para sustentar a prole na cena afetuosa do show Nós, a gente.
Gilberto Gil celebra Rita Lee no show ‘Nós, a gente’
Babi Furtado / Divulgação Qualistage
♪ Eis o roteiro seguido em 16 de junho de 2023 por Gilberto Gil e família na estreia no Brasil do show Nós, a gente na casa Qualistage, na cidade do Rio de Janeiro (RJ):
1. Barato total (Gilberto Gil, 1974)
2. Serafim (Gilberto Gil, 1991)
3. Nossa gente (Avisa lá) (Roque Carvalho, 1992)
4. Baba alapalá (Gilberto Gil, 1977)
5. Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962)
6. Esotérico (Gilberto Gil, 1976)
7. De leve (Get back) (John Lennon e Paul McCartney, 1970, em versão em português de Gilberto Gil, 1977)
8. Ovelha negra (Rita Lee, 1975)
9. O pato (Jayme Silva e Neuza Teixeira, 1960)
10. Metáfora (Gilberto Gil, 1982)
11. Palco (Gilberto Gil, 1980)
12. Amor até o fim (Gilberto Gil, 1966)
13. Era nova (Gilberto Gil, 1977)
14. Deixar você (Gilberto Gil, 1982)
15. Várias queixas (Germano Meneghel, Narcisinho e Afro Jhow, 2012)
16. Sinais de fogo (Ana Carolina e Antonio Villeroy, 2003)
17. Vá se benzer (Leonardo Reis, Deco Simões, Emerson Taquari e Sergio Rocha, 2017)
18. Andar com fé (Gilberto Gil, 1982)
19. Vamos fugir (Gilberto Gil e Liminha, 1984)
20. Nos barracos da cidade (Gilberto Gi e Liminha, 1985)
21. Madalena (Isidoro em adaptação de Gilberto Gil, 1969)
Bis:
22. Refazenda (Gilberto Gil, 1975)
23. Aquele abraço (Gilberto Gil, 1969)
24. Toda menina baiana (Gilberto Gil, 1979)

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