Recheado de hits das décadas de 1970 e 1980, espetáculo prima pelo requinte visual e reitera o dom do compositor mineiro para criar belas melodias. Flávio Venturini estreia o show ‘Minha história’ na casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ)
Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio
♫ OPINIÃO SOBRE SHOW
Título: Minha história
Artista: Flávio Venturini
Data e local: 29 de março de 2025 na casa Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Cotação: ★ ★ ★ ★
♬ Após ter dado voz à canção Tudo que você podia ser (Lô Borges e Marcio Borges, 1971) em levada hard folk, de pé, à beira do palco da casa Vivo Rio, Flávio Venturini foi para o teclado escondido atrás de cabine posicionada mais atrás e, dali, tocou e cantou Criaturas da noite (Flávio Venturini e Luiz Carlos Sá, 1975), sucesso lançado há 50 anos pelo grupo carioca O Terço, do qual o artista mineiro fez parte. Naquele momento, a alma musical do cantor, compositor, pianista e tecladista de 75 anos resplandeceu no show Minha história.
Neste show retrospectivo, Venturini resume 50 anos de história na música brasileira – a rigor, 51 anos, pois entrou em cena em 1974 – em turnê que estreou ontem, 29 de março, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Sob direção de Jorge Espírito Santo, o cantor apresentou show embebido em certa nostalgia da modernidade desse artista que marcou época nos anos 1970 e 1980 ao dar forma a um pop melódico que combinava toques de rock progressivo e de música clássica em doses bem calculadas.
Sintomaticamente, a música que encerrou o show – antes do bis em que o convidado Roberto Frejat se afinou com Venturini no canto de Mais uma vez (Flávio Venturini e Renato Russo, 1987) – foi Linda juventude (Flávio Venturini e Marcio Borges, 1982). Sucesso do 14 Bis, grupo mineiro do qual Venturini fez parte até 1988 e com o qual contribuiu com grandes músicas, Linda juventude é a canção que celebra a “página de um livro bom”, como ressalta verso da letra.
Flávio Venturini canta 19 músicas no show ‘Minha história’
Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio
Em essência, o que Flávio Venturini fez no palco da casa Vivo Rio, na estreia nacional do show Minha história, foi repassar as páginas de cancioneiro recheado de sucessos, a maioria da lavra do artista. Venturini reiterou ali, para uma plateia nostálgica, o dom de criar belas melodias.
Como não beber da fonte melódica que brotou em Nascente (Flávio Venturini e Murilo Antunes, 1977) com o sopro vigoroso de Marcelo Martins (sax e flauta)? Como não se deixar envolver pela atmosfera íntima e sensual do bolero Besame (Flávio Venturini e Murilo Antunes, 1988)? Como não se inebriar com a beleza sublime de Céu de Santo Amaro (2003) – versão do artista mineiro para Largo (1742), movimento do Concerto nº 5 em fá menor BWV 1056, tema do compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685 – 1750) – em número feito com reverência ao arranjo da gravação original que juntou Flávio Venturini com Caetano Veloso?
Todas essas músicas obviamente foram incluídas no roteiro, aberto com medley de pegada roqueira que agregou Natural (Flávio Venturini e Toninho Horta, 1979) e Nova manhã (Flávio Venturini, Tavinho Moura e Vermelho, 1980), canções apresentadas na discografia do 14 Bis, grupo que abriu janela pop no universo da MPB três anos antes da explosão do rock brasileiro em 1982.
Visão panorâmica do palco da casa Vivo Rio no show de Flávio Venturini
Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio
Na estreia, Minha história já se impôs como um dos shows mais requintados de Flávio Venturini sob o prisma visual. A direção de arte de Alexandre Arrabal preencheu o cenário com projeções de imagens idealizadas para casa música. Quando o cantor reviveu Para Lennon & McCartney (Lô Borges, Marcio Borges e Fernando Brant, 1970), por exemplo, o telão salpicou dezenas de fotos das várias fases da trajetória artística de Venturini nessas cinco décadas de carreira.
No bloco inicial, o cantor pareceu pouco à vontade, quase tenso, quando deu voz à canção Amor de índio (Beto Guedes e Ronaldo Bastos, 1977), talvez porque essa música, lançada por Beto Guedes e depois abordada por Milton Nascimento, nunca ficou de fato associada a Venturini, que a registrou em Trem azul (1998), álbum com regravações de sucessos do clube mineiro.
O mesmo não pode ser dito de Clube da Esquina 2 (Milton Nascimento, Márcio Borges e Lô Borges, 1972), música que se tornou tanto de Milton quanto de Venturini desde que este a gravou no álbum Noites com sol (1994) em registro aliciante e que, por isso mesmo, foi um dos pontos altos da estreia do show Minha história.
Projeções de fotos de Flávio Venturini com amigos e colegas embelezam número do show ‘Minha história’
Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio
Outro grande momento foi Todo azul do mar (Flávio Venturini e Ronaldo Bastos, 1983), número turbinado por solo arrasador do guitarrista Torquato Mariano – diretor musical do show – e por braços que balançavam na plateia na onda dessa apaixonada e apaixonante canção.
Antes, o público já havia se extasiado com a levada de Espanhola (Flávio Venturini e Guttemberg Guarabyra, 1977) e com a nobreza da melodia de Princesa (Flávio Venturini e Ronaldo Bastos, 1982). Em geral, os arranjos soaram reverentes às gravações mais famosas das 19 músicas alinhadas no roteiro.
Se o toque da gaita do convidado Milton Guedes esquentou Noites com sol (Flávio Venturini e Ronaldo Bastos, 1993), música apresentada na trilha sonora da novela Fera ferida (Globo, 1993) antes do álbum homônimo, as dispensáveis lembranças sequenciais de Quando você chegou (Flávio Venturini e Alexandre Biasifera, 1994) e Uma velha canção rock’n’roll (Flávio Venturini, Vermelho e Murilo Antunes, 1982) esfriaram o público por surtirem pouco ou nenhum efeito na memória afetiva da plateia.
Contudo, quando Planeta sonho (Flávio Venturini, Vermelho e Marcio Borges, 1980) girou entre imagens espaciais, com Venturini nos teclados, o show retomou a temperatura habitual porque Flávio Venturini foi ficando mais relaxado e confiante à medida que a apresentação avançava e sobretudo porque, na revisão das páginas desse cancioneiro tão bom, são os sucessos que atiçaram lembranças das lindas juventudes de todos que estavam ali para reverenciar o artista por obra grandiosa que resistiu muito bem ao tempo.
Flávio Venturini leva o show ‘Minha história’ para São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG) após a estreia da turnê no Rio de Janeiro (RJ)
Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio
♬ Eis as 19 músicas do roteiro seguido por Flávio Venturini em 29 de março de 2025 na estreia nacional do show Minha história :
1. Natural (Flávio Venturini e Toninho Horta, 1979) /
2. Nova manhã (Flávio Venturino, Tavinho Moura e Vermelho, 1980)
3. Para Lennon & McCartney (Lô Borges, Marcio Borges e Fernando Brant, 1970)
4. Amor de índio (Beto Guedes e Ronaldo Bastos, 1977)
5. Tudo que você podia ser (Lô Borges e Marcio Borges, 1971)
6. Criaturas da noite (Flávio Venturini e Luiz Carlos Sá, 1975)
7. Nascente (Flávio Venturini e Murilo Antunes, 1977)
8. Clube da Esquina 2 (Milton Nascimento, Márcio Borges e Lô Borges, 1972)
9. Besame (Flávio Venturini e Murilo Antunes, 1988)
10. Céu de Santo Amaro (Flávio Venturini, 2003, a partir Largo, 1742, tema de Johann Sebastian Bach)
11. Espanhola (Flávio Venturini e Guttemberg Guarabyra, 1977)
12. Princesa (Flávio Venturini e Ronaldo Bastos, 1982)
13. Todo azul do mar (Flávio Venturini e Ronaldo Bastos, 1983)
14. Noites com sol (Flávio Venturini e Ronaldo Bastos, 1993)
15. Quando você chegou (Flávio Venturini e Alexandre Biasifera, 1994)
16. Uma velha canção rock’n’roll (Flávio Venturini, Vermelho e Murilo Antunes, 1982)
17. Planeta sonho (Flávio Venturini, Vermelho e Marcio Borges, 1980)
18. Linda juventude (Flávio Venturini e Marcio Borges, 1982)
Bis:
19. Mais uma vez (Flávio Venturini e Renato Russo, 1987) – com Roberto Frejat
Flávio Venturini repassa ‘páginas de um livro bom’ em show nostálgico que resume 50 anos de história do artista
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