Malu Paris, influenciadora com surdez bilateral, tentou assistir ao sucesso brasileiro Ainda Estou aqui, mas não conseguiu devido aos desafios da acessibilidade nos cinemas. Influenciadora surda do ES reclama da acessibilidade em cinemas
A influenciadora Malu Paris, de 18 anos, não esconde a preferência pelo cinema nacional. Então, nada mais justo que assistir ao sucesso ‘Ainda Estou Aqui’, filme estrelado pela atriz Fernanda Torres e cotado à premiação do Oscar, numa telona de cinema, certo? Mas, no caso dela, a experiência expôs os desafios que pessoas com deficiência enfrentam quando o assunto é acessibilidade nos cinemas.
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A jovem é surda bilateral e oralizada, ou seja, sabe falar. Ela foi a um cinema em um shopping de Vila Velha, na Grande Vitória, no dia 22 de novembro. Ao pedir para colocar legenda na telona devido à deficiência, foi orientada a assistir ao filme com o auxílio de um aplicativo gerador de legendas disponibilizado pela empresa responsável pela sessão.
No entanto, a insatisfação de Malu é justamente por ter que gerenciar a atenção para ler as legendas no celular, geradas pelo aplicativo disponibilizado, e também olhar para a tela do cinema, onde estão sendo exibidas as imagens do longa-metragem.
O desabafo da experiência foi publicado no dia 26 de novembro (assista no início da reportagem). No vídeo, a jovem ainda enfatizou o quanto a comunidade surda é excluída do acesso à cultura.
“Essa é a acessibilidade que eles colocam só para dizer que tem. É uma péssima experiência para qualquer surdo. Não foi bom para mim, porque o filme é audiovisual. No caso de colocar o aplicativo aqui e o filme ali, separa o áudio do visual”, desabafou Malu.
A jovem destacou ainda que limitação enfrentada por pessoas com deficiência, as quais, assim como ela, são privadas do acesso à cultura.
“Brasileira não gosta de ouvir. Brasileiro gosta de falar e produzir, mas não se esforça para que suas falas e produções cheguem o mais longe possível. É assim que a comunidade surda é privada da cultura, da educação, da informação e várias outras coisas simplesmente por causa da falta de acessibilidade e acesso”, finalizou no vídeo.
Entre os comentários, os internautas demonstraram apoio à influencer. Alguns deles foram:
– ”Sinto muita falta de legenda em filmes dublados e brasileiros!”
– ”Eu fui à pré-estreia de ‘Ainda Estou Aqui ‘e senti muita falta de legenda por que tem partes do diálogo que simplesmente some, você não entende nada! Por favor, legendem os filmes mesmo sendo em PT.”
– ”Não sou surda, mas sou TEA/TDAH. Tenho dificuldade de assistir coisas sem legenda, porque minha cabeça processa texto muito melhor e mais rápido do que som. Isso deveria ser lei com filmes nacionais.”
Ao g1, a jovem explicou que decidiu ir ao cinema ver um filme brasileiro após muitos anos. Para ela, a falta de legendas é uma questão opcional das empresas responsáveis pelas sessões.
“As legendas são mandadas para os cinemas juntamente com o filme pelas distribuidoras, mas a escolha de não fornecer sessões acessíveis é monetária, já que não tem um público tão grande que consome legendado”, reclamou a influenciadora.
A jovem acrescentou ainda que costuma ir aos cinemas regularmente, mas não vai mais vezes por não encontrar opções que garantam acessibilidade e conforto.
“O ideal seria ter mais sessões com legendas para filmes dublados e nacionais, nos quais o idioma falado já é o português para que a comunidade surda tenha acesso ao conteúdo das falas. Em filmes estrangeiros, exibidos no idioma original, o recurso da legenda já é comum”, finalizou.
O que diz a legislação
A Lei 13.146/2015, também conhecida como Estatuto da pessoa com deficiência estabelece, no 6º parágrafo do artigo 44, que “as salas de cinema devem oferecer, em todas as sessões, recursos de acessibilidade para a pessoa com deficiência”. A legislação, no entanto, não especifica qual recurso deve ser usado.
Outro trecho lei, no artigo 43, assegura que a participação de pessoas com deficiência em jogos e atividades recreativas, esportivas, de lazer, culturais e artísticas, inclusive no sistema escolar, se dê em igualdade de condições com as demais pessoas.
A presidente da Associação de Pais e Amigos dos Surdos e Outras Deficiências (Apasod), Lourdilene Mozer, explicou que realmente faltam sessões com filmes legendados em português, inclusive os nacionais.
Segundo ela, é fundamental que as empresas de cinema disponibilizem as legendas, mesmo que não seja em todas as sessões.
“A legenda não atende só ao surdo profundo, mas atende todos os graus de perda auditiva, assim como autistas, pessoas com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), estrangeiros, pessoas com baixa visão, entre outros”, disse.
A legenda é democrática e filmes nacionais pecam por não terem mais sessões acessíveis com legenda. Não precisam ser todas as sessões legendadas, mas ter algumas opções de horário ao longo da semana”, afirmou a presidente da Apasod.
O que dizem as empresas de cinema
O g1 procurou a empresa de cinema responsável pela exibição do filme assistido por Malu.
Em nota, o Cinemark esclareceu que todos os filmes exibidos pela Rede possuem o recurso de acessibilidade via aplicativo exigido pela lei n° 13.145, de 2015, do Estatuto da Pessoa com Deficiência, e que está em vigor desde 2 de janeiro de 2023.
“Este foi o recurso apresentado à cliente, e a equipe do cinema sempre orienta sobre o uso dos aplicativos para aqueles que necessitam. A Rede informa ainda que a maioria dos filmes nacionais chegam aos cinemas sem legendas”, disse.
Outras redes que operam no Espírito Santo também foram procuradas, mas não responderam até a publicação desta reportagem.
No site institucional, a rede de cinemas Kinoplex, que tem uma unidade no Shopping Praia da Costa, também em Vila Velha, informou que também coloca como recurso de acessibilidade aplicativos de audiodescrição, entre eles, o criticado por Malu Paris no vídeo.
“Quem vai às sessões do Kinoplex conta com uma nova possibilidade inclusiva: viver a experiência do cinema com recursos de audiodescrição, legendas descritivas e LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais, em seu próprio celular. A novidade é fruto de uma parceria com a Iguale Comunicação de Acessibilidade, representante do aplicativo MovieReading, que pode ser baixado gratuitamente, em smartphones e tablets. Com o app instalado, é possível baixar o recurso desejado para o filme disponível no catálogo antes mesmo de sair de casa e, ao chegar à sessão do Kinoplex, é só ativar o recurso e a sincronização acontece automaticamente. E aí é só curtir o filme e se divertir à vontade”, diz o texto do Kinoplex.
O uso de aplicativos para acessibilidade também é a opção oferecida no Cinépolis, que tem uma unidade no Shopping Moxuara, em Cariacica, também na Grande Vitória.
“Para garantir que sua visita às salas Cinépolis seja plenamente acessível, existem aplicativos para smartphones e tablets desenvolvidos com o objetivo de oferecer uma experiência totalmente inclusiva. Esses aplicativos fornecem recursos de Audiodescrição, Legendagem Descritiva e LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais”, diz
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A influenciadora Malu Paris, de 18 anos, não esconde a preferência pelo cinema nacional. Então, nada mais justo que assistir ao sucesso ‘Ainda Estou Aqui’, filme estrelado pela atriz Fernanda Torres e cotado à premiação do Oscar, numa telona de cinema, certo? Mas, no caso dela, a experiência expôs os desafios que pessoas com deficiência enfrentam quando o assunto é acessibilidade nos cinemas.
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A jovem é surda bilateral e oralizada, ou seja, sabe falar. Ela foi a um cinema em um shopping de Vila Velha, na Grande Vitória, no dia 22 de novembro. Ao pedir para colocar legenda na telona devido à deficiência, foi orientada a assistir ao filme com o auxílio de um aplicativo gerador de legendas disponibilizado pela empresa responsável pela sessão.
No entanto, a insatisfação de Malu é justamente por ter que gerenciar a atenção para ler as legendas no celular, geradas pelo aplicativo disponibilizado, e também olhar para a tela do cinema, onde estão sendo exibidas as imagens do longa-metragem.
O desabafo da experiência foi publicado no dia 26 de novembro (assista no início da reportagem). No vídeo, a jovem ainda enfatizou o quanto a comunidade surda é excluída do acesso à cultura.
“Essa é a acessibilidade que eles colocam só para dizer que tem. É uma péssima experiência para qualquer surdo. Não foi bom para mim, porque o filme é audiovisual. No caso de colocar o aplicativo aqui e o filme ali, separa o áudio do visual”, desabafou Malu.
A jovem destacou ainda que limitação enfrentada por pessoas com deficiência, as quais, assim como ela, são privadas do acesso à cultura.
“Brasileira não gosta de ouvir. Brasileiro gosta de falar e produzir, mas não se esforça para que suas falas e produções cheguem o mais longe possível. É assim que a comunidade surda é privada da cultura, da educação, da informação e várias outras coisas simplesmente por causa da falta de acessibilidade e acesso”, finalizou no vídeo.
Entre os comentários, os internautas demonstraram apoio à influencer. Alguns deles foram:
– ”Sinto muita falta de legenda em filmes dublados e brasileiros!”
– ”Eu fui à pré-estreia de ‘Ainda Estou Aqui ‘e senti muita falta de legenda por que tem partes do diálogo que simplesmente some, você não entende nada! Por favor, legendem os filmes mesmo sendo em PT.”
– ”Não sou surda, mas sou TEA/TDAH. Tenho dificuldade de assistir coisas sem legenda, porque minha cabeça processa texto muito melhor e mais rápido do que som. Isso deveria ser lei com filmes nacionais.”
Ao g1, a jovem explicou que decidiu ir ao cinema ver um filme brasileiro após muitos anos. Para ela, a falta de legendas é uma questão opcional das empresas responsáveis pelas sessões.
“As legendas são mandadas para os cinemas juntamente com o filme pelas distribuidoras, mas a escolha de não fornecer sessões acessíveis é monetária, já que não tem um público tão grande que consome legendado”, reclamou a influenciadora.
A jovem acrescentou ainda que costuma ir aos cinemas regularmente, mas não vai mais vezes por não encontrar opções que garantam acessibilidade e conforto.
“O ideal seria ter mais sessões com legendas para filmes dublados e nacionais, nos quais o idioma falado já é o português para que a comunidade surda tenha acesso ao conteúdo das falas. Em filmes estrangeiros, exibidos no idioma original, o recurso da legenda já é comum”, finalizou.
O que diz a legislação
A Lei 13.146/2015, também conhecida como Estatuto da pessoa com deficiência estabelece, no 6º parágrafo do artigo 44, que “as salas de cinema devem oferecer, em todas as sessões, recursos de acessibilidade para a pessoa com deficiência”. A legislação, no entanto, não especifica qual recurso deve ser usado.
Outro trecho lei, no artigo 43, assegura que a participação de pessoas com deficiência em jogos e atividades recreativas, esportivas, de lazer, culturais e artísticas, inclusive no sistema escolar, se dê em igualdade de condições com as demais pessoas.
A presidente da Associação de Pais e Amigos dos Surdos e Outras Deficiências (Apasod), Lourdilene Mozer, explicou que realmente faltam sessões com filmes legendados em português, inclusive os nacionais.
Segundo ela, é fundamental que as empresas de cinema disponibilizem as legendas, mesmo que não seja em todas as sessões.
“A legenda não atende só ao surdo profundo, mas atende todos os graus de perda auditiva, assim como autistas, pessoas com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), estrangeiros, pessoas com baixa visão, entre outros”, disse.
A legenda é democrática e filmes nacionais pecam por não terem mais sessões acessíveis com legenda. Não precisam ser todas as sessões legendadas, mas ter algumas opções de horário ao longo da semana”, afirmou a presidente da Apasod.
O que dizem as empresas de cinema
O g1 procurou a empresa de cinema responsável pela exibição do filme assistido por Malu.
Em nota, o Cinemark esclareceu que todos os filmes exibidos pela Rede possuem o recurso de acessibilidade via aplicativo exigido pela lei n° 13.145, de 2015, do Estatuto da Pessoa com Deficiência, e que está em vigor desde 2 de janeiro de 2023.
“Este foi o recurso apresentado à cliente, e a equipe do cinema sempre orienta sobre o uso dos aplicativos para aqueles que necessitam. A Rede informa ainda que a maioria dos filmes nacionais chegam aos cinemas sem legendas”, disse.
Outras redes que operam no Espírito Santo também foram procuradas, mas não responderam até a publicação desta reportagem.
No site institucional, a rede de cinemas Kinoplex, que tem uma unidade no Shopping Praia da Costa, também em Vila Velha, informou que também coloca como recurso de acessibilidade aplicativos de audiodescrição, entre eles, o criticado por Malu Paris no vídeo.
“Quem vai às sessões do Kinoplex conta com uma nova possibilidade inclusiva: viver a experiência do cinema com recursos de audiodescrição, legendas descritivas e LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais, em seu próprio celular. A novidade é fruto de uma parceria com a Iguale Comunicação de Acessibilidade, representante do aplicativo MovieReading, que pode ser baixado gratuitamente, em smartphones e tablets. Com o app instalado, é possível baixar o recurso desejado para o filme disponível no catálogo antes mesmo de sair de casa e, ao chegar à sessão do Kinoplex, é só ativar o recurso e a sincronização acontece automaticamente. E aí é só curtir o filme e se divertir à vontade”, diz o texto do Kinoplex.
O uso de aplicativos para acessibilidade também é a opção oferecida no Cinépolis, que tem uma unidade no Shopping Moxuara, em Cariacica, também na Grande Vitória.
“Para garantir que sua visita às salas Cinépolis seja plenamente acessível, existem aplicativos para smartphones e tablets desenvolvidos com o objetivo de oferecer uma experiência totalmente inclusiva. Esses aplicativos fornecem recursos de Audiodescrição, Legendagem Descritiva e LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais”, diz
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