Em votações secretas, parlamentares também vão definir vices e secretários das Casas. Motta (Republicanos-PB) é o favorito para presidir a Câmara; Alcolumbre (União-AP), o Senado. Eleições no Congresso: Como será a sucessão de Lira e Pacheco?
Deputados e senadores vão eleger neste sábado (1º) os novos presidentes da Câmara e do Senado.
As votações serão secretas, seguindo regras da Constituição e internas de cada Casa. Os vencedores comandarão a Câmara e o Senado entre 2025 e 2027.
🗳️Os senadores serão os primeiros a definir – por meio de voto em cédula – quem irá ditar os trabalhos da Casa. A sessão para eleger o presidente do Senado, que acumula o cargo de chefe do Congresso Nacional, está marcada para as 10h.
Também serão escolhidos, em uma sessão imediatamente posterior, os novos vice-presidentes e secretários do Senado, que junto ao presidente, compõem o órgão responsável pela direção dos trabalhos legislativos da Casa.
🗳️A Câmara vai sacramentar o nome do novo presidente em uma sessão marcada para as 16h. Diferentemente do Senado, a Casa elege, de forma conjunta e em votação eletrônica, todos os outros cargos que fazem parte da Mesa Diretora — vice-presidentes e secretários.
As disputas pelos comandos das Casas não devem trazer surpresas e devem dar vitória, mais uma vez, a representantes do Centrão.
Candidatos de consenso e com apoios que vão da oposição ao governo, o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) esperam ser eleitos com ampla margem de votos. Eles enfrentarão candidaturas com poucas chances de vencer.
Hugo Motta e David Alcolumbre, favoritos na disputa pelas presidências da Câmara e do Senado, respectivamente
Fátima Meira/Enquadrar/Estadão Conteúdo; Edilson Rodrigues/Agência Senado
🔎No Senado, são necessários 41 votos favoráveis (maioria absoluta da composição da Casa) para se vencer a disputa já na primeira rodada de votação. Na Câmara, a eleição pode ser definida em primeiro turno se um candidato receber maioria absoluta dos votos — e não da composição.
As eleições para os comandos das Casas ditam quais serão os rumos dos trabalhos dos parlamentares pelos próximos anos.
Entre outras diversas atribuições, cabe aos presidentes do Senado e da Câmara definir qual será a agenda de votação nas Casas — o que pode impactar diretamente nos interesses do Palácio do Planalto. Eles também integram a linha sucessória da Presidência da República.
Para além disso, a construção de alianças e as articulações, que consolidaram o favoritismo de Alcolumbre e Motta, envolvem a distribuição de funções na direção das Casas e dos comandos das comissões temáticas no Congresso.
Ficar de fora do bloco de sustentação da candidatura vitoriosa pode tornar, na prática, um partido “invisível” nas decisões administrativas.
A volta de Alcolumbre
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o seu provável sucessor, Davi Alcolumbre (União-AP)
Roque de Sá/Agência Senado
Davi Alcolumbre é franco favorito a retornar ao posto de presidente do Senado desde que foi impedido de disputar a reeleição em 2020. Ele, que comandou a Casa entre 2019 e 2021, foi o principal fiador da eleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a função.
Fora dos holofotes da cadeira de presidente, o amapaense exerceu forte influência sobre a gestão de Pacheco.
O bom trânsito do senador com os pares fez dele figura constante nas articulações políticas, na distribuição de emendas ao Orçamento e na indicação de ministros e cargos em agências reguladoras.
O domínio de bastidor tornou a candidatura de Alcolumbre uma quase unanimidade.
“O Davi não é Davi, o Davi é o Golias”, disse Renan Calheiros (MDB-AL) ao desistir de disputar a presidência do Senado, em 2019, contra Davi Alcolumbre.
Para senadores, a frase, que foi proferida no calor de uma disputa que durou dois dias, nunca foi tão atual.
No Senado, cédulas com votos dos senadores serão depositadas em urnas que foram colocadas no plenário da Casa
Edilson Rodrigues/Agência Senado
O senador amapaense é apoiado por nove dos 12 partidos com representantes no Senado, além de três parlamentares do Podemos, sigla que liberou a bancada. O arco de aliança soma 76 senadores — quase 94% da Casa.
Outros quatro parlamentares protocolaram candidaturas: Marcos Pontes (PL-SP), a contragosto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de lideranças da oposição; Eduardo Girão (Novo-CE); Soraya Thronicke (Podemos-MS); e Marcos do Val (Podemos-ES).
Segundo as regras do Senado, novas candidaturas podem ser apresentadas até o primeiro candidato se pronunciar na sessão deste sábado. Os senadores poderão retirar seus nomes da disputa até o fim da fase de discursos.
A provável volta de Alcolumbre ao posto mais alto do Senado foi costurada por compromissos, junto a governistas e à oposição, em cargos e acenos em pautas para os dois lados.
Adversários ideológicos, PL e PT deverão ocupar, por exemplo, as vice-presidências do Senado.
A longo prazo, na avaliação de parlamentares, os acordos de Davi Alcolumbre devem garantir a ele a tão sonhada reeleição ao posto, em 2027, quando, em razão da posse de novos parlamentares, poderá se candidatar novamente.
Para isso, Alcolumbre terá de lidar com o cerco do Supremo Tribunal Federal (STF) às regras opacas de distribuição de emendas parlamentares ao Orçamento. Ao longo dos últimos anos, o controle do senador sobre esses recursos foi um dos principais fatores para o seu fortalecimento político.
O sucessor de Lira
Na foto, Hugo Motta (esquerda) e Arthur Lira (direita) durante evento em SP em 21 de outubro de 2024
ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Líder do Republicanos na Câmara, o deputado Hugo Motta deverá ser eleito com o apoio de um arco grande de alianças, que reúne quase todos os partidos da Casa: 18 siglas. As exceções são o PSOL e o Novo.
Herdeiro de uma família com tradição na política, Motta é avaliado pelos pares como um “típico” representante do Centrão.
O deputado, que poderá, aos 35 anos, ser o mais jovem presidente da Câmara, tem prometido equilíbrio e diálogo a governistas e opositores.
A candidatura do paraibano foi oficializada tardiamente, quando comparada com outras que se colocavam na disputa desde 2023. Com maior potencial para construir consenso, Hugo Motta foi escolhido pelo atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), como o seu candidato à sucessão.
De lá para cá, o deputado mergulhou em almoços, jantares e reuniões individuais e com bancadas partidárias e estaduais.
Os sucessivos anúncios de apoio ao paraibano estrangularam candidaturas de deputados há mais tempo no páreo: Antonio Brito (PSD-SP) e Elmar Nascimento (União-BA).
Neste sábado, com um estoque de apoios que somam 495 deputados, Hugo Motta vai enfrentar dois candidatos com poucas chances de êxito: Marcel van Hattem (Novo-RS); e Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ).
Deputados vão votar em cabines colocadas dentro e fora do plenário principal da Câmara
Kevin Lima/g1
Segundo cronograma anunciado por Lira, candidaturas poderão ser registradas até as 13h30 deste sábado.
Para assegurar a vitória, Motta tem fugido de polêmicas e defendido uma discussão política pragmática.
O deputado se comprometeu com cargos, garantiu a governistas que não será um adversário da gestão Lula e fez acenos a avanços de pautas defendidas pela oposição.
Também prometeu dar maior previsibilidade à agenda de votações e defender prerrogativas de deputados e o fortalecimento da Câmara — tema cada vez mais frequente nos corredores da Casa, que tem dado vitória a presidentes que funcionam quase como “sindicalistas”.
A busca pelo centro estampa a campanha de Hugo Motta, que recebeu como slogan a frase “Do lado do Brasil”.
“O Brasil precisa de união, de convergência de ideias e respeito à pluralidade. Vamos juntos gerar crescimento, desenvolvimento com justiça social, sempre priorizando o diálogo, a governança e o fortalecimento da atuação parlamentar. O fortalecimento, sobretudo, do Poder Legislativo”, diz peça publicitária divulgada pelo deputado nesta semana.