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Fascinado por histórias de heróis quando criança, advogado agora compartilha com o filho o amor pelos quadrinhos e as visitas a uma das poucas bancas que ainda vendem as revistas em Teresina. Pai incentiva filho a cultivar paixão pelas HQs três décadas após ler primeira revista
Eric Souza/g1
Aos dez anos, em meados da década de 1990, João Eudes Júnior passou por uma banca de jornal na Praça do Fripisa, no Centro de Teresina, e descobriu um universo inexplorado nas páginas de uma revista em quadrinhos dedicada ao Super-Homem. Três décadas depois, ele continua a cultivar a paixão pelas HQs e incentiva o filho a trilhar o mesmo caminho que o deslumbrou quando criança.
📚💬 O Dia do Quadrinho Nacional é celebrado nesta quinta-feira (30). A data foi escolhida em homenagem à primeira história em quadrinhos do Brasil: “As Aventuras de Nhô-Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte”, do cartunista Ângelo Agostini, publicada em 1869.
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Fascinado pelas aventuras dos heróis, o hoje advogado João Eudes começou a separar o dinheiro do lanche da escola para comprar mais HQs. No início, guardava as revistas em uma gaveta no guarda-roupa, que logo ficou pequena para tantas histórias. A crescente coleção foi para um armário.
“As HQs de super-heróis foram a porta de entrada e o que consumi até os meados da adolescência. Com o tempo fui descobrindo que os quadrinhos eram realmente uma arte e que tinham outras ofertas com temáticas mais adultas. Hoje tem um quarto aqui em casa só para isso”, conta o advogado ao g1.
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A chegada do filho Bernardo Ramos, atualmente com nove anos, deu a João Eudes um parceiro em suas viagens ao mundo dos quadrinhos. A aproximação do garoto, segundo o pai, foi natural: além da coleção de HQs em casa, ele acompanhava as visitas rotineiras às bancas e até participava de eventos dedicados à nona arte.
Como grande parte das crianças brasileiras, Turma da Mônica não faltou ao repertório inicial de Bernardo. Logo depois, partiu para os quadrinhos japoneses – os mangás –, mas não abandonou completamente as obras nacionais: Arlindo, da ilustradora potiguar Luiza Souza, é um dos títulos que ele tem lido recentemente.
“Não forço ele a ficar lendo. Sempre quis que fosse algo espontâneo. Mas, ao ver a paixão que tenho, alguma coisa também despertou nele. Acho salutar para ele mesmo. Os quadrinhos desenvolvem o hábito da leitura, a imaginação, o senso crítico”, ressalta João Eudes.
Bernardo contou que a vivência com as histórias em quadrinhos tem sido inusitada. “Eu acho muito legal que você nunca sabe qual é a experiência, o sentimento que o quadrinho vai te passar”, afirmou o menino.
‘Banca vai existir até o fim do mundo’, aposta jornaleiro
Por trás de uma bancada, o jornaleiro Chagas Andrade observa pai e filho, clientes fiéis, passearem pelas prateleiras e analisando os títulos disponíveis em uma das poucas bancas que ainda vendem HQs em Teresina.
Em 1980, Chagas construiu a Banca São Cristóvão, na Zona Leste da capital, após morar alguns anos em São Paulo e no Rio de Janeiro e tentar o ganha-pão com um estabelecimento comercial. A ideia da banca surgiu devido ao ofício que ele exercia na juventude: vendedor de jornal.
“Na época, eu disse: ‘acho que a banca de revista é um produto que vai existir até o final do mundo’. No dia que o pessoal deixar de ler, pode preparar que o mundo vai se acabar”, comenta o jornaleiro.
Diante das edições de Turma da Mônica, Vingadores e Star Wars, Chagas atesta que os quadrinhos sempre foram o carro-chefe da banca. Ele garante que não apenas crianças e adolescente, como adultos também compram as revistas.
Já com 71 anos, o jornaleiro conta com a ajuda dos filhos e de um funcionário de longa data para administrar o local. Questionado sobre o futuro das bancas e do hábito da leitura – em declínio no país –, ele demonstra otimismo.
“Certeza que vai ter quadrinho para quem quiser comprar. Acho que agora vai melhorar, tem até lei para não usar celular nas escolas. Ler é uma opção melhor [para os alunos nos intervalos]”, completa Chagas.
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