
Estudo feito pelo Instituto Update mostra que, independentemente de orientação política e classe social, 94% das mulheres defendem igualdade salarial, 72% apoiam maior representatividade na política e 77% apontam segurança como prioridade. Pontos divergentes são em relação a feminismo e religião. Brasileiras com posições políticas diferentes se unem em pautas sobre desigualdade salarial e segurança, aponta pesquisa
Joédson Alves/Agência Brasil
Apesar das diferenças ideológicas, políticas e sociais, existem pontos de convergência entre as mulheres brasileiras quando se fala em igualdade salarial, mais participação feminina na política, segurança pública e saúde. É o que aponta uma pesquisa inédita do Instituto Update.
O estudo “Mulheres em Diálogo” foi realizado em parceria com a Ideia Big Data e contou com a participação da cientista política Camila Rocha e da cientista social Esther Solano. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (24).
Ao todo, foram entrevistadas 668 mulheres de 16 anos ou mais de diferentes regiões, classes sociais e orientações políticas entre 2023 e 2024.
“Questões como igualdade salarial e segurança refletem preocupações universais entre as mulheres brasileiras e podem ser a base para ações que promovam avanços nos direitos das mulheres”, destaca Carolina Althaller, diretora-executiva do Instituto Update.
Entre os temas que unem mulheres de diferentes perfis, a igualdade salarial se destaca como o principal consenso: 94% das mulheres concordam total ou parcialmente que homens e mulheres devem receber a mesma remuneração para cargos equivalentes, o que reforça a relevância da equidade no mercado de trabalho como uma preocupação universal.
A segurança pública aparece como o principal problema do país para 77% das mulheres.
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Além da segurança pública, a saúde foi apontada como um dos três principais problemas do Brasil, com 47% das entrevistadas mencionando essa preocupação.
Outro fator destacado é desinformação e fake news, que se consolidam como um problema relevante para mulheres do Sul e com maior escolaridade.
Já a necessidade de maior representatividade feminina na política recebe apoio de grande parte das mulheres: 72% concordam com a ideia de aumentar a representação feminina em cargos políticos.
Divergências em temas morais e religiosos
O estudo evidencia divisões significativas entre as mulheres em questões como feminismo, descriminalização do aborto e influência religiosa na política.
Entre as mulheres entrevistadas, 48% se identificam como feministas, enquanto 43% rejeitam o rótulo. Há maior adesão entre jovens de 16 a 44 anos, com ensino médio ou superior e pertencentes às classes AB e C.
Já a maior parte das mulheres acima de 45 anos, evangélicas e de classe D/E rejeita o feminismo, o que reflete uma divisão tanto geracional quanto ideológica.
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A descriminalização do aborto é outra pauta que o apoio geral é limitado a 16%. No total, 61% das mulheres que se identificaram como progressistas na pesquisa são contrárias à legalização da prática.
Entre as conservadoras, esse número é ainda maior – chegando a 82%. E quando o recorte é apenas para as mães nos dois grupos, a rejeição cresce para 85%.
Outro ponto de divisão é a influência religiosa na política: 53% defendem que valores religiosos devem guiar decisões políticas, enquanto 43% acreditam que não.
A pesquisa também aborda temas como conservadorismo e prioridades entre diferentes gerações:
70% das mulheres acima de 60 anos e de classes D/E têm posturas mais conservadoras em temas como direitos LGBTQIAPN+ e composição familiar, enquanto de 20% a 30% das jovens de 16 a 24 anos e mulheres de esquerda compartilham essas visões.
30% das mulheres do Centro-Oeste e com escolaridade fundamental discordam do uso de banheiros femininos por mulheres trans, enquanto 65% das mulheres de ensino superior e de esquerda são favoráveis à pauta.
Jovens priorizam o combate ao assédio no trabalho (50%) e políticas para empreendedoras (47%), enquanto idosas destacam a prevenção à violência doméstica (60%) e a assistência social (55%).
Políticas públicas
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O levantamento evidencia fraturas sociais que atravessam as percepções das mulheres, mas também revela consensos estratégicos que podem embasar políticas públicas.
“Esta pesquisa é inédita, feita por mulheres, e é interessante para olharmos o que nos aponta. Fala bastante da fratura social e ajuda a entender como buscar essa aproximação entre o público feminista e conservador, principalmente na participação política. A gente vê a segurança pública como problema para a maioria, além da saúde. Ajudou a gente entender os temas mais importantes para cada região”, afirmou ao g1 Carolina Althaller, diretora-executiva do Instituto Update.
A cientista política Camila Rocha enfatiza que a pesquisa revela que, independentemente de serem progressistas ou conservadoras, as mulheres entendem como são prejudicadas pelo machismo na sociedade.
“Elas nomeiam isso, entendem o que são falas machistas, o que são ações machistas, e é como elas veem o empoderamento feminino, como uma coisa importante, e entendem que esse empoderamento está ligado à autonomia, principalmente autonomia financeira das mulheres”, disse.
Para a diretora do Update, os temas morais e religiosos revelam divisões mais profundas, mas também reforçam a pluralidade das experiências femininas no Brasil.
“Compreender como fatores como idade, religiosidade e classe social influenciam essas percepções é central para a construção de diálogos que respeitem diferenças sem abrir mão de buscar pontos de encontro”, analisa.
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TV Globo