
Em reunião de diretor de Inteligência com Conselho Consultivo do presidente John F. Kennedy, autoridades americanas afirmaram que o presidente João Goulart se recusava a “livrar a casa dos comunistas”. Jango teve seu governo interrompido pela ditadura, em 1964. Assassinato de Kennedy: veja versão oficial e especulações
Cerca de 1 ano antes do início da ditadura no Brasil, um documento da Agência Central de Inteligência americana (CIA, em inglês) apontava que conselheiros do presidente americano John F. Kennedy estavam preocupados com a situação do país durante o governo de João Goulart e pareciam preferir um golpe militar.
João Goulart, também conhecido como Jango, assumiu a Presidência no Brasil após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, e teve seu governo interrompido pelo golpe de 1964.
O memorando, divulgado na terça-feira (18), faz parte de um conjunto de mais de dois mil documentos secretos relativos à investigação da morte do ex-presidente dos EUA, John F. Kennedy. A liberação dos arquivos foi autorizada pelo presidente Donald Trump em janeiro deste ano. Os documentos envolvem relatórios de diversos órgãos americanos, como a CIA.
O Brasil é mencionado em alguns arquivos no contexto da Guerra Fria e da influência de China e Cuba na América Latina. Veja trechos aqui.
‘Golpe militar é preferível’
Trecho de documento da CIA aponta que golpe militar seria “preferível” à continuação do ex-presidente João Goulart.
Reprodução CIA
O texto relata uma reunião realizada em 15 de abril de 1963 sobre “operações eleitorais” em países da América Latina, entre o vice-diretor da CIA, Richard Helms, o diretor-executivo J. Patrick Coyne e os consultores de inteligência estrangeira do governo americano, Robert Murphy e Gordon Gray.
Segundo o documento da CIA, Murphy disse no encontro que estava particularmente preocupado com a situação do Brasil, e os conselheiros questionaram por que os EUA continuavam dando apoio financeiro ao país enquanto João Goulart se recusava a se livrar da presença de comunistas.
“Os conselheiros do presidente americano John Kennedy acharam difícil entender por que o Departamento de Estado continuava a fornecer assistência econômica em larga escala, quando Goulart, até o momento, havia se recusado a limpar a casa de comunistas”, diz o documento.
Murphy e Gray ainda se mostraram interessados em saber como estava o contato da CIA com lideranças militares brasileiras que faziam oposição a João Goulart e, segundo o relato do memorando, pareciam preferir um golpe no Brasil.
“[Conselheiros do presidente americano John Kennedy] pareciam considerar que um golpe militar, em algum momento, poderia ser preferível a permitir que um país tão grande e poderoso como o Brasil caísse nas mãos da oposição”, escreveu Helms.
João Goulart assumiu a Presidência do Brasil em agosto de 1961, após Jânio Quadros renunciar. Jango estava fora do país e tomou posse quando voltou da China, 13 dias depois, enfrentando forte resistência. Ele foi presidente até 31 de abril de 1964, quando foi derrubado pelo Golpe Militar.
Brizola recusou ajuda de Cuba e China
Um outro trecho do arquivo afirma que o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, negou apoio oferecido por Cuba e China em agosto de 1961. Veja aqui.
O documento é um telegrama da CIA e cita que Brizola liderava os esforços para garantir que João Goulart assumisse a presidência após a renúncia de Jânio Quadros.
Segundo o telegrama, Fidel Castro e Mao Tse-Tung ofereceram apoio material, incluindo “voluntários”, a Brizola.
O governador negou a ajuda, temendo uma crise nas relações internacionais do Brasil e uma intervenção dos Estados Unidos.
Assassinato de John Kennedy
O presidente dos EUA, John F. Kennedy em Dallas momentos antes de ser assassinado, em 22 de novembro de 1963.
Arquivo/Reuters
Nesta terça, o governo dos Estados Unidos liberou uma série de documentos sobre o assassinato do ex-presidente John F. Kennedy. De acordo o presidente Donald Trump, mais de 60 mil páginas relacionadas ao caso se tornaram públicas.
Os documentos foram disponibilizados no site dos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos. Para acessar os arquivos, que estão em inglês, clique aqui. Parte deles cita o Brasil.
Arquivos secretos sobre o assassinato de Kennedy citam Brasil; veja
Em janeiro, Trump anunciou que iria retirar o sigilo sobre as investigações do assassinato de Kennedy, que foi morto em 22 de novembro de 1963, enquanto ainda era presidente dos EUA. À época, ele foi baleado enquanto sua comitiva passava de carro pelo centro de Dallas, no Texas.