Em 2024, as vendas para o Brasil foram as que mais aumentaram na balança comercial chinesa. O governo da China disse que a alta foi de 22% na comparação com 2023. O Brasil lidera o ranking de países que mais aumentaram as importações de produtos chineses em 2024.
O “made in China” ou “feito na China” está por toda parte. Uma prateleira das mais variadas.
“O ‘made in China”, um produto de uma qualidade inferior, esse conceito basicamente se perdeu. A complexidade dos produtos chineses, a tecnologia, a automação, tudo que a China tem desenvolvido, isso mudou completamente de uns tempos para cá”, diz Thiago Codogno, diretor comercial.
A empresa em que o Thiago trabalha ajuda empresários brasileiros a fechar negócio com fornecedores chineses. Uma ponte que atravessa barreiras – culturais, do idioma e até do fuso. No escritório em Santos, perto do porto, parte da equipe madruga para evitar desencontros com quem está onze horas à frente. Do lado de lá, também há ajustes.
“Eles querem te vender. E eles vão te servir da melhor maneira para vender para você, seja com as nomenclaturas, os nomes deles, que são nomes mais comerciais – como Jack, como James -, como também tempo de resposta muito rápido. Dá o que você quer de uma forma muito objetiva. Preços que são realmente preços consideravelmente mais baixos”, afirma Thiago Codogno.
Nem o tempo, nem o custo para vencer a distância impediram que a China se aproximasse dos importadores brasileiros. Em 2024, as vendas para o Brasil foram as que mais aumentaram na balança comercial chinesa. O governo da China disse que a alta foi de 22% em comparação com 2023. Um número que reforça a importância estratégica do Brasil na guerra comercial entre China e Estados Unidos.
China anuncia o maior superávit de uma balança comercial que o mundo já viu: quase US$ 1 trilhão
A China produz quase um terço dos bens manufaturados do mundo. É muito mais do que o mercado interno do país consegue absorver. A exportação é chave para a economia chinesa. Por isso, é um golpe duro para a China a proposta do presidente eleito Donald Trump de aumentar as tarifas para entrada de produtos chineses nos Estados Unidos. Especialistas em comércio exterior dizem que, prevendo esse cenário, os chineses encontraram em outros países um mercado consumidor importante. É o caso do Brasil.
“Sem dúvida que o Brasil é um parceiro de primeira linha para os chineses. Eles já vêm participando aqui de projetos, construção civil, infraestrutura, 5G, os trens do metrô… Ele está olhando não apenas para produção interna dele, ele está olhando para onde o dinheiro chinês pode ser alocado para produzir resultados para esses investidores”, afirma Francisco Américo Cassano, consultor de comércio exterior.
Brasil lidera ranking de países que mais aumentaram as importações de produtos chineses em 2024
Jornal Nacional/ Reprodução
O professor de Relações Internacionais Leonardo Trevisan diz que o Brasil pode sair ganhando na disputa entre China e Estados Unidos pela liderança global.
“A China descobriu um segundo fator: junto com o comércio vem poder político. Eles têm um projeto bastante acabado de presença geoeconômica e presença geopolítica na América Latina. O Brasil faz parte desse projeto. E, ao contrário do que nós pensamos, isso é bom para o Brasil. O Brasil não precisa fazer uma escolha entre ser dos Estados Unidos ou ser da China. O Brasil pode jogar com os dois, como tem feito, e atender, na melhor forma possível, os nossos interesses, os interesses nacionais”, explica Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM.
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