Um prêmio de música para jornalista laureia o exercício profissional da crítica de discos e shows


♪ Em recente crônica no jornal O Globo, José Eduardo Agualusa apontou que a crítica literária vive há anos, no espaço da língua portuguesa, o que o escritor angolano qualificou de “amargo declínio”. A crítica de música brasileira – a exercida no Brasil de forma profissional – vem enfrentando similar decadência em processo potencializado pela transformação da música e do disco em produto volátil, banal.
Na era digital das redes sociais, um cantor ou grupo é mais avaliado pela imagem, pelo factoide da semana e pelo posicionamento social do que pela música em si. Como consequência, os lançamentos fonográficos se sucedem em velocidade vertiginosa. A cada semana, os radares de novidades dos aplicativos de streaming apontam uma série de lançamentos que parece jogar instantaneamente na vala do esquecimento os singles, EPs e álbuns da semana passada.
A música passou a ter prazo de validade, pelo menos a produzida em escala industrial. O disco virou produto logo descartável. São poucos os artistas e discos que passam no cada vez mais estreito funil que confere atemporalidade e/ou relevância a um lançamento fonográfico ou a uma carreira. Logo, é cada vez menor o interesse do público – sobretudo o jovem – por ler ou fazer avaliação de disco ou show.
Até por isso, recebo com felicidade e orgulho a notícia de que fui eleito o Jornalista de Música do Ano na sétima edição do Prêmio Profissionais da Música (PPM), realizada em Brasília (DF), por conta do Blog do Mauro Ferreira, coluna de resenhas e notas musicais que atualizo diariamente na editoria de Pop & Arte do portal g1 desde julho de 2016.
Jornalistas – sejam repórteres, críticos ou assessores de imprensa – também fazem parte da engrenagem que faz girar a roda da música. Um prêmio de música dado a um jornalista dedicado a resenhar discos e shows é prêmio que, em âmbito maior, laureia o exercício profissional da crítica musical na contramão do progressivo desaparecimento do ofício.
Agradeço a quem me deu esse PPM e o divido com Ali Kamel – diretor de jornalismo da Globo que me trouxe para o g1 há sete anos – e com todos os colegas da editoria de Pop & Arte do portal de notícias, especialmente com Braulio Lorentz e Gabriela Sarmento, com quem falo mais frequentemente no cotidiano da profissão.
Mas o prêmio é mesmo dos leitores fiéis que legitimam com generosidade o que escrevo há 36 anos. No mais, é tocar o barco com o pé no chão, sem jamais esquecer a sentença sábia proferida em 1957 por Dorival Caymmi (1914 – 2008) em versos do samba Saudade da Bahia: “Pobre de quem acredita / Na glória e no dinheiro para ser feliz”.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.