
Ao g1, o humorista contou da depressão e abandono do trabalho que enfrentou após o episódio de 2022, quando foi chamado de macaco, ladrão e sujo pela ex-vizinha Elisabeth Morrone. Ela foi condenada a apenas 1 anos e três meses de prisão, em regime aberto. Eddy Junior lamenta pena de regime aberto de vizinha racista
Vítima de racismo e ameaças dentro do prédio onde morava na Barra Funda, em 2022, o humorista Eddy Júnior disse ter sido surpreendido com a sentença da agressora. Elisabeth Morrone foi condenada a um ano e três meses de prisão em regime aberto pelo crime de injúria racial.
Após quase três anos do crime, que chocou pela crueldade e pelas provas registradas, a Justiça publicou a condenação de Elisabeth e seu filho. No entanto, para Eddy, as penas impostas “não contribuem em nada para a luta contra o racismo no país”.
Ainda em choque com a decisão, o humorista afirmou ao g1 que pretende recorrer da sentença da 14ª Vara Criminal de São Paulo.
Em entrevista, ele revelou como o episódio de 2022 impactou sua vida, levando-o à depressão, ao endividamento e à perda da vontade de viver.
“Esse incidente me causou muitos problemas. Fiquei sem trabalho, perdi meu apartamento e minha saúde mental foi muito afetada. Achei que a Justiça foi muito fraca. Isso só deixa outros racistas livres para continuarem cometendo crimes”, desabafou.
O humorista Eddy Jr fala da depressão e do processo de volta ao trabalho, após o episódio de racismo de 2022.
Reprodução/g1
“Dessa forma, a gente nunca vai conseguir combater o racismo. Desse jeito nunca vai mudar, as coisas vão continuar sendo desse jeito. Só mostra que a Justiça é falha em relação ao racismo e que outras pessoas podem continuar sendo racistas porque a pena é essa. Não é nada”, desabafou.
Na conversa, Eddy Júnior afirmou que “nunca mais conseguiu ser o mesmo” rapaz que alegrava a internet com suas paródias e vídeos engraçados.
Na época do episódio, ele tinha mais de 1,6 milhão de seguidores no Instagram e outros 2 milhões no TikTok. Mas o ânimo para o trabalho foi minado aos poucos pela depressão, até que o rapaz ficou o ano de 2024 inteiro fora das redes sociais, afastando fãs e contratos de trabalho.
“Infelizmente após o caso fiquei muito mal da cabeça. Precisei começar a me tratar, não consegui mais trabalhar. Tive que entregar o meu apartamento porque eu também não conseguia mais continuar morando lá. Me sentia muito mal. Tive que pagar uma multa gigantesca pra entregar o apartamento. Com essa multa fiquei endividado, acabei ficando pior ainda”, contou.
“Não consegui voltar mais a ser quem eu era, atuar na internet como eu era. Então, a minha vida mudou muito. Graças a Deus hoje estou bem. Disposto a voltar e trabalhar. Então, pra mim, mudou muita coisa. Pra ela [com essa pena] não mudou nada”, lamentou.
O humorista e youtuber Eddy Júnior e a aposentada Elisabeth Morrone, moradores do Condomínio United Home & Work, na Barra Funda, Zona Oesta de SP.
Montagem/Reprodução
Recolher da sentença
Humorista é vítima de xingamentos racistas por vizinha ao tentar usar elevador em SP
Chamado de macaco, ladrão e sujo pela vizinha descontrolada (veja vídeo acima), o humorista afirmou que já procurou os advogados para entrarem com recurso da sentença do juiz de 1ª Instância e diz que quer levar o assunto adiante, até que uma condenação que ele considere justa seja aplicado à Elisabeth Morrone.
“Eu não pensava mais no assunto porque acreditava que a Justiça realmente ia tomar uma atitude, tanto com ela presa quanto com indenização. Mas não tomou a atitude que eu imaginava (…) Acho que a Justiça foi bem falha nesse sentido. Não estou satisfeito. A gente vai recorrer”.
“Acho que deveria ter sido uma pena de cadeia mesmo para os dois. Porque se eu, Eddy Jr., negro, tivesse ameaçado alguém com uma faca, na porta da casa dessa pessoa, com certeza eu estaria preso há muito tempo”.
Câmera registra vizinhos com faca e garrafa na porta de humorista Eddy Jr., vítima de racismo em SP
“Me dói saber que ela vai continuar aí da forma como sempre foi. E o que me dói mesmo é não ter voz. Porque todos os programas que eu sempre quis ir pra mostrar a minha arte, minha música e meu som, eu participei só pra falar sobre o racismo. E quando eu falava das minhas músicas, sempre fui cortado. Me dói ainda saber que muita gente não é ouvida…isso sim me dói…”, desabafou.
Músico desde criança, o humorista afirmou que nos tempos de depressão quando inclusive foi salvo pela música. E que agora quer dar a volta por cima e superar o episódio traumático.
“Os meus trabalhos na internet tive que ficar off porque não conseguia mais mostrar a minha cara, não conseguia transmitir a alegria da mesma forma que eu sentia. Fiquei 2024 inteiro longe da internet pra focar na minha saúde mental e na minha cabeça. Esse ano estou decidido a voltar com tudo e estar presente. Voltar a fazer as pessoas sorrirem, que é algo que sei fazer muito bem”.
Condenação da idosa e do filho
Elisabeth Morrone e o filho fazem ameaças contra Eddy Júnior na noite de 18 de outubro, em condomínio da Barra Funda.
Reprodução/TV Globo
A sentença contra Elisabeth Morrone foi proferida pelo juiz Fernando Augusto Andrade Conceição, da 14ª Vara Criminal, em 26 de fevereiro.
Ela foi condenada a um ano e dois meses de prisão por injúria racial e a mais um mês e cinco dias por ameaça, ambas em regime aberto, além de receber uma multa. Seu filho, Marcos, foi sentenciado a dois meses de detenção, também em regime aberto, pelo crime de ameaça.
Em nota, a defesa de Elisabeth e Marcos contestou a decisão, alegando que o filho não poderia ter sido condenado. “Provamos nos autos que ele é incapaz, tem uma anomalia mental e sua mãe é sua curadora legal. Não houve um laudo adequado, o que configura nulidade processual. Ele não cometeu crime algum”, afirmou a defesa.
Sobre Elisabeth, o advogado José Beraldo argumentou que a cliente não usou termos racistas contra a vítima. “Ela não chamou esse senhor de ‘macaco’, disse ‘caco’, e temos um laudo pericial que foi ignorado pelo juiz. Além disso, ela já se mudou voluntariamente do apartamento.”
O advogado ainda criticou a condução do caso: “O que vimos foi uma verdadeira hostilidade. A vítima se vitimizou, ganhou visibilidade com isso e expôs Elisabeth e seu filho, que não cometeu injúria racial e não é racista. Vou demonstrar ao tribunal que houve erro judicial e já recorri da decisão.”
Fantástico traz imagens inéditas de agressões sofridas por Eddy Jr.
Câmera registra vizinhos com faca e garrafa na porta de humorista vítima de racismo em SP