Milton Nascimento (à esquerda) e Djonga posam com a letra do refrão cantado por Milton em rap do oitavo álbum do artista mineiro de hip hop
Reprodução / Facebook Milton Nascimento
♫ CRÔNICA
♩ Desde que o rap é rap no Brasil, o universo do hip hop acena para a música brasileira. Até porque Mano Brown – porta-voz do pioneiro e referencial grupo paulistano Racionais MC’s – desde sempre explicitou a devoção a São Jorge Benjor.
Ainda assim, o encontro de Milton Nascimento com Djonga no oitavo álbum do rapper mineiro – Quando mais eu como, mais fome eu sinto, lançado na noite de ontem, 13 de março – carrega especial simbolismo. A voz de Milton no refrão melódico do rap Demoro a dormir tem força espiritual que se afina com os questionamentos deste disco em que Djonga procura saciar a fome da alma.
Mais do que isso, o feat converge dois caudalosos rios que banham o universo musical de Minas Gerais. Belo Horizonte (MG) é a terra natal do Clube da Esquina – movimento que renovou a MPB no início da década de 1970 e que ainda reverbera na música do país – e é também a cidade das quebradas de onde surgiram rappers como Djonga.
Com antenas que captam os sinais emitidos pela música brasileira neste século XXI, Milton Nascimento tem ouvidos abertos para o novo. Tanto que a conexão com Djonga nem chega a surpreender, embora esteja longe de ser banal.
Afinal, quem está ali cantando no disco do rapper é Milton Nascimento, o cara que revelou admirável mundo novo ao ser projetado na música brasileira em 1967.
A música sem rótulo de Milton – artista que já personifica aos 82 anos uma entidade que carrega em si toda a aura e a força de um movimento musical como o Clube da Esquina – é tão ampla e ilimitada que abarca todos os sons do Brasil. Inclusive o rapper consciente e reflexivo de Djonga no álbum Quanto mais eu como, mais fome eu sinto.
Encontro de Milton Nascimento com Djonga converge dois rios de Minas
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