Chico Buarque tem obra revisitada com refinamento tradicionalista em álbum de José Pedro Gil


Cantor português aborda onze músicas do repertório do compositor brasileiro em disco gravado entre Lisboa e São Paulo com arranjos do pianista Nelson Ayres. Capa do álbum ‘Trocando em miúdos – José Pedro Gil revisita Chico Buarque’
Divulgação
Resenha de álbum
Título: Trocando em miúdos – José Pedro Gil revisita Chico Buarque
Artista: José Pedro Gil
Edição: Biscoito Fino
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ Sete anos após o cantor português António Zambujo abordar o cancioneiro de Chico Buarque no álbum Até pensei que fosse minha (2016), a monumental obra do compositor carioca é revisitada por outra voz lusitana.
No mundo a partir de amanhã, 9 de agosto, em edição da gravadora Biscoito Fino, o álbum Trocando em miúdos – José Pedro Gil revisita Chico Buarque está ambientado na mesma linha clássica do songbook de Zambujo.
Trocando em miúdos ainda não é o disco que insere as composições de Chico em estética mais contemporânea para provocar outro olhar sobre a obra do artista. Nem por isso deixa de ser álbum requintado que flui bem.
Gravado entre incursões do artista português pela cidade de São Paulo e pelo estúdio Vale de Lobos, em Lisboa, sob direção musical do maestro e pianista Nelson Ayres, criador do arranjos, Trocando em miúdos encadeia onze músicas em atmosfera íntima.
Samba e amor (1970), por exemplo, reaparece como samba-canção ambientado em clima noturno, pontuado pelo sopro do saxofone de Teco Cardoso.
Das onze músicas, somente uma – Sem compromisso (Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro, 1944) – vem sem a assinatura de Chico Buarque, embora seja associada ao cantor desde que Chico gravou o samba no álbum Sinal fechado (1974).
E cabe ressaltar que é justamente em Sem compromisso que o disco de José Pedro Gil se revela menos sedutor. A gravação deixa a impressão de que o arranjo e o piano de Ayres gingam mais do que o canto do intérprete português. José Pedro Gil tampouco consegue imprimir a vibração exigida por outro samba do repertório, Quem te viu quem te vê (1966).
Em contrapartida, Tatuagem (Chico Buarque e Ruy Guerra, 1973) cola ao pé do ouvido com sensualidade. O intimismo da faixa reverbera em As minhas meninas (1987), música menos badalada de Chico Buarque, revivida pelo compositor no roteiro do show Que tal um samba? (2022 / 2023).
Se o violoncelo de Bob Suetholz sublinha o lirismo poético de Choro bandido (Edu Lobo e Chico Buarque, 1985), o piano preciso de Nelson Ayres assume o protagonismo nos arranjos de Eu te amo (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1980), Mar e lua (1980) e Maninha (1977), canção entoada por José Pedro Gil com a devida melancolia em dueto terno com Sofia de Castro Gil, filha do cantor.
Já a valsa João e Maria (Sivuca e Chico Buarque, 1977) tem o clima lúdico diluído em arranjo arrojado que evidencia o toque do baixo de Sidiel Vieira.
Por fim, a música-título Trocando em miúdos (Francis Hime e Chico Buarque, 1977) arremata o álbum em que José Pedro Gil revisita o cancioneiro de Chico Buarque com refinamento tradicionalista que se afina com a estética da obra (e com o gosto do público) do compositor brasileiro.
O pianista Nelson Ayres (à esquerda) é o diretor musical e arranjador do disco em que José Pedro Gil canta Chico Buarque
Mariana Carvalhaes / Divulgação

Adicionar aos favoritos o Link permanente.