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Por ser na porta de uma unidade de saúde, o protesto precisa ser silencioso. Igor está internado em estado grave. Igor está internado em estado grave
Reprodução/TV Globo
Parentes e amigos iniciaram na tarde desta quarta-feira (26) um protesto silencioso na porta do Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, onde o universitário Igor Melo de Carvalho está internado em estado grave depois de ser baleado por um policial aposentado.
O intuito é pedir a prisão do policial militar Carlos Alberto de Jesus por tentativa de homicídio.
“A índole do meu primo é algo que nem precisa ser comprovado. Ele é querido, amado, isso nem é contestado. Admirado como profissional. Queremos justiça”, afirma o primo Pablo durante o protesto.
“A gente lutou pela inocência dele, a gente não tinha dúvidas. Agora, a gente quer o Carlos Alberto preso. O que ele fez foi tentativa de homicídio e também está envolvido aí um racismo estrutural escancarado. A bala acerta primeiro o corpo preto e Igor foi mais uma vítima disso”, disse Marina Moura, esposa do estudante.
O casal formado pelo PM da reserva e a mulher dele, Josilene da Silva Souza, acusa o motociclista de aplicativo Thiago Marques Gonçalves e o universitário Igor Melo de Carvalho, que estava na garupa, de roubo de celular. O PM da reserva admitiu a autoria dos disparos.
Marina contou que soube o que aconteceu com o marido por meio de uma ligação do dono da casa de sambas onde Igor trabalha como garçom. Inicialmente, ela não foi informada sobre a acusação de assalto.
“Eu fui surpreendida com uma ligação do sócio da casa de samba, ao qual devo mil agradecimentos por conta da assistência que está dando. Ele me ligou perguntando se eu tinha uma foto da identidade do Igor, e eu estranhei. Eu insisti para ele me falar o que estava acontecendo e ele me disse que o Igor tinha sido vítima de um assalto”, afirmou.
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Marina define o instante quando soube que Igor havia sido atingido como o momento em que seu mundo “desabou”. Internado, ele contou para a mulher que teve que pular de um viaduto depois de ser atingido para salvar a própria vida e se abrigou em uma casa.
A mulher de Igor disse que não tem previsão de alta e se encontra estável, apesar da gravidade do caso. Ele conversa e se encontra lúcido.
“Apesar da gravidade, ele se encontra bem. Ele perdeu o rim direito”, contou.
PM da reserva Carlos Alberto de Jesus
Henrique Coelho/g1
Thiago
O motociclista de aplicativo Thiago Marques Gonçalves diz que sente tristeza cada vez que pensa a situação de Igor no hospital e lembra que pulou um viaduto e um muro para escapar dos disparos.
“É uma mistura de sentimentos de tristeza e de angústia”, disse Thiago.
Ele definiu o momento em que a mulher do PM o reconheceu como um dos autores do roubo como “desesperador”.
“Até o momento, em que eu estava na delegacia, dentro da viatura, eu estava tranquilo. Na minha cabeça era: eu vou chegar lá, ela vai ver que não sou eu e tudo certo. Aí a primeira coisa que ela me diz é que sou eu. Eu nunca peguei nada de ninguém, que dirá roubar”, afirmou.
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O mototaxista disse que chegou a se ajoelhar.
“Eu ajoelhei para essa mulher e disse: ‘olha o meu rosto, me reconhece e vê que não sou eu’. E ela desviava o olhar, não queria olhar para mim”, contou.
Os policiais ainda vão analisar imagens de câmeras próximas para ver se alguma delas registra o assalto contra a mulher e avaliar a rota da moto pilotada por Thiago, que iria levar Igor para casa quando foram alvos dos disparos.