Enquanto os foliões vão às ruas de todo o país, há quem aproveite os dias de folga para estreitar laços com amigos e se dedicar à espiritualidade. Guilherme participa da Busca da Visão, rito espiritual ancestral, no período do Carnaval
Arquivo pessoal
O período de Carnaval é conhecido principalmente pelas festas que arrastam foliões às ruas das cidades de todo o país. Mas há quem aproveite esses dias de formas diferentes: seja em retiros religiosos ou praticando um rito ancestral que envolve subir uma montanha e se conectar com sua espiritualidade.
Pela segunda vez, o fotógrafo Edvaldo Filho, de 26 anos, vai participar da Busca da Visão. Este ano, ele viajará para Planaltina (DF) a fim de vivenciar o rito herdado de povos indígenas, no qual os participantes jejuam em uma montanha e entram em “contato profundo com sua Essência e o Grande Espírito”.
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Praticante do universalismo, que tem influências da Umbanda, do xamanismo, do Santo Daime e da Jurema Sagrada, Edvaldo frequenta a Fraternidade Arco-Íris, em Teresina (PI). Durante um dos trabalhos realizados no terreiro, ele sentiu um chamado para fazer o rito pela primeira vez, o que aconteceu em 2023.
“A gente não escolhe a busca, ela é que escolhe a gente. Passei quatro dias sem comer, sem beber e sem falar na montanha. No quinto dia, pela manhã, a gente desce e faz a purificação, consagra o cachimbo que levou e diz qual foi a visão e a experiência que teve”, explica o fotógrafo.
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Rito herdado de povos indígenas envolve jejum, oração e subida à montanha
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Enquanto estão em meio ao jejum e à oração, os chamados “buscadores” atravessam quatro portais de energia, que possuem simbologia própria e representam diferentes aspectos da vida: o de quatro dias (humildade), sete dias (sinceridade), nove dias (união) e 13 dias (integridade, dignidade e sabedoria).
Assim como Edvaldo, o publicitário Guilherme Carvalho, de 32 anos, também já participou do rito de quatro dias da Busca da Visão e, agora, pretende atravessar o portal de sete dias em Planaltina. Seu interesse pelo rito surgiu graças ao relato de seu pai de santo na Fraternidade Arco-Íris.
“Meu espírito ansiava por aquilo, é um chamado ancestral. Para mim, esse está sendo um portal de crescimento pessoal e amadurecimento como homem. Quero receber meu propósito de criar minha família e honrar quem veio antes. A gente tem que ir com muito respeito, humildade e reverência à montanha sagrada porque é um lugar de cura e poder espiritual”, destacou Guilherme.
Aniversário e lembrança afetuosa
Brenna, à esq., e Bruna, à dir., comemoram aniversário em retiro de Carnaval
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A festa das gêmeas Brenna e Bruna Oliveira, de 23 anos, foi (literalmente) em dose dupla no Carnaval de 2013, quando o aniversário de dez anos das irmãs caiu durante o período de folia. Também foi a primeira vez que elas comemoraram a data no retiro Acamp da Aliança de Igrejas Cristãs Evangélicas do Brasil (Aiceb), instituição em que a família delas congrega em Teresina.
Além da coincidência, o primeiro acampamento delas foi especial por outro motivo: a mãe das meninas organizou uma surpresa para elas no meio do evento. Ela faleceu meses depois, em setembro daquele ano.
“Minha mãe foi visitar o acampamento e fez uma festa surpresa para nós. Foi a última vez que comemoramos ao lado dela, então foi um momento muito especial que guardo com muito carinho”, recorda a estudante de jornalismo Brenna.
Acampamento oferece estudos bíblicos, lazer e gincana para jovens evangélicos
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O retiro da Aiceb é composto por uma programação de três dias de estudos bíblicos, oficinas teológicas, música, esportes, lazer, noites temáticas e gincana. Quem participa pode escolher visitar o evento em um ou dois dias ou participar de todas as atividades – é o caso das gêmeas, que o frequentam anualmente.
Para a estudante de fisioterapia Bruna, o Acamp não é apenas um isolamento social, mas uma oportunidade para estreitar laços com os amigos e dedicar os dias da festa para a relação com Deus.
“Isso é o suprimento que muitas vezes nós, cristãos, deixamos de ter por conta de atividades cotidianas. Saímos de lá com a fé fortalecida”, observa Bruna.
Exemplo para os retirantes
Silvio quer ser exemplo para participantes de retiro que o marcou no Carnaval
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Quem também viveu fortes experiências no Carnaval foi o dono de loja de películas automotivas Silvio Cristian, de 35 anos. Ele atravessava um momento delicado de depressão no Réveillon de 2023 e decidiu mudar os rumos de sua vida. Hoje ele é um dos coordenadores do retiro católico que o ajudou a se reerguer.
Poucas horas depois de chegar à festa da virada, em José de Freitas (PI), ele afirma que recebeu uma mensagem de Deus para que deixasse o local. No dia seguinte, visitou um casal de amigos que participava do Retiro Novo Caminho, organizado pela Paróquia de Nossa Senhora do Livramento.
“Veio uma chama em mim e perguntei como era o retiro, liguei para um amigo que era coordenador e perguntei como funcionava. Ele me convidou para participar do retiro de 2024. Foi um turbilhão de informações, nunca tinha vivido aquilo. Não tem como explicar o que a gente vive lá”, relata Silvio.
A programação do retiro conta com palestras, gincana, momentos de oração, louvor, adoração, leitura da Bíblia, noite cultural e até um luau. Ao final do evento, que se encerra na Quarta-feira de Cinzas, os retirantes formam um grupo e participam de várias atividades ao longo do ano, como recitação do terço, quadrilha junina e sessão de cinema.
Meses antes da edição de 2025, Silvio recebeu alguns coordenadores em sua casa, que levaram um papel com um QR code. O empreendedor escaneou o código e se emocionou com a mensagem que dizia que ele havia sido escolhido para integrar a equipe de coordenação do retiro. Agora, ele quer ser um exemplo para os outros jovens.
“Esse ano a gente vai ter 74 jovens [participantes]. Vai ser uma experiência nova porque não sou mais retirante, mas coordenador. Tenho certeza de que vamos alcançar esses corações com dúvidas. Essa é a minha melhor escolha, estar mais próximo de Deus”, finaliza.
Retiro católico é opção para jovens que buscam oração e lazer no Carnaval
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