
Zeca Baleiro dá voz a sucessos da banda Cake e da cantora Letrux no show ‘Piano’, apresentado no Teatro Rival Petrobras
Rodrigo Goffredo
♫ OPINIÃO SOBRE SHOW
Título: Piano
Artista: Zeca Baleiro
Data e local: 21 de março de 2025 no Teatro Rival Petrobras (Rio de Janeiro, RJ)
Cotação: ★ ★ ★ ★
♬ Piano – show apresentado por Zeca Baleiro em 2014 e retomado pelo artista neste ano de 2025 – foi idealizado, em essência, como show de voz e piano, como sugere o título. Mas extrapolou o formato com dinâmica heterodoxa, como ficou claro na chegada do show ao Rio de Janeiro (RJ) neste fim de semana.
O pianista Adriano Magoo também tocou acordeom em alguns números. E o cantor, além de ter tocado violão em outros números, ainda pilotou eventualmente um kazoo, instrumento japonês de sopro que emula zumbido na voz.
Em cena, Baleiro se movimentou bem pelos vários moldes do roteiro e ainda se arriscou ao piano enquanto deu voz à canção chuvosa com que abre o show, sozinho, antes de chamar ao palco Adriano Magoo, “pianista de verdade”, como gracejou diante da plateia que encheu o Teatro Rival Petrobras na noite de sexta-feira, 21 de março, para assistir à estreia carioca da temporada 2025 do show Piano.
Adriano Magoo (à esquerda) é o pianista que divide o palco com Zeca Baleiro no show que gera álbum em 4 de abril
Rodrigo Goffredo
Com roteiro que apresentou verborrágica canção inédita composta por Zeca Baleiro em parceria com Juliano Holanda, o show Piano gera álbum gravado em estúdio com novembro de 2024 e programado para ser lançado em 4 de abril (a previsão inicial era de que o disco saísse neste mês de março).
Embora tenha construído obra fincada em pilar autoral, Zeca Baleiro sempre foi intérprete sagaz de canções alheias – dom reiterado no show Piano quando o cantor incursionou por músicas como Dia branco (Geraldo Azevedo e Renato Rocha, 1979), Céu azul (Chorão e Thiago Castanho, 2011) – tema mais melódico do repertório hardcore da banda Charlie Brown Jr. – e sobretudo Não adianta (Sérgio Sampaio, 1972), composição que Baleiro já gravou no álbum Baladas do asfalto & outros blues ao vivo (2006).
O cantor também se afinou quando deu voz às próprias líricas, como Quase nada (canção de 2000 escrita com letra de Alice Ruiz) e Zás (parceria com Wado, de 2012), com a ressalva de que Uma canção no rádio (Fagner e Zeca Baleiro, 2009) tocou de forma bem menos sedutora – na comparação com o registro original de Fagner – em que pese o canto grave e encorpado de Baleiro no tema, alongado no show com improvisos experimentais de Magoo ao piano e com vocais guturais do cantor.
Zeca Baleiro na estreia carioca da temporada 2025 do show ‘Piano’
Rodrigo Goffredo
Zeca Baleiro é intérprete tão hábil que cantou sucesso da cantora Letrux, Ninguém perguntou por você (Arthur Braganti e Letícia Novaes, 2017), como se a música fosse dele, Baleiro. Sem falar que encarou Espinha de bacalhau (Severino Araújo, 1945, com letra de Fausto Nilo, 1981) sem se engasgar com o choro trava-língua.
Entre o mergulho poético na zamba argentina Alfonsina y el mar (Ariel Ramírez e Félix Luna, 1969) e a desalinhada versão em português de You know I’m no good (Amy Winehouse, 2006), intitulada Você sabe que eu não presto na escrita espontânea de Baleiro, o cantor caiu no samba Me deixa em paz (Monsueto Menezes e Airton Amorim, 1951) com pulsação incomum.
Com Adriano Magoo no acordeom, o intérprete deu Bandeira (Zeca Baleiro, 1997) em número lindo e, na sequência, pegou o violão e foi para Babylon (2000), outra canção de lavra própria que resiste na memória dos seguidores do artista.
Zeca Baleiro (à esquerda) faz alguns números do show ‘Piano’ com o toque do acordeom de Adriano Magoo
Rodrigo Goffredo
Com Magoo de volta ao piano, o cantor reviveu música da banda norte-americana Cake, Frank Sinatra (John McCrea, 1996), emendada com jocoso tema mineiro de conteúdo sexual explícito que fechou o roteiro antes do bis estilo karaokê feito com as canções Proibida pra mim (Chorão, Marcão, Champignon, Renato Pelado e Thiago Castanho, 1997), Lenha (Zeca Baleiro, 1997), Ai que saudade d’ocê (Vital Farias, 1982) e Telegrama (Zeca Baleiro, 2002), além do improvisado canto de Garoto de aluguel (Taxi boy) (Zé Ramalho, 1979), feito para atender pedido da plateia.
O contraste entre a chuvosa canção que abriu o show Piano e a espirituosidade do tema erótico popular que o fechou exemplificou a dinâmica incomum desse show que escapou da linearidade de alguns recitais de formato mais rígido por conta da verve de Zeca Baleiro.
Zeca Baleiro toca violão no show ‘Piano’
Rodrigo Goffredo