Israel foi acusado de colocar mulheres e meninas grávidas e no pós-parto em Gaza sob “perigo sério e, às vezes, fatal” ao longo de 15 meses de bombardeios e cerco, segundo um relatório publicado pela Human Rights Watch (HRW) nesta terça-feira.
Segundo informações obtidas pela CNN Internacional, pelo menos 56 crianças morreram de fome, afirmou Zahir Al-Wahidi, diretor de Sistemas de Informação do Ministério da Saúde de Gaza .
Outros oito bebês morreram de hipotermia, relatou a agência infantil da ONU em janeiro.
O documento, intitulado “’Cinco bebês em uma incubadora’: violações dos direitos das mulheres grávidas em meio ao ataque de Israel a Gaza”, tem 50 páginas e foi elaborado pela organização sediada nos Estados Unidos.
Ele destaca ataques a instalações médicas e a profissionais de saúde em Gaza, que “prejudicaram diretamente mulheres e meninas durante a gravidez, o parto e o período pós-parto”. Segundo o relatório, o cerco aumentou o risco de aborto espontâneo, parto prematuro, natimorto, hemorragia pós-parto e nascimento de bebês abaixo do peso.
A HRW acusou Israel de impor um bloqueio ilegal, proibições quase totais ao acesso a água, alimentos e eletricidade, e de usar a fome como método de guerra. O grupo também denuncia ataques ao sistema médico e repetidas transferências forçadas, o que viola o direito de acompanhamento e cuidados pós-natais para mulheres e meninas grávidas e seus filhos.
De acordo com o relatório, Israel é “obrigado a usar todos os recursos à sua disposição para garantir que todos em Gaza, incluindo mulheres grávidas, meninas e seus filhos, possam desfrutar de seu direito humano à saúde”. Isso inclui restaurar completamente o sistema de saúde de Gaza para que pacientes, incluindo mulheres grávidas e bebês, tenham acesso a cuidados médicos adequados.
A organização repetiu as acusações de que Israel estaria cometendo genocídio contra palestinos em Gaza, algo que o governo israelense nega veementemente. Israel também enfrenta acusações de genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ).
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, pelo menos 47.306 palestinos foram mortos, incluindo 12.316 mulheres e 808 bebês com menos de um ano, conforme relatado pelo Escritório de Mídia do Governo de Gaza (GMO) em 24 de janeiro.
Bebês morrendo “na nossa frente”
A Human Rights Watch afirmou que mais de 1.054 profissionais de saúde foram mortos, incluindo seis pediatras e cinco obstetras-ginecologistas. Em janeiro, cuidados obstétricos e neonatais de emergência estavam disponíveis apenas em sete dos 18 hospitais parcialmente funcionais em Gaza, além de quatro dos 11 hospitais de campanha e um centro de saúde comunitário.
A Federação Internacional de Planejamento Familiar relatou um aumento de 300% na taxa de abortos espontâneos em Gaza desde outubro de 2023. Duas mulheres palestinas disseram à HRW que seus fetos morreram após serem feridos por ataques com armas explosivas que também mataram seus parceiros.
Nos hospitais, mesmo quem consegue chegar encontra pouco alívio. Mulheres são frequentemente “apressadas para fora” horas após o parto, pois a equipe está sobrecarregada com dezenas de pacientes feridos pelos bombardeios, relatou a HRW.
A HRW destacou que o estresse de sobreviver aos ataques, aliado à escassez de alimentos e água, enfraquece o sistema imunológico das grávidas, prejudica o feto e leva ao parto prematuro.
Escassez e sofrimento em campos de deslocados
A escassez de materiais antibacterianos aumenta os riscos de sepse, pneumonia e meningite entre recém-nascidos, de acordo com Maram Al Shurafa, trabalhadora humanitária da ONG Medical Aid for Palestinians (MAP) em Gaza.
Mais de 48.000 mulheres grávidas enfrentam insegurança alimentar severa ou catastrófica, segundo a agência de direitos reprodutivos da ONU.
Interrupções nas comunicações dificultam o acesso às linhas diretas de apoio e às informações online, enquanto cortes de energia afetam ultrassons e exames laboratoriais. Rahaf Umm Khaled, de 21 anos, que está grávida de quatro meses, desmaiou ao chegar ao Hospital Al Awda devido à exaustão e desnutrição. “Tudo é escasso”, lamentou ela. “Quero que a guerra acabe completamente. Quero dar à luz meu filho com boa saúde e voltar para nossa casa com segurança.”