‘Fizemos cama com palha de açaí’, diz um dos desaparecidos 3 dias em floresta do AP


Quatro homens que estavam desaparecidos na Reserva Extrativista do Rio Cajari, em Laranjal do Jari, foram resgatados nesta quinta-feira (13). Sobrevivente Willis Penha, disse ao g1 que somou os conhecimentos de biólogo e ribeirinho na situação. Desaparecidos passaram 3 dias em floresta do AP
Os quatro homens desaparecidos ao adentrar a Reserva Extrativista do Rio Cajari, em Laranjal do Jari foram resgatados nesta quinta-feira (13) pela tarde. Willis Penha, de 28 anos, que é biólogo e professor de ciências, foi uma das vítimas.
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Ao g1 ele contou sobre os 3 dias angustiantes na floresta e que juntou os seus conhecimentos como biólogo e professor de ciências com o de ribeirinho nascido e criado em área rural.
“Temos costume e familiaridade com a floresta. Eu sou biólogo e tenho conhecimento sobre as plantas, então o conhecimento tradicional e a formação profissional foram essenciais nesse momento”, finalizou
Willis disse que iria acompanhar os amigos na caçada e era a primeira vez que participava. No entanto, a situação mudou subitamente após perderem a direção. Com a noite chegando, ele e os amigos decidiram pernoitar.
“Fizemos uma barraca e cama com a palha de açaí, a gente comia uns palmitos e umas bacabas que encontrava pelo caminho, estávamos muito angustiados, não tínhamos dormido e a incerteza era a pior parte”, contou.
Willis na esquerda da imagem, após o grupo ser encontrado pelo GTA
GTA/Divulgação
O segundo dia seguiu com buscas pelo caminho de casa, sem sucesso. No terceiro dia os amigos tentaram mais uma vez encontrar o caminho de volta, momento em que escutaram um barulho de tiro.
“Eu pensei, onde tem pistola tem gente, fomos em direção ao som pra ver se a gente conseguia se aproximar de onde viemos, mas o clima não favorecia, chuva forte o tempo todo e o solo era instável porque uma hora era terra e outra hora era pantanoso”, disse.
Após a forte chuva, mais um barulho foi ouvido pelos quatro, dessa vez um som diferente. O que poderia ser uma esperança.
“Estávamos cansados e com fome, já sem forças, no terceiro dia, eu só pensava que aquilo nunca ia acabar. Até que escutamos um barulho diferente que parecia ser um motor de helicóptero, já tínhamos imaginado que estavam a nossa procura”, disse.
Os sobreviventes foram em busca de um sinal que pudessem fazer para pedir socorro para o helicóptero do Grupamento Tático Aéreo (GTA), mas as árvores eram muito altas e os troncos estavam molhados para fazer fumaça.
“Até que com muita dificuldade por conta da chuva, conseguimos pegar pedaços de madeira pra fazer fumaça, mas mata era muito alta, conseguimos achar uma área mais ampla e acenar pro helicóptero. A sensação foi imediata de alívio”, contou Willis.
Sobreviventes fizeram sinal de fumaça
GTA/Divulgação
Veja como foi o resgate dos desaparecidos durante caça em floresta do AP; VÍDEO
O biólogo contou ainda que a angústia maior era não ter certeza do que aconteceria dia após outro, ou quanto tempo passariam ali.
“Eu pensava em reencontrar a minha família o tempo todo, pensava na minha filha. Me tranquilizava porque eu sabia que eles estavam em casa bem, mas a cabeça não ajudava e eu pensava que iriamos passar mais dias ali, então a incerteza de quando aquilo ia acabar me deixava aflito”, falou.
Grupo comia palmitos e bacabas para matar a fome
GTA/Divulgação
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Sobre o resgate
A equipe iniciou as buscas aéreas por voltas da 10h da manhã de quinta-feira (13). Por volta de 12h, o sinal de fumaça foi detectado, após os desaparecidos escutarem o barulho da aeronave. Adversidades da natureza acabaram dificultando o processo de resgate.
Os resgatados em seguida caminharam por uma hora com o auxílio do GTA até o ponto de resgate. Por volta das 17h, após todo o processo, veio o alívio, os sobreviventes foram levados à comunidade do Aturiá, onde reencontraram a família.
“É gratificante ver as famílias emocionadas, vendo seus entes queridos de volta emocionados. Então, pra gente, é uma satisfação muito grande e recompensador ver esse sorriso, essa alegria na família, nos familiares e nas vítimas, por estarem de volta em suas casas com saúde”, contou Éder Prado, Tenente Coronel do GTA.
Resgate foi feito em área florestal densa após forte chuva
GTA/Divulgação
Quem são os resgatados
Quatro extrativistas desaparecidos na na Reserva Extrativista do Rio Cajari
Reprodução
Segundo o Corpo de Bombeiros Militar (CBM), que iniciou as buscas, os quatro homens que desapareceram são Romério Duarte, Erildo Soares, Willis Penha e Redson Pinto dos Santos.
A informação do desaparecimento foi repassada ao CBM pelos moradores da comunidade do Aturiá, a comunidade mais próxima do local do desaparecimento. Ainda na manhã da quarta-feira (12), uma equipe do 6º Grupamento dos Bombeiros foi deslocada para ajudar nas buscas na região.
Reserva Extrativista do Rio Cajari
A Reserva Extrativista do Rio Cajari é uma unidade de conservação localizada na Amazônia amapaense, com uma área de 532.397,20 hectares. A reserva foi criada em 1990.
O uso, assim como o monitoramento, e regras para ocupação da unidade são definidos pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a nível nacional, e pela Secretaria de Meio Ambiente do Amapá (Sema), a nível estadual.
Reserva Extrativista do Rio Cajari, no Sul do Amapá
Cristiane Gois/ICMBio
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