Marina Sena dilui identidade e referências no caleidoscópio latino do álbum ‘Coisas naturais’


Capa do álbum ‘Coisas naturais’, de Marina Sena
Divulgação
Marina Sena divulga seu novo disco, ‘Coisas naturais’
Gabriela Schmidt/Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Coisas naturais
Artista: Marina Sena
Cotação: ★ ★ 1/2
♬ A colagem exposta na capa do terceiro álbum solo de Marina Sena, “Coisas naturais”, reflete a diversidade de influências e referências diluídas no caleidoscópio latino do disco lançado às 21h desta segunda-feira (31).
É justo reconhecer que a artista mineira virou o disco após dois álbuns, “De primeira (2021)” e “Vício inerente (2023)”, que a catapultaram ao estrelato e a puseram no circuito de festivais. Ambos foram superestimados pela crítica, mas o primeiro ainda tem uma espontaneidade singular que se perdeu no segundo.
A naturalidade alardeada já no título do terceiro álbum parece escassa, mas quem espera emoções reais de uma cantora pop em 2025?. Marina Sena está longe de ser uma grande compositora e de ter a potência vocal de Gloria Groove ou de Iza, mas cumpre os requisitos para ser estrela na era em que a música serve sobretudo ao entretenimento.
Nesse universo superficial, a artista se ambienta com repertório inteiramente autoral que procura ir além da atmosfera eletrônica da música-título Coisas naturais (Marina Sena, Janluska, André Oliveira e Matheus bragança).
“Vou fazer um Carnaval na sua vida tão sem sal”, promete Marina em verso do refrão de Desmistificar (Marina Sena e Janluska). Na era dos emojis e da frivolidade das redes sociais, talvez ela faça mesmo o Carnaval para um séquito que pode se identificar com os sentimentos dissipados na atmosfera lo-fi de Sensei (Marina Sena e Janluska), na cadência do estilizado reggae Combo da sorte (Marina Sena, Janluska, André Oliveira e Matheus Guimarães) e na batida do reggaeton Doçura (Marina Sena Luis Angel Lozano Acosta, Omar Roldán Molina, Benito Casado Muñoz, Gabriel Duarte Mendes, André Oliva, Tino Gomes, Charlie, Angela e José Barbosa dos Santos).
Em aceno para o mercado latino, Doçura tem o sabor da banda Çantamarta, trio radicado em Madrid, Espanha, mas com formação transfronteiriça por unir o colombiano-venezuelano LuisLo com os andaluzes Omar e Benito. No mapa criativo de Marina, Doçura evoca Zé Coco do Riachão (através de sample da rabeca do músico de Brasília de Minas) e o Grupo Raízes, referências da música de Minas Gerais que influenciaram a artista nascida na interiorana cidade de Taiobeiras (MG) em setembro de 1996.
Em universo similar, Tokitô (Marina Sena, Gaia, Nenny, Kidonov e Epico) é faixa que poderia figurar em qualquer álbum bilíngue de Anitta para o mercado latino. Marina Sena gravou a música com a cantora ítalo-brasileira Gaia e com a rapper portuguesa Nenny em outra conexão além das fronteiras do Brasil.
Em álbum sem feats. com artistas nacionais, a cantora mineira oferece eficiente pop para pista em Mágico (Marina Sena) e surpreende com evocações do samba, do samba-rock, da MPB e da bossa nova.
Boa faixa tratada como o atual single do álbum, Ouro de tolo (Marina Sena) transita nesse universo com boa dose de sons orgânicos. Antes de ser jogado na pista, Anjo (Marina Sena) soa como samba com bossa, levado nos violões de André Oliva e da própria Marina Sena. Mas tudo se dilui à medida em que a faixa avança.
Esse é o problema do álbum Coisas naturais. Tudo soa diluído, fragmentado, como a incursão eletrônica pelo mundo brega em Lua cheia (Marina Sena e Janluska). Talvez essa fragmentação de ideias e referências seja o reflexo da era em que Marina Sena vive.
Gravado sob direção musical do produtor Janluska, guitarrista da cantora desde 2021, o álbum Coisas naturais foi criado pela artista com músicos que formavam A Outra Banda da Lua, casos de André Oliva e Matheus Bragança. Boa parte do (irregular) repertório ganhou forma em camp realizado em fazenda do interior de São Paulo (SP) e em outros espaços.
Na busca pela conexão com as origens sem perda do elo com os sons da própria geração, Marina Sena acabou dissolvendo a própria identidade artística ao criar álbum que, embora não chegue a soar artificial, tampouco soa realmente espontâneo. Fica uma sensação de que o disco poderia simplesmente soar mais… natural.

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