Galípolo diz que até Caetano Veloso perguntou sobre atas do Copom: ‘Tem uma arte por trás de escolher as palavras’


Presidente do BC relatou conversa com o cantor sobre dificuldades na comunicação do órgão com a sociedade. Para Galípolo, inflação ficará alta enquanto economia estiver aquecida. O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e Caetano Veloso; economista relatou conversa sobre atas do Copom com cantor
Adriano Machado/Reuters e Sérgio Lima/AFP
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, relatou nesta quarta-feira (12) uma conversa que teve com o cantor e compositor Caetano Veloso sobre a dificuldade de comunicação do órgão com a população.
Segundo Galípolo, o cantor o questionou sobre como é feita a redação das atas do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central – que são os relatórios que explicam os motivos que levaram o órgão a decidir pela redução, manutenção ou aumento da taxa básica de juros, a Selic.
Atualmente, a taxa Selic está em 13,25% ao ano, após quatro altas seguidas definidas pelo BC. Os aumentos de juros foram muito criticados nos últimos anos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Copom avalia que cenário de inflação segue adverso
“Esses dias, o Caetano Veloso, na genialidade dele, que é absolutamente plena, veio me perguntar de ‘forward guidance’ [indicações sobre decisões futuras para a taxa de juros] e redação de ata do Copom”, introduziu Galípolo.
“E eu comecei a falar para ele como é que são as escolhas das palavras. Ele falou: ‘então é que nem fazer poesia’. Eu falei que tenho certeza que as pessoas não tem o mesmo prazer lendo suas poesias do que a ata do Copom. Mas tem uma arte por trás de escolher as palavras ali [na ata do Copom]”, completou o presidente do BC.
Galípolo relatou a conversa com o cantor ao participar de um evento promovido pelo Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças (IEPE/CdG).
O presidente do BC estava falando sobre os desafios dos bancos centrais para se comunicar melhor com a população, e citou iniciativas de outras instituições ao redor do mundo, que se utilizam de redes sociais e até mesmo de “jingles”.
Inflação deve permanecer acima do teto, projeta Galípolo

No evento, Galípolo também declarou que a inflação tende a permanecer acima do teto do sistema de metas até que o processo de alta dos juros vá gerando desaceleração no ritmo de crescimento da economia brasileira.
Galípolo, que foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assumiu a Presidência do BC no início deste ano, momento no qual os diretores apontados pelo governo petista também passaram a ser maioria no Comitê de Política Monetária (Copom) — colegiado responsável pela definição da taxa básica de juros.
Segundo Galípolo, o Banco Central vai tomar o tempo necessário para ver se os dados confirmam uma tendência real de desaceleração da economia, e não somente volatilidade de dados de alta frequência, ou seja, os dados econômicos mais recentes, antes de tomar uma decisão de ter uma política mais suave para os juros.
“Nesse período, é natural conviver com inflação fora da meta e expectativa de atividade. É normal que vão surgir discussões como sempre sobre o patamar da taxa de juros”, declarou Gabriel Galípolo, do Banco Central, em evento promovido pelo Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças (IEPE/CdG).
Ao definir a taxa de juros, o Banco Central visa trazer as projeções de inflação para as metas pré-definidas, com objetivo central de 3%, e teto de 4,5%, nos próximos anos. Na última semana, as expectativas do mercado estavam bem acima das metas.
Crédito com juros mais baixos
Outro desafio para baixar a taxa de juros, citada pelo presidente do Banco Central, é melhorar os chamados “mecanismos de transmissão” das decisões sobre a taxa de juros. Ele observou que, existem, por exemplo, linhas de crédito com juros mais baixos (subsidiados) que obrigam o BC a ser mais agressivo na definição da taxa Selic, pelo fato de ela ter um impacto menor na economia.
“Como normaliza a politica monetária [de juros] para limpar canais de transmissão, dado que foram construídos mecanismos de reduzir a sensibilidade para diversos setores. O que vai demandando doses maiores ao remédio [juro alto]. E tem um setor que não tem uma proteção para esse remédio, que é o Tesouro Nacional. Esse paga [juro alto] na veia [o que aumenta a dívida pública]”, declarou Galípolo, do BC.
O crédito com juros subsidiados já havia sido apontado anteriormente pelo ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, entre os problemas que geram juros altos no Brasil. Para explicar esse fenômeno, ele recorreu ao argumento da “meia-entrada no cinema”.
Na última semana, o presidente Lula afirmou que o governo vai lançar, a partir da semana que vem, programas de ampliação de crédito para a população, mas não deu detalhes sobre as iniciativas.
“Nós temos alguns programas que vamos anunciar — eu não vou nem falar porque é surpresa. A partir da semana que vem a gente vai começar a anunciar alguns programas. Sabe por quê? Porque eu quero mais crédito para o povo”, disse, na ocasião.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.