
Dados de 2023, divulgados pelo Saae, mostravam que a cidade tinha 1.742 nascentes; agora, são 1.675. Córrego com água cristalina na zona leste de Sorocaba (SP)
Marcel Scinocca/g1
Sorocaba (SP) tem, atualmente, 1.675 nascentes registradas, segundo dados da Secretaria do Meio Ambiente, Proteção e Bem-Estar Animal (Sema). O número representa uma redução de 4% com relação aos dados divulgados pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) em 28 de dezembro de 2023.
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Do total de nascentes, conforme a Sema, 1.414 estão na zona urbana e 261 na zona rural. Para os números, foi considerado o zoneamento do Plano Diretor da cidade para diferenciar a área urbana e a área rural.
São 67 nascentes a menos se comparados os dados do Saae de novembro de 2023 e os da Sema que foram divulgados na quinta-feira (20). Todos esses números, divulgados tanto pela prefeitura quanto pelo Saae, são baseados no Cadastro Ambiental das Nascentes de Sorocaba.
A prefeitura foi questionada sobre a divergência, mas manteve os dados de que são 1.675 nascentes registradas na cidade.
Lei determina registros
Conforme uma lei municipal de 2006, a catalogação e o registro das nascentes é de responsabilidade da prefeitura. Pela lei, todas as nascentes e cursos d’água existentes no território do município, em propriedades públicas ou privadas, deverão ser cadastrados para fins de proteção e conservação, “com vistas à garantia de suprimento de recursos hídricos para a população”.
Além dos registros, a lei determina que a prefeitura tenha os seguintes dados:
Código e o nome atribuído à nascente d’água;
Nome e o número de registro de imóveis da propriedade onde se encontra;
Nome do titular da propriedade ou da posse, se for o caso, ou do explorador, na hipótese de parceria, arrendamento, locação ou qualquer forma de cessão de uso;
Características geográficas e demográficas do local;
Tipo de solo e de vegetação existente no local;
Altitude da nascente;
Tipo de exploração econômica existente no local e nas adjacências.
Nascem cristalinas, mas escurecem pelo caminho
Imagens mostram mudanças em córrego de Sorocaba (SP), próximo de nascente e perto de onde ele deságua
Marcel Scinocca/g1
As nascentes apresentam águas cristalinas e, em tese, puras. E é a partir daí, nos córregos que as levam até os rios, que parte dos problemas aparecem. Com as nascentes de Sorocaba não é diferente.
Em uma área de mata na região leste de cidade, bem perto da Rodovia Raposo Tavares (SP-270), há a nascente de dois córregos. O primeiro é o Três Meninos, que passa pelos bairros Piratininga e Vila Haro, desaguando no Rio Sorocaba, na região próxima à Vila Rica.
Já o segundo margeia boa parte da Rua Dorothy de Oliveira, na região do Jardim Ipê, passando pelo terreno da antiga Campari e desaguando no Rio Sorocaba, também na região da Vila Rica.
Ainda na zona leste de Sorocaba está um dos córregos mais conhecidos da cidade: o Lavapés. A maior parte dele é canalizada. Ele corta a Rodovia Raposo Tavares, passando pela região do Parque Zoológico “Quinzinho de Barros” e da Vila Hortência. O córrego deságua no Rio Sorocaba, próximo à Usina Cultural “Ettore Marangoni”.
Água em córrego de Sorocaba (SP) com grande concentração de espumas
Marcel Scinocca/g1
O g1 visitou o córrego que passa pelo Jardim Ipê na sexta-feira (21). Nos dois primeiros pontos, bem próximos à nascente, a água é transparente e praticamente incolor.
Entretanto, no trecho que passa pela Vila Rica, a situação é bem diferente. A água apresenta coloração escura. Há pontos, inclusive, com grande concentração de espuma. É dessa forma que o córrego deságua no Rio Sorocaba, cerca de 300 metros à frente.
Supiriri
Córrego no Centro de Sorocaba (SP), antes de canalização
Marcel Scinocca/g1
A reportagem também esteve nas proximidades do Córrego Supiriri, que cruza parte do Centro de Sorocaba. Os trechos entre as ruas Professor Toledo, Miranda Azevedo e Padre Luís apresentam bom estado de conservação, se comparados com outros períodos, quando era possível observar muito lixo ao longo da margem.
Entretanto, em todos os trechos, o odor de esgoto é forte, sinal de que há lançamento de carga sem tratamento em mais um dos pequenos braços do Rio Sorocaba. Vale lembrar que, a partir da Padre Luis, o córrego é canalizado.
Cadê a nascente que tinha aqui?
Lugar onde passava curso de água, em Sorocaba (SP), agora só tem mata, lixo e pedras
Marcel Scinocca/g1
O g1 também foi até uma nascente que fica no bairro São Guilherme, na zona norte da cidade. Os moradores mais velhos afirmam que, na área, havia duas nascentes, que se juntavam em um pequeno córrego. Agora, resta apenas uma.
Apesar das divergências, já que alguns moradores também disseram que houve a canalização da primeira nascente, o que há, de fato, no local, é o caminho de uma nascente, agora coberto apenas por pedras, matas e muito lixo, sem o fio de água. O fato ocorreu após as obras de revitalização da área, que inclui uma praça, pistas de caminhada e uma área de mata, na década de 2010.
A área preservada restante é reconfortante e motivo de orgulho. O motorista Adalberto dos Santos mora no bairro há mais de 20 anos e não troca o lugar por nada. “A importância daqui é grande. De manhã, quando a gente acorda, tem muitos pássaros, tem ar puro”, diz. “Gosto muito daqui. Não troco por outra coisa.”
Área de mata onde há uma nascente, na zona norte de Sorocaba, é motivo de orgulho para o motorista Adalberto dos Santos
Marcel Scinocca/g1
Prefeitura diz que trabalha na preservação
Conforme a Secretaria de Meio Ambiente, a ação de recuperação de nascentes é realizada de forma contínua pelo poder público.
“Em nascentes localizadas em áreas públicas, a Sema realiza plantios. Já em áreas privadas, os plantios compensatórios exigidos nos processos de licenciamento são geralmente direcionados para essas nascentes, especialmente quando o imóvel onde será realizado o empreendimento possui áreas que necessitam de recuperação.”
“Esses inúmeros plantios de árvores realizados nas APPs das nascentes são fundamentais para manter a qualidade e o fluxo dos recursos hídricos da cidade e, assim, ajudar na preservação na natureza, já que as matas ciliares têm a função de proteger a água de nascentes, córregos e rios”, lembra.
Os casos mais críticos são aqueles em que a nascente possui erosão, presença de pessoas e animais domésticos, como cavalo e gado, ou, ainda, presença de lixo ou material flutuante, por exemplo.
Em 2024, a Sema recebeu oito denúncias envolvendo degradação ou poluição em nascentes. Os munícipes podem registrar denúncia pelo WhatsApp (15) 99129-2426 ou pelo telefone 156 (Ouvidoria), de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
Há ainda a possibilidade de denúncia pelo portal da Prefeitura de Sorocaba. Por fim, as denúncias podem ser feitas pelo e-mail do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae): [email protected].
Sobre os problemas relatados pela reportagem, a Sema diz que enviará equipes para verificar os locais.
Água suja e obra em córrego de Sorocaba (SP)
Marcel Scinocca/g1
Biólogo contesta
O biológico e pesquisador Welber Senteio Smith contesta e critica a forma com que a preservação é feita na cidade.
“As nascentes não estão cuidadas! Não existe fiscalização, não existe constrole. Apesar de existir um inventário bem completo, relatórios detalhados, não existe política pública para a conservação e proteção das nascentes”, afirma.
Ele acrescenta: “Além disso, inúmeras intervenções em córregos e áreas de nascentes são realizadas tanto pela iniciativa privada, como pela população e poder público, que tornam esses ambientes altamente impactados. Isso retrata a total falta de fiscalização, controle e política pública”.
O especialista lembra ainda que há muitos licenciamentos que são liberados de forma isolada para empreendimentos, mas que são muito preocupantes quando somados.
“Aí, o efeito é catastrófico para o meio ambiente. São efeitos severos para os corpos d’água”, completa.
Pesquisador Welber Senteio Smith fala de problemas com relação à despoluição do Rio Sorocaba
Arquivo pessoal
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