Silva e Liniker diluem músicas de Djavan, Rita Lee e Gilberto Gil em EP ao vivo

Artistas lançam disco com registros genéricos de quatro números gravados em show feito pelo cantor em fevereiro no Rio de Janeiro. Capa do EP ‘Silva & Liniker’, de Silva e Liniker
Divulgação
Resenha de EP
Título: Silva & Liniker
Artistas: Silva e Liniker
Edição: Som Livre
Cotação: ★ ★
♪ Rita Lee (1947 – 2023) escondeu a dor e a melancolia da letra de Mutante (1981) atrás da animada batida tecnopop da gravação original dessa balada composta pela artista com o parceiro Roberto de Carvalho e apresentada por Rita no álbum Saúde (1981).
Até hoje Mutante passa como música alegre quando, a rigor, é canção triste. Ainda assim, cantar Mutante em clima de Carnaval – como fazem Silva e Liniker em um dos quatro números de show perpetuados em EP gravado ao vivo e lançado nesta sexta-feira, 22 de setembro, sem aviso prévio – é seguir o bloco na rua sem direção.
Editado via Som Livre, o EP Silva & Liniker soa genérico ao encadear lote de gravações extraídas de participação da cantora em apresentação do Bloco do Silva no Rio de Janeiro, em fevereiro deste ano de 2023. O encontro pode até ter feito sentido no show de espírito festivo, folião, mas não justifica edição em disco.
Com voz mais encorpada do que o canto suave de Silva, Liniker se mostra boa intérprete de músicas de lavras alheias. Nem por isso a diluição do requinte de Cigano (1989) – música composta por Djavan e apresentada pelo autor no mesmo álbum que trouxe a balada Oceano (1989) – deixar de saltar aos ouvidos no EP Silva & Liniker. Cigano também não é música para a folia.
O dueto terno dos cantores na balada Sorte (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos, 1985) – apresentada nas vozes de Gal Costa (1945 – 2022) e Caetano Veloso em álbum de Gal – ainda evolui com certa fluência em jogo de sedução exposto no registro audiovisual da faixa.
Barato total (Gilberto Gil, 1974), outra música lançada por Gal, também mostra dois cantores afinados e em sintonia vocal, mas sem toda a vivacidade exigida pela música.
Sejam mais ou menos fluentes, as quatro faixas evidenciam a trivialidade dos registros fonográficos do EP Silva & Liniker. É como se o dispensável disco soasse como a trilha sem propósito de Carnaval fora de época.